Não é a primeira vez neste ano que os problemas da Volkswagen no mercado americano afligem o presidente da montadora, Martin. Em abril, o foco da disputa entre ele e o então presidente do conselho administrativo Ferdinand Piëch era o fato de Piëch o responsabilizar pelas fracas vendas na América do Norte.
O conflito terminou com uma clara vitória para Winterkorn. No entanto, o mais recente escândalo sobre as fraudes nos testes de emissão de gases poluentes indica que as atribulações do CEO estão longe de ter fim. Além disso, os problemas no mercado dos Estados Unidos só se exacerbaram, estando mais distante do que nunca a meta de 800 mil veículos vendidos por ano nos EUA, até 2018.
O mercado americano sempre representou um desafio especial para a Volks, mesmo antes de a crise dos testes burlados vir à tona. Há anos as vendas vinham fraquejando, com os consumidores locais frequentemente desdenhando os modelos da montadora alemã em favor dos da Ford ou General Motors.
Calcanhar de Aquiles da Volks
No início dos anos 90, a Volkswagen e outras montadoras europeias, como a Renault e a Fiat, já lutavam para fazer frente à dominância dos importados japoneses no mercado dos EUA. Ainda assim, a VW conseguiu uma recuperação no mercado americano em 1997, com a reintrodução do New Beetle.
No entanto, a década seguinte foi marcada por uma série de lançamentos fracos, e o faturamento dos alemães ficou dependendo de uns poucos modelos, como Jetta, Golf, Passat e Beetle.
Quando, em 2013, as vendas da montadora nos Estados Unidos caíram 7% e sua participação no mercado mal ultrapassava os 2%, Winterkorn substituiu o então presidente do VW Group of America por Michael Horn, que detém o posto até hoje.
Horn apostou em ciclos de vida mais breves para os produtos da Volkswagen, mais de acordo com as expectativas do consumidor americano, que exige modelos novos – ou pelo menos de aparência nova – a cada cinco anos. Esse é considerado um dos sucessos mais significativos do presidente.
Expectativas frustradas
Entretanto, a tão esperada reviravolta não ocorreu. Em 2014, dos 6,1 milhões de veículos vendidos pela Volkswagen, apenas cerca de 370 mil foram para o mercado americano.
Circulam várias explicações para o fenômeno. A montadora alemã admitiu que, no passado, não conhecia os compradores americanos tão bem quanto os da Europa, China e de outros mercados. Assim, não foi capaz de atender a demanda popular nos EUA por picapes, por exemplo.
Outros argumentam que as metas para 2018 eram ambiciosas demais. Também se atribui o fracasso, em parte, a uma falta de foco, com a VW investindo na China para impulsionar suas vendas internacionais, ao mesmo tempo em que buscava uma expansão na América do Sul.
Todos esses fatores, contudo, perdem importância diante das notícias dos últimos dias. Winterkorn pode estar enfrentando o maior obstáculo no sentido de firmar o desempenho da Volkswagen nos Estados Unidos, e é possível que não saia vitorioso.