O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deu fortes declarações na manhã desta terça-feira, 18, em entrevista à rádio CBN. Às vésperas da reunião do Copom para definir a nova taxa Selic, o petista subiu o tom nas críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Além disso, voltou a adotar a postura de defender que os empresários e a indústria devem ser os alvos do corte de gastos do governo, não os mais pobres.
O presidente defendia o crescimento da economia do país e do número de novos empregos gerados, quando demonstrou, mais uma vez, insatisfação com a taxa básica de juros.
"Nós só temos uma coisa desajustada no Brasil nesse instante, é o comportamento do Banco Central.
Essa é uma coisa desajustada. [Temos] um presidente do Banco Central que não demonstra qualquer capacidade de autonomia, que tem lado político e que na minha opinião trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar, porque não tem explicação a taxa de juros do jeito que tá", afirmou Lula.
O petista continuou, afirmando que o Brasil precisa atrair mais investidores, mas que a taxa de juros é um empecilho. O novo valor da Selic será anunciado na quarta-feira, 19, mas o mercado já espera que não haja outra redução.
Reunião orçamentária e corte de gastos
Lula também falou sobre o que foi discutido na reunião com a Junta Orçamentária, ocorrida na segunda-feira, 17, no Palácio do Planalto. Na ocasião, o presidente disse ter ficado "perplexo" ao ver a apresentação da ministra do Planejamento, Simone Tebet, que mostrava que o Brasil oferece mais de R$ 546 bilhões em benefícios fiscais ao empresariado.
"São os ricos que se apoderam de uma parte do orçamento do país. E eles se queixam daquilo que você está gastando com o povo pobre. Nós acabamos de aprovar uma desoneração para 17 setores da indústria brasileira. Qual é a contrapartida que esses setores dão para o trabalhador? Qual é a estabilidade no emprego que eles garantem? Qual é o aumento no salário que eles garantem? Nenhuma", se queixou Lula.
O presidente, porém, não disse onde e como vai realizar os cortes que promete. Lula afirmou que quer, primeiro, colher mais informações. Com relação aos programas sociais do governo, o petista garantiu que "se tiver alguém recebendo o que não deve receber, vai parar de receber".
"Taxa das blusinhas"
No mesmo tom de discurso, Lula criticou a chamada "taxa das blusinhas" que incidirá sobre as compras de até US$ 50 vindas do exterior. Apesar disso, o presidente confirmou que vai aprovar a lei, em uma atitude pela "unidade do Congresso e do governo".
Lula questionou o porquê de não taxarem as compras de US$ 2 mil de quem viaja para fora do país. "Para quê taxar US$ 50? Por que não taxa quem vai no free shop?", disse. Mesmo com a insatisfação, o presidente disse ter chegado a um acordo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para que a taxação fique próxima a 20%.