A Argentina escolheu neste domingo (19/11) seu próximo presidente, com o economista libertário Javier Milei vencendo o ministro da Economia do atual governo peronista, Sergio Massa, que reconheceu a derrota para o adversário, mesmo antes da divulgação oficial dos resultados.
A votação ocorreu em clima tranquilo e as urnas fecham às 18h hora local (18h de Brasília). A expectativa é que os resultados mais completos seja divulgados a partir das 21h.
Milei, que ingressou na política em 2021 com um novo partido (A Liberdade Avança), pelo qual conseguiu se eleger deputado, surpreendeu com uma liderança inesperada nas primárias de agosto passado, quando ficou em primeiro lugar por ampla margem.
Apesar de ter sido superado por Massa no primeiro turno, o economista confirmou uma vitória com uma vantagem maior do que a antecipada pela maioria das pesquisas de opinião.
Milei, que ingressou na política em 2021 com um novo partido (A Liberdade Avança), pelo qual conseguiu se eleger deputado, surpreendeu com uma liderança inesperada nas primárias de agosto passado, quando ficou em primeiro lugar por ampla margem.
Milei vai encontrar uma economia em estado crítico, com uma inflação interanual que ultrapassou 142% em outubro e níveis de pobreza que atingem mais de 40% da população (e 56% nas crianças menores de 14 anos).
A isso soma-se o fato de os cofres do Banco Central estarem vazios, as contas públicas no vermelho e o país ser o principal credor do Fundo Monetário Internacional (FMI), ao qual deve pagar pelo empréstimo de US$ 44 bilhões (R$ 213 bilhões, em valores atuais) contraído em 2018 durante o governo de Mauricio Macri (2015-2019).
O presidente eleito propõe cortar drasticamente os gastos públicos, dolarizar a economia e fechar o Banco Central, e definiu o atual governo como uma "casta política parasitária" e o peso como "excremento" (aprofundando, segundo seus críticos, a turbulência financeira do país).
Quem é Javier Milei?
Economista e amante de cães, Javier Milei, de 53 anos, abalou as eleições com propostas radicais como dolarizar a economia, privatizar empresas estatais públicas e fechar ("dinamitar", em suas próprias palavras) o Banco Central.
Tendo sido o mais votado nas primárias de agosto, havia a expectativa de que ele poderia vencer no primeiro turno — mas Milei não só não conseguiu tal feito, como ficou em segundo lugar, atrás de Massa.
Durante sua campanha, lançou ideias polêmicas como permitir o porte de armas na Argentina e a venda de órgãos, e criticou a educação e a saúde pública.
Porém, durante a campanha do segundo turno, Milei optou por suavizar o tom em suas posições mais extremas.
Ele também gerou polêmica ao criticar duramente o papa Francisco (a quem acusa de apoiar o comunismo), ao se manifestar contra a legalização do aborto e ao relativizar a violência militar durante a ditadura.
Mas a sua crítica direta aos setores tradicionais da política argentina, a quem ele depreciativamente chama de "a casta", foi o que o levou a se conectar com os eleitores mais jovens, insatisfeitos com o atual estado das coisas no país.
Milei foi comparado a outros políticos de direita, como o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump e o ex-presidente do Brasil Jair Bolsonaro (PL).
"Conseguimos construir esta alternativa competitiva que não só acabará com o kirchnerismo, mas também acabará com a casta política parasitária estúpida e inútil que existe neste país", afirmou ele, com o tom beligerante que o caracteriza.
Milei, que entrou na política há dois anos após se tornar famoso como comentarista econômico na TV, entrou na corrida presidencial com um novo e disruptivo discurso, que define como libertário e anarcocapitalista, e procura assim ser o primeiro economista a chegar à Casa Rosada.
Não se trata de algo menor para um país que era um dos mais ricos do mundo, mas que há anos registra uma inflação galopante — estimativas apontam que 40% da população vivem abaixo da linha da pobreza.
Em alguns eleitores, sua figura gera medo e rejeição porque o acusam de ser incendiário, beligerante e perigoso.
No entanto, Milei consegue captar o voto dos mais insatisfeitos com décadas de crise no país.
"Ele conseguiu capturar o tédio dos que estão no topo, dos que estão na base, dos que estão no meio, das crianças, dos adultos, o cansaço de todos", diz Juan Carlos de Pablo, economista da Universidade de San Andrés e amigo de Milei há mais de 30 anos.
O que mostravam as sondagens
Embora Massa tenha conseguido quase sete pontos percentuais a mais do que Milei no primeiro turno, o governista jamais teve vitória assegurada no segundo turno, uma vez que muitos votos terão que ser repensados e distribuídos entre os dois candidatos.
Pouco após ficar de fora do segundo turno, Patricia Bullrich, que ficou em terceiro lugar no dia 22 de outubro com quase 24% dos votos, apoiou a candidatura de Milei, com quem teve duros entreveros durante a corrida presidencial.
O ex-presidente Mauricio Macri também pediu aos eleitores do Juntos pela Mudança que votassem em Milei, uma decisão que fragmentou aquela coligação de centro-direita, também formada pela UCR, que defendia o voto em branco.
O ex-presidente argentino disse que Milei não tem representantes suficientes no Congresso para aprovar muitas das suas propostas mais extremas e apelou ao voto nele para "libertar e tornar a Argentina transparente".
Juan Schiaretti, que ficou em quarto lugar, com quase 7% dos votos, não tomou partido, embora tenha deixado claro que considera Massa um kirchnerista, o que muitos interpretaram como uma crítica à sua candidatura.
Porém, alguns setores do peronismo e do socialismo que o apoiaram no primeiro turno anunciaram que apoiarão o candidato oficial.
Durante um debate presidencial no domingo passado (12/11), Massa parecia confiante e encurralou seu rival de direita, que passou grande parte do tempo se defendendo dos ataques políticos e pessoais do peronista.
No entanto, os apoiadores do economista destacaram que a troca mostrou que Milei é um outsider, com pouca experiência política, ao contrário de Massa, que é um político profissional e "fez parte da casta durante toda a vida".
Enquanto Milei defende um papel mínimo, quase inexistente, do Estado, Massa é o representante de um Estado forte.
E isso pode ser um fator-chave num país onde existem muitos funcionários públicos e programas de assistência social dos quais depende mais de metade da população.
"No dia 19 de novembro, temos que definir se construímos um país que abrace a todos ou o país do 'cada um por si'", defendeu Massa.
Por sua vez, Milei procurou moderar o seu discurso para atrair eleitores de centro-direita, assustados com algumas das suas propostas mais extremas.
"Dois terços dos argentinos votaram por uma mudança. Votaram por uma alternativa a este governo de criminosos que quer hipotecar nosso futuro para permanecer no poder", disse Milei após o primeiro turno.
"Todos nós que queremos mudanças devemos trabalhar juntos. Se trabalharmos juntos podemos vencer, podemos impedir que os nossos filhos deixem o país, podemos acabar com a corrupção, podemos acabar com os privilégios da casta política", acrescentou o agora presidente eleito.