As taxas dos DIs fecharam a quarta-feira com avanços consistentes, refletindo comentários do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a meta de inflação, além da alta dos rendimentos dos Treasuries no exterior, após a divulgação da ata do último encontro de política monetária do Federal Reserve.
No fim da tarde, a taxa do Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,4%, ante 10,356% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 10,78%, ante 10,654% do ajuste anterior.
A taxa para janeiro de 2027 estava em 11,15%, ante 11,004%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 11,445%, ante 11,295%. O contrato para janeiro de 2031 marcava 11,83%, ante 11,695%.
A pressão de alta para a curva de juros brasileira foi percebida desde o início da sessão, em meio à expectativa antes da divulgação da ata do Fed à tarde, com investidores em busca de pistas sobre quando o corte de juros nos EUA começará. As taxas dos DIs subiam no Brasil, em sintonia com o avanço dos yields dos Treasuries.
Internamente, as atenções se voltaram para a participação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na sessão da Comissão da Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados. Ao responder questionamentos de deputados por horas, Haddad tratou de assuntos como a política monetária brasileira, o controle da inflação e o equilíbrio fiscal.
Profissional ouvido pela Reuters pontuou que, especificamente, comentários de Haddad sobre a meta de inflação trouxeram pressão para os juros futuros. O ministro defendeu que a meta de 3% "é ousada para o histórico do Brasil", e disse que se o objetivo é perseguir este parâmetro é preciso "abrir este debate".
Haddad também afirmou que não há "nada desancorando" em relação à inflação no Brasil e disse que a queda dos índices de preços é "mais dramática" do que o Banco Central reconhece.
"Se você desconsidera a questão de desoneração de combustível, e verifica a curva de queda da inflação, a queda da inflação é mais dramática que o próprio Banco Central reconhece", afirmou Haddad. "Eu estou falando isso para estimular o BC a olhar a inflação corrente por este prisma, e verificar que não tem nada desancorando. Não tem", acrescentou.
Influenciada pelo avanço dos yields e pela fala de Haddad, a alta das taxas dos DIs ganhou novo fôlego com a divulgação da ata do último encontro do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Fed, às 15h.
No documento, os membros do Fed repetiram mensagens divulgadas anteriormente, como a avaliação de que levará mais tempo que o esperado para haver confiança de que a inflação dos EUA está se movimento para 2%. Além disso, a ata informou que vários participantes mencionaram a disposição de apertar a política monetária caso a inflação piore.
Em reação, os rendimentos dos Treasuries aceleraram os ganhos, assim como as taxas dos DIs.
"Desde a divulgação do CPI (índice de preços ao consumidor dos EUA) na semana passada, o mercado vinha inclinado para um cenário mais positivo de corte de juros em 2024", pontuou Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, em análise encaminhada a clientes.
"A gente tem aí talvez um pouquinho de correção no mercado do excesso de otimismo desde a divulgação deste CPI, porque de certa maneira a ata não abre nenhum novo debate dentro do mercado financeiro", acrescentou, em referência à reação dos ativos.
No Brasil, a pressão de alta das taxas foi percebida principalmente entre os contratos a partir de janeiro de 2026. No curtíssimo prazo a elevação foi menos intensa, ainda que a precificação siga indicando que o BC pode já ter encerrado o ciclo de cortes da taxa básica Selic.
Perto do fechamento a precificação da curva a termo indicava 81% de chances de manutenção da Selic em 10,50% ao ano em junho, contra 19% de probabilidade de corte de 25 pontos-base. Na véspera, os percentuais eram de 70% e 30%, respectivamente. Em 13 de maio, antes da ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, a relação era de 47% para manutenção contra 53% para corte.
"Após a divulgação da ata (do Fed), o que se viu foi uma clara reação de aversão a risco: bolsas para baixo, dólar e juros para cima. Além disso, a chance de um único corte de 25 bps acontecer até o final do ano voltou a ser majoritária", disse Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos, em análise a clientes.
"Um Fed mais cauteloso e uma precificação de menos cortes nos EUA podem corroborar com a visão de que o fim do ciclo de cortes na taxa Selic se aproxima", acrescentou.
Às 16h37, o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- subia 2 pontos-base, a 4,43%.
(Edição de Pedro Fonseca)