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Javier Milei vence na Argentina e promete soluções 'drásticas' para crise do país

Sem maioria firme no Parlamento, economista que se define como libertário promete guinada econômica no país, que enfrenta escalada da inflação.

19 nov 2023 - 20h30
(atualizado em 20/11/2023 às 00h48)
Milei acena para apoiadores após confirmação da vitória
Milei acena para apoiadores após confirmação da vitória
Foto: Reuters / BBC News Brasil

O economista libertário Javier Milei, de 53 anos, venceu o peronista Sergio Massa no segundo turno da eleição presidencial argentina e será o novo presidente do país vizinho pelos próximos quatro anos.

Com mais de 98% dos votos apurados, Milei tinha 55,75%, uma vantagem de 11,5 pontos percentuais sobre o rival neste domingo (19/11), uma diferença maior do que a projetada pela maioria das pesquisas de opinião.

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"Hoje começa o fim da decadência da Argentina", discursou o presidente eleito, que prometeu também iniciar "a reconstrução" do país.

"Basta do modelo empobrecedor da casta e voltemos a abraçar o modelo da liberdade para voltar a ser uma potência mundial", disse Milei, que estimou em 35 anos o tempo necessário para a Argentina voltar a prosperar.

"A situação da Argentina é crítica e as soluções (necessárias), drásticas", seguiu no discurso, que encerrou repetindo várias vezes o bordão de sua campanha: "Viva la libertad (viva a liberdade, em português)!", seguido de um palavrão.

Em suas primeiras palavras como presidente eleito, Milei fez questão de agradecer ao ex-presidente Mauricio Macri, que declarou voto a ele no segundo turno, ao lado da terceira colocada na disputa, Patricia Bullrich.

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O apoio de ambos, que integram a oposição tradicional ao peronismo, foi considerado um dos fatores importantes para sua vitória.

Como não conta com maioria no Congresso, Milei precisará do apoio da bancada macrista para aprovar projetos importantes.

O economista toma posse no cargo já no próximo dia 10 de dezembro e, além da situação frágil no Congresso, terá os sindicatos e movimentos sociais como fortes pilares de oposição a seu projeto.

Um pouco mais de 44% do país votou por Massa, que reconheceu a derrota mesmo antes dos resultados oficiais, tudo isso num contexto com inflação galopante, quase metade da população na pobreza.

Depois de uma campanha em que Brasil se tornou um tema frequente no vizinho, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, comentou os resultados na Argentina sem, no entanto, mencionar nominalmente Milei.

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O eleito argentino já chamou Lula de "corrupto" e "comunista" e prometeu não ter relações próximas com o brasileiro.

"Desejo boa sorte e êxito ao novo governo. A Argentina é um grande país e merece todo o nosso respeito. O Brasil sempre estará à disposição para trabalhar junto com nossos irmãos argentinos", escreveu Lula no X, antigo Twitter.

Lula acrescentou que "a democracia é a voz do povo, e ela deve ser sempre respeitada".

Massa era o candidato preferido pelo governo Lula, mas analistas e diplomatas já afirmam à BBC News Brasil que não se deve esperar uma ruptura profunda na relação entre os países com a chegada de Milei à Casa Rosada. Um dos motivos é a interdependência econômica entre Brasil e Argentina.

Apoiadores de Milei perto do comitê de campanha do candidato neste domingo de segundo turno
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Quem é Javier Milei

Milei ingressou na política apenas há dois anos com um novo partido, chamado A Liberdade Avança, e se define como anarcocapitalista, uma corrente que defende um papel mínimo para o Estado.

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Ele conseguiu se eleger deputado em 2021 e surpreendeu quando ficou em primeiro lugar por ampla margem nas primárias de agosto passado, quando os partidos definem seus candidatos, mas que servem como termômetro para as eleições.

Milei fez campanha com a promessa de adotar soluções radicais para um quadro econômico em estado crítico, com uma inflação interanual que ultrapassou 142% em outubro e níveis de pobreza que atingem mais de 40% da população (e 56% nas crianças menores de 14 anos).

A isso soma-se o fato de os cofres do Banco Central estarem vazios, as contas públicas no vermelho e o país ser o principal credor do Fundo Monetário Internacional (FMI), ao qual deve pagar pelo empréstimo de US$ 44 bilhões (R$ 213 bilhões, em valores atuais) contraído em 2018 durante o governo de Mauricio Macri (2015-2019).

O presidente eleito, por sua vez, quer cortar drasticamente os gastos públicos, dolarizar a economia e fechar o Banco Central, e definiu o atual governo como uma "casta política parasitária" e o peso como "excremento" (aprofundando, segundo seus críticos, a turbulência financeira do país).

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Tendo sido o mais votado nas primárias de agosto, havia a expectativa de que ele poderia vencer no primeiro turno — mas Milei não só não conseguiu tal feito, como ficou em segundo lugar, atrás de Massa.

Durante sua campanha, lançou ideias polêmicas como permitir o porte de armas na Argentina e a venda de órgãos, e criticou a educação e a saúde pública.

Ele também gerou controvérsia ao criticar duramente o papa Francisco (a quem acusa de apoiar o comunismo), ao se manifestar contra a legalização do aborto e ao relativizar a violência militar durante a ditadura.

Porém, durante nas semanas prévias ao segundo turno, Milei optou por suavizar o tom em suas posições mais extremas.

Por isso, agora todos os holofotes se voltam para sua composição de governo, especialmente para o nome que escolherá para a pasta da Economia.

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O candidato Javier Milei após votar neste domingo em Buenos Aires
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Por que Milei ganhou

Milei, que se apresentou ontem como o primeiro presidente libertário da história, foi comparado por alguns analistas a líderes tidos como integrantes de um movimento global de "direita antipolítica", como o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump e o ex-presidente do Brasil Jair Bolsonaro (PL).

Tanto Trump como Bolsonaro, ambos já elogiados por Milei, felicitaram o argentino neste domingo.

Entre alguns eleitores, sua figura gerou medo e rejeição porque o acusam de ser incendiário e perigoso. Mas a sua crítica direta aos setores tradicionais da política argentina, a quem ele depreciativamente chama de "a casta", foi o que o levou a se conectar com os eleitores mais jovens, insatisfeitos com o atual estado das coisas no país.

"Conseguimos construir esta alternativa competitiva que não só acabará com o kirchnerismo, mas também acabará com a casta política parasitária estúpida e inútil que existe neste país", discursou ele, com o tom beligerante que o caracteriza.

Para Juan Carlos de Pablo, economista da Universidade de San Andrés e amigo de Milei há mais de 30 anos, Milei "conseguiu capturar o tédio dos que estão no topo, dos que estão na base, dos que estão no meio, das crianças, dos adultos, o cansaço de todos".

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