O juiz americano Thomas Griesa, árbitro da disputa entre a Argentina e os fundos de investimento, convocou para esta sexta-feira uma nova reunião sobre o impasse. O encontro será a primeira chance de Buenos Aires sair da situação de calote técnico, na qual entrou na quarta-feira.
A Argentina precisa chegar a um acordo com os cerca de 10% de investidores que não aderiram aos planos de reestruturação da dívida contraída antes do calote de 2001. Sem um entendimento, o país não pode continuar pagando as parcelas dos credores que aceitaram renegociar os débitos.
Segundo o jornal Wall Street Journal, na mesa nesta sexta-feira estará a proposta do banco JP Morgan de comprar 100% dos títulos dos fundos litigantes. A instituição não cobraria a Argentina na Justiça, o que permitiria que o país pagasse a parcela das dúvidas reestruturadas e saísse do calote.
O ministro da Economia da Argentina, Axel Kicillof, nega que a Argentina tenha dado mais um calote. O dinheiro dos credores, argumenta, foi depositado, mas está bloqueado pela Justiça americana. Na quarta-feira, após o encontro em Nova York, ele não descartou que uma solução seja alcançada por "terceiros". A reunião desta sexta-feira começa às 12h (horário de Brasília).
Nesta quinta-feira, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu novas discussões sobre o caso argentino e suas implicações, um problema, segundo ele, importante para "todos os países-membros".
Ele pediu ainda que tanto o Fundo Monetário Internacional (FMI) quanto a Organização dos Estados Americanos (OEA), a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e o Mercosul se pronunciem a respeito. A Standard & Poor's declarou, na quarta-feira, parte da dívida da Argentina em calote seletivo.
Entenda o caso
A Argentina negociou em Nova York com os fundos de investimento – chamados de "abutres" pelo governo em Buenos Aires – que não aceitaram as propostas de reestruturação da dívida feitas pelo governo argentino entre 2005 e 2010 e ainda detêm títulos da dívida antiga, anterior ao calote de 2001.
Esses fundos recorreram à Justiça de Nova York para receber o valor integral dos papéis, algo em torno de US$ 1,3 bilhão. O governo argentino argumenta que não pode pagá-los porque títulos da dívida reestruturada contêm a chamada cláusula Rufo, que, até o fim deste ano, impede acertar com credores um acordo melhor do que o obtido pelos que concordaram com a reestruturação.
O problema não estava em quitar a dívida de US$ 1,3 bilhão, mas sim no que poderia acontecer caso Buenos Aires o fizesse. Outros credores antigos que concordaram em abrir mão de boa parte do dinheiro a que teriam direito poderiam, agora, reivindicar que também querem receber a dívida na íntegra. Isso colocaria a economia argentina na berlinda: são no total US$ 120 bilhões em obrigações, o que quebraria novamente os cofres do país.