Os bons resultados de ativos mais arriscados em 2018 não mudaram a preferência da maior parte dos brasileiros pela caderneta de poupança. A proporção de recursos do varejo tradicional alocados nela ficou em 64,6% em 2018, uma alta de dois pontos porcentuais em relação ao ano anterior.
Houve aumento até mesmo entre o varejo de alta renda, que tradicionalmente busca outros tipos de investimento quando o mercado financeiro vai bem (a Bolsa teve valorização de 15% no ano passado). Os investidores mais ricos colocaram 12,8% das suas carteiras na poupança, contra os 11,6% registrados em 2017.
Os dados foram divulgados nesta semana pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). A classificação de alta renda não é padronizada, variando em cada instituição financeira. No Itaú, maior banco privado do País, são considerados de alta renda os clientes com renda mensal acima de R$ 10 mil, ou com investimentos acima de R$ 100 mil.
Para o diretor da Planejar, Francisco Levy, a persistência da poupança como a principal opção de investimento no varejo tradicional é natural. O principal motivo para isso, ele afirma, é o peso que taxas como as de administração tem sobre investimentos menores.
"Com juros mais baixos, as taxas corroem a rentabilidade. E quanto mais baixo o tíquete, mais elas consomem", explica Levy, destacando também que as taxas de administração oferecidas tendem a diminuir no varejo de alta renda e private.
Outros fatores que explicam a diferença na alocação, acrescenta Levy, são a diferença do conhecimento financeiro entre os segmentos, além da importância dada à segurança. "O investidor pequeno não conhece bem as alternativas e tem um trauma maior pelas perdas".
Apesar da baixa popularidade da poupança entre investidores experientes, Levy afirma que a alta alocação do varejo de baixa renda na poupança faz sentido. "Com um volume pequeno, não faz muito sentido correr risco, vai render pouco".
Na outra ponta, os dados da Anbima apontam que houve aumento de exposição da alta renda ao mercado de ações (de 4%, em 2017, para 5,5%, em 2018) e aos fundos multimercados (de 7,8% para 9,6%).
O vice-presidente do comitê de varejo da Anbima, Claudio Sanches, ressaltou a migração para a renda variável nesse segmento. "A Selic em queda fez com que esses produtos (de renda fixa) perdessem um pouco de atratividade no mercado", comentou em teleconferência. "O grande destaque foram as ações, fenômeno muito puxado pelo bom desempenho da Bolsa no ano passado".