BRASÍLIA E SÃO PAULO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva citou nesta quarta-feira, 12, a possibilidade de o governo baratear o custo de eletrodomésticos da chamada linha branca, como geladeiras e máquinas de lavar. A medida seria uma forma de incentivar o consumo por parte da população mais pobre.
"Falei pro Alckmin: 'Que tal a gente fazer uma 'aberturazinha' para a linha branca outra vez?' Facilitar a compra de geladeira, de televisão, de máquina de lavar roupa. As pessoas, de quando em quando, precisam trocar seus utensílios domésticos. Quando a geladeira velha não está batendo, não está gelando bem, você tem que trocar. E, se tá caro, vamos baratear, vamos tentar encontrar um jeito", disse Lula em discurso durante cerimônia de retomada do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia.
"Simone, você e o Aloizio, abram a mão um pouquinho para a gente poder facilitar a vida desse povo que quer ter acesso às coisas", brincou. Após o evento, em conversa com jornalistas, Tebet negou que o pedido feito por Lula esteja sob estudo no Planejamento: "Tem que perguntar ao Alckmin", respondeu.
Lula adotou medida semelhante no seu segundo governo, quando isentou a cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para produtos da linha branca, para aquecer o mercado interno diante da crise internacional iniciada em 2007, nos Estados Unidos.
Ao defender que o dinheiro "circule no País", o presidente afirmou nesta quarta-feira que a iniciativa do governo de subsidiar a compra de automóveis provocou a venda de "mais carros do que tivemos capacidade de produzir".
Na semana passada, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, anunciou o fim dos bônus liberados pelo governo para reduzir os preços de carros de passeio, um mês após o seu lançamento. O crédito para troca de caminhões com mais de 20 anos, menos usado, porém, segue à disposição dos transportadores.
Desenrola
Lula afirmou ainda que vai anunciar "definitivamente" o programa Desenrola nos próximos dias. "A gente tem que incentivar o povo a consumir, desde que ele consuma de forma responsável. Se não pode pagar, espera um pouco. É por isso que, nesses próximos dias, a gente vai anunciar definitivamente o tal do Desenrola. Temos obrigação de estender a mão para essa gente (endividada) e trazer essa gente outra vez para atividade econômica brasileira. O Desenrola tem que dar certo. Se não der certo, nós que vamos estar enrolados, Simone (Tebet)", afirmou, ao fazer outra brincadeira com a ministra.
"O dinheiro não pode ficar centrado em um banco ou na mão de meia dúzia; quanto mais dinheiro circular, mais a economia vai crescer", afirmou. Em sua avaliação, "não adianta a gente ficar olhando só o PIB, o PIB cresceu 14%, 30%, se esse PIB não é distribuído de forma equitativa pela totalidade da população". Para isso, Lula citou a retomada da indústria, de forma mais limpa e com baixa emissão de carbono.
O presidente criticou, ainda, a falta de uso de recursos de fundos governamentais criados para investimento em políticas públicas. Segundo Lula, as ferramentas não podem servir apenas para produção de superávit primário.
"Os fundos criados pelo Congresso Nacional não foram criados para superávit primário. Vamos ter que começar a rever, se não o Congresso Nacional não precisa criar mais fundo porque era melhor criar logo superávit primário do que criar um fundo para investimento que nunca acontece", reclamou.
O evento na manhã desta quarta, ocorrido no Palácio do Planalto, marcou a retomada do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT), que representa o principal fórum de debate com a comunidade científica, a sociedade e o setor produtivo sobre a Política Nacional de Ciência e Tecnologia. Na solenidade, Lula assinou decreto que convoca a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, prevista para o primeiro semestre de 2024.
No evento, o presidente e a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, entregaram a medalha da Ordem Nacional do Mérito Científico a entidades e pesquisadores, entre eles a médica sanitarista Adele Benzaken e o infectologista Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda.
Os dois tiveram a honraria revogada pela gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, em 2021. Em repúdio, 21 outros cientistas renunciaram à indicação na época. Eles também foram agraciados na cerimônia. A Ordem Nacional do Mérito Científico é uma honraria concedida todos os anos para homenagear pessoas que se dedicaram ao avanço da ciência no País.