O presidente Lula (PT) disse, nesta terça-feira (18), que o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, 'trabalha para prejudicar o Brasil'.
Em entrevista à rádio CBN, Lula também declarou que Campos Neto 'tem lado político', citando um encontro recente entre o presidente do BC e Tarcísio de Freitas (Republicanos), atual governador de São Paulo e ex-ministro do governo de Jair Bolsonaro (PL).
"O presidente do Banco Central, que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar o país", disse Lula.
"[Tarcísio] Tem mais [poder de influência] que eu. Não é que ele encontrou com Tarcísio numa festa. A festa foi para ele, foi homenagem do governo de São Paulo para ele, certamente porque o governador de São Paulo está achando maravilhoso a taxa de juros de 10,5%", completou.
O presidente da república ainda declarou que o Banco Central está 'desajustado'.
Durante a entrevista, Lula criticou a atitude de Roberto Campos Neto de comparecer a um jantar que o homenageava e foi feito por Tarcísio.
O evento em questão foi feito no Palácio dos Bandeirantes na semana passada e foi precedido por uma homenagem para Campos Neto, que receber o Colar de Honra ao Mérito Legislativo da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), a maior condecoração do parlamento paulista.
"Quando ele se auto lança a um cargo…Vamos repetir [Sérgio] Moro? Presidente do Banco Central está disposto a fazer mesmo papel que Moro fez, paladino da justiça com rabo preso com compromissos políticos?".
A crítica de Lula se dá pois, dias antes, Campos Neto sinalizou a Tarcísio que seria seu Ministro da Fazenda em um eventual mandato presidencial seu.
Queda de braço entre Lula e Campos Neto não é novidade
A queda de braço entre o Planalto e a autoridade monetária, vale lembrar, não é de hoje. Nos primeiros meses de Lula como presidente, ele e seus aliados teceram duras críticas ao presidente do BC.
À época, o grande foco do Planalto era o patamar da taxa básica de juros, que foi mantido em 13,75% em reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).
"Não é possível que a gente queira que este país volta a crescer com taxa de 13,75%. Nós não temos inflação de demanda. É só isso. É isso que eu acho que esse cidadão [Campos Neto], indicado pelo Senado, tenha possibilidade de maturar, de pensar e de saber como vai cuidar deste país. Ele tem muita responsabilidade", disse Lula, à época.
Campos Neto chegou a rebater em uma palestra nos EUA: "A principal razão no caso da autonomia do Banco Central é desconectar o ciclo da política monetária do ciclo político porque eles têm planos e interesses diferentes. E quanto mais independente você for, mais eficaz você é e menos o país pagará em termos de custo de ineficiência na política monetária".
O conflito foi arrefecendo com o tempo e com a influência de outras figuras chave do cenário político, como o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que trabalho para apaziguar a disputa entre Lula e Campos Neto.