Eleita duas vezes a melhor profissional de Marketing Digital do Brasil, pela Associação Brasileira de E-commerce e Associação Brasileira de Agentes Digitais, Camila Renaux explica por que é importante que o empreendedor “apareça” em vez de ficar apenas “panfletando” na internet, conta o que a levou a driblar a postura tímida para se colocar nas redes, explica como converter seguidores em clientes e diz que a inteligência artificial pode ser boa ou ruim para os negócios dependendo de quem usa.
Esses e outros temas foram abordados em entrevista concedida pela profissional, que deu palestra no último dia 26 de maio, em formato virtual, como parte da Semana do MEI, evento anual promovido pelo Sebrae que se encerra hoje. Renaux é enfática: 100% dos pequenos negócios precisam do marketing digital, o que vai variar é a intensidade e importância dele. Leia aqui os principais trechos:
Como o pequeno negócio deve fazer seu marketing digital? Há ferramentas mais acessíveis e que dão resultados?
Camila Renaux: Estratégia sem contexto não funciona. Viram sugestões sem aplicabilidade na vida real, o que gera somente frustração. Empreendedores precisam de estratégias aplicáveis e enxutas. O ideal é primeiro pensar nos processos. Quando eles estiverem definidos, incluir as pessoas e aí buscar as ferramentas que se adaptam a essa realidade. O maior erro é buscar primeiro a ferramenta – e normalmente descobrimos depois de tempo e esforço investidos que precisaremos de mais recursos, e como eles não existem, a ferramenta é abandonada. Outro cenário comum é buscar o mundo perfeito, ou, então, apenas ir executando sem nenhum planejamento. As grandes empresas podem se dar a esse luxo, justamente por terem uma estrutura de suporte para isso. Os empreendedores precisam buscar fazer o básico bem feito de forma consistente e escalar passo-a-passo.
Mas 100% dos pequenos negócios precisam do marketing digital?
Camila: Sim! O que pode mudar é a intensidade e a importância, mas não há mais como negar o poder de escala e penetração de mercado do digital. Precisamos estar onde nossos clientes estão. Outra grande vantagem do digital para empreendedores é o custo reduzido e a maior assertividade. Por meio de anúncios digitais podemos definir precisamente nosso público-alvo e isso vale ouro para um empreendedor. Outra coisa é a oportunidade de aprofundar relacionamentos, e as pequenas empresas devem usar o digital para isso, e ter clientes fidelizados e apaixonados – e relacionamento intencional é a chave. As redes sociais, além de cumprirem esse papel, promovem o boca a boca e a divulgação orgânica dos nossos negócios.
Você já contou que era retraída e tinha um certo receio de se “expor” nas redes. O que a fez tomar coragem? E o dono de pequeno negócio deve “meter as caras” e aparecer como o rosto do seu negócio nessa busca de fazer relacionamento para atrair clientes?
Camila: Estar pronto não é um sentimento, é uma decisão. Percebi que ficar em silêncio também é uma decisão e também nos posiciona. Quem cala consente. Enquanto os bons estão cheios de dúvidas, quietos, sendo meros espectadores, outros menos capazes e competentes se vendem melhor, investem em marketing, vão para frente das câmeras e assumem o protagonismo de seus negócios. Resultado: vendem mais e melhor. Isso se tornou algo inadmissível para mim. O primeiro passo foi decidir mudar. Coloquei a meta de gravar vídeos, falar em público, me expor. A consistência do dia após dia fez os resultados começarem. Nunca tive talento, mas treinei muito. Hoje, ninguém nota diferença.
Quais dicas você daria nesse sentido?
Camila: Reforçaria: decidir, agendar, cumprir. A partir daí, lembrar do nosso propósito para não dar mais ouvidos ao medo e a vergonha e assim desistir ou procrastinar: dar visibilidade aos bons.
Como converter seguidores em clientes que compram efetivamente seu produto ou serviço?
Camila: O segredo está na narrativa e na comunicação intencional. Se você quer vender, precisa relembrar que todo cliente vive uma jornada entre descobrir seu negócio até comprar e, claro, recomprar. Por isso, conte sua história, apresente-se, explique seus produtos e serviços e as diferentes formas de uso, repita essa divulgação para que se torne marcante, mostre feedback e depoimentos de clientes satisfeitos, e reforce relacionamento, pois um cliente finalizado custa 25 vezes mais barato do que um novo cliente.
Quais os maiores erros que donos de pequenos negócios cometem em seu marketing digital?
Camila: Não aparecer e fazer panfletagem digital. Gosto desse termo porque ele deixa bem claro o quanto essa é uma interrupção da jornada de compra. Vamos fazer a analogia com o mundo real: você está lá, caminhando, pensando nas coisas que tem para fazer e alguém interrompe isso, aquela obrigação de pegar um panfleto que, por estar fora de contexto, você não dá importância. Para ter resultados, precisamos estar inseridos nessa narrativa, nesse contexto. De forma bem prática, é o famoso “contar a historinha “. Guie seu cliente pela sua história, sua marca, seus produtos, sua equipe, seus serviços, seus diferenciais. Ele não tem bola de cristal para adivinhar isso se as informações não saem de dentro da empresa. O óbvio precisa ser dito. Quando você não aparece e simplesmente posta, ao invés de fazer uma estratégia, você está entregando panfletos aos seus seguidores. Você será ignorado. E, no final, dá praticamente o mesmo trabalho de fazer uma estratégia de forma intencional. Dedique-se ao seu marketing, ele te fará vender mais e melhor e proporcionará ao seu negócio ganhar o mundo. É sobre isso!
O chat GPT, bem como a inteligência artificial de forma geral, pode mais ajudar ou mais atrapalhar o empreendedor brasileiro?
Camila: Assunto complexo e com muitas camadas. Precisamos ser responsáveis para não falar de forma generalista e esquecer de particularidades. A inteligência artificial acabará com determinadas funções e empregos. Porém, do ponto de vista de marketing, é uma poderosa aliada. Ela não substitui a inteligência humana, mas pode ser o primeiro passo. Através do chat G PT é possível iniciar uma publicação para a qual estamos sem inspiração e depois refinar, melhorar. Também é possível trazer mais para o conteúdo, especialmente com informações que você ainda não tinha. Porém, é uma ferramenta. O que irá determinar sua eficácia é a inteligência de quem a utiliza. Analogia aqui é dar um martelo: pode ser uma ferramenta ou uma arma, depende de quem usa. Mesmo como ferramenta, se mal empregada, não trará resultados. Os empreendedores podem usar o chat GPT para escrever textos, materiais ricos, anúncios. Porém, não esqueça de refinar, revisar e incluir as histórias que só você conhece. Caso contrário, você tem conteúdo, mas sem essência e, por consequência, não conecta.
O que você diria para empreendedores brasileiros sobre o futuro do marketing digital?
Camila: Que ainda é um mar de oportunidades. Como empreendedora, sei o poder que isso tem. É justamente isso que buscamos, oportunidades ainda pouco exploradas, onde não temos tanta concorrência e podemos nos destacar. Não é milagre, mas com estratégia e consistência, os resultados vêm. Deixar o digital para depois não nos aproxima de nossos resultados. Se joga!
Fonte: ASN / Agência Sebrae
(*) HOMEWORK inspira transformação no mundo do trabalho, nos negócios, na sociedade. É criação da Compasso, agência de conteúdo e conexão.