Duas das principais autoridades do Banco Central Europeu sinalizaram nesta segunda-feira que estão mais preocupadas com os danos que as novas tarifas comerciais dos Estados Unidos causariam ao crescimento econômico da zona do euro do que com qualquer impacto sobre a inflação.
Investidores e autoridades de todo o mundo estão aguardando os detalhes da nova política comercial do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, depois que ele fez do protecionismo um elemento fundamental de seu discurso de campanha.
O vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, e o presidente do banco central alemão, Joachim Nagel, enfatizaram o impacto que as novas restrições comerciais teriam sobre a produção, ao mesmo tempo em que se mostraram mais otimistas em relação às perspectivas para a inflação, que vem desacelerando.
"O equilíbrio dos riscos macroeconômicos tem mudado das preocupações com a inflação alta para os temores com o crescimento econômico", disse de Guindos em um evento em Frankfurt.
"A perspectiva de crescimento é obscurecida pela incerteza sobre as políticas econômicas e o cenário geopolítico, tanto na zona do euro quanto no mundo todo. As tensões comerciais podem aumentar ainda mais, elevando o risco de materialização de eventos de cauda."
Alguns analistas temem que o segundo mandato de Trump possa trazer uma repetição muito pior da guerra comercial de 2018 a 2019 do ex-presidente com a China, com ramificações para a Europa e possíveis retaliações.
Nagel, em discurso em Tóquio, disse que as tarifas prometidas por Trump afetariam o comércio internacional, mas ele não está "excessivamente" preocupado com seu impacto sobre a inflação.
"A integração global teria que diminuir substancialmente para causar um aumento perceptível nas pressões inflacionárias", disse ele. "E, até agora, não temos visto isso."
Ele disse que se a fragmentação geoeconômica levasse a maiores pressões inflacionárias, o BCE e outros bancos centrais poderiam mantê-la sob controle por meio de taxas de juros mais altas.
Mas ele também argumentou que o BCE não poderia "negligenciar completamente a produção" e não reagiria de forma exagerada aos movimentos da inflação.