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Mercado consolida expectativa de Selic em 10,5% até o fim do ano, após decisão do Copom

Segundo levantamento, 35 de 42 casas consultadas (83%) preveem que taxa de juros permaneça no mesmo patamar até o final do ano

20 jun 2024 - 18h10

Após a reunião desta quarta-feira, 19, do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), que manteve a taxa básica de juros em 10,5% ao ano, a ampla maioria do mercado (35 de 42 casas, ou 83%) prevê que a Selic permaneça no mesmo patamar até o final do ano. Outras sete de 40 casas (17,5%) avaliam que a taxa deve permanecer estável até o fim de 2025.

Para economistas, grande destaque foi a apresentação de um cenário alternativo de inflação do BC, que considera uma Selic estável em 10,5% no horizonte relevante, o que levaria o IPCA a encerrar o ano que vem em 3,1%
Para economistas, grande destaque foi a apresentação de um cenário alternativo de inflação do BC, que considera uma Selic estável em 10,5% no horizonte relevante, o que levaria o IPCA a encerrar o ano que vem em 3,1%
Foto: Jonas Pereira/Agência Senado / Estadão

Para a reunião de julho, todas as 42 casas consultadas preveem manutenção da Selic em 10,5%. O placar da reunião deve novamente ser unânime, avaliam em consenso 26 instituições — as demais não responderam.

Sete de 42 (16,6%) projetam, no entanto, que os cortes da Selic devem ser retomados ainda este ano. Uma prevê novas reduções a partir de setembro, outras duas a partir de novembro, e quatro, de dezembro.

Entre 40 casas, 26 (65%) preveem retomada dos cortes somente em 2025.

O comunicado da reunião do Copom nesta semana reforçou no mercado financeiro a percepção de que o juro básico deverá permanecer no mesmo nível até o final do ano. O consenso na decisão também foi bem recebido pelos agentes do mercado, que avaliam que o movimento poderá frear a recente desancoragem das expectativas de inflação.

"Por ora, reduziu boa parte daqueles ruídos que ficaram da reunião passada", observa o sócio e economista sênior da Tendências Consultoria, Silvio Campos Neto.

Além do consenso, ele cita que o grande destaque foi a apresentação de um cenário alternativo de inflação do BC, que considera uma Selic estável em 10,5% no horizonte relevante, o que levaria o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) a encerrar o ano que vem em 3,1%.

"Tendo em vista que o resultado desse modelo é de quase convergência (à meta de 3%), foi um recado de que os juros não devem cair tão cedo. Tira do jogo novas quedas em 2024?, diz Silvio Campos Neto.

Para 2025, contudo, a retomada do afrouxamento segue na mesa, segundo o economista, que prevê juro básico em 9,5% no fim do próximo ano. Ele ressalta que esse cenário está condicionado à materialização dos cortes de juros nos Estados Unidos ainda neste ano e a iniciativas do governo federal de maior controle fiscal, além de uma "transição benfeita" no comando do BC.

A avaliação é, em boa parte, corroborada pelo economista Danilo Passos, da WHG. Ele, que já previa Selic estável em 10,5% até o fim de 2024, avaliou o comunicado desta quarta como neutro e equilibrado. "A comunicação do BC mostra que a estratégia que eles vão adotar, pelo menos nas próximas reuniões, é realmente a de segurar a Selic parada por um tempo para observar os desenvolvimentos externos e domésticos", diz.

Passos pondera que o momento, no entanto, é de volatilidade no mercado, e que muitos vetores podem influenciar as decisões do BC à frente, seja no âmbito local, com destaque para a questão fiscal, ou no global, com foco nos próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

A WHG prevê que os cortes da Selic retornem em 2025, levando a taxa a 9,75%. A estimativa, porém, depende de fatores como o resultado das eleições nos Estados Unidos e o encaminhamento da questão fiscal doméstica, detalha.

Já o economista-chefe da Análise Econômica, André Galhardo, avalia que o processo de corte de juros nos Estados Unidos e a conjuntura econômica como um todo devem abrir espaço para o Copom voltar a cortar o juro básico já em dezembro deste ano.

Ele destaca que seria de "extrema importância" que a retomada dos cortes seja feita ainda na gestão do presidente do BC, Roberto Campos Neto, que termina no fim do ano. "Se deixar para retomar os cortes na primeira reunião de 2025, sem a presença de Campos Neto e outros diretores vistos como mais conservadores pelo mercado, pode gerar uma turbulência", afirma. "O mercado pode entender que, se Campos Neto saiu, vai se materializar um comportamento mais leniente com a inflação", emenda Galhardo.

O Santander Brasil, por sua vez, manteve em seu cenário a retomada do afrouxamento monetário ainda neste ano, mas adicionou viés de alta à projeção de Selic em 10% em dezembro. "O comitê manteve ambos os balanços de riscos e a percepção de que o cenário internacional segue inalterado. Não obstante, a mensagem com relação às incertezas fiscais veio mais para o lado 'hawkish', marginalmente", detalhou a instituição em relatório assinado pela economista-chefe Ana Paula Vescovi e sua equipe.

Contraponto

Algumas casas, porém, não veem, por ora, espaço para retomada do afrouxamento, nem em 2025, como o Banco Citi, Itaú Unibanco e a XP Investimentos. Em relatório, o Citi avaliou que a inclusão do cenário alternativo do BC foi o principal destaque do comunicado, e reforçou a visão "mais agressiva" que o banco tem para a política monetária.

Já o economista-chefe da XP, Caio Megale, destacou, em áudio enviado a clientes, que o ambiente "se tornou mais complexo" desde a reunião de maio, com destaque para a deterioração dos "fundamentos ligados à inflação", o que sugere uma cautela maior por parte do BC. "O Copom sinalizou claramente que esse juro tem de ficar nesse patamar por um bom tempo, para garantir a convergência à meta", disse Megale, citando, também, que essa visão foi reforçada pela apresentação do cenário alternativo de inflação do colegiado.

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Para economistas, grande destaque foi a apresentação de um cenário alternativo de inflação do BC, que considera uma Selic estável em 10,5% no horizonte relevante, o que levaria o IPCA a encerrar o ano que vem em 3,1%
Foto: Jonas Pereira/Agência Senado / Estadão
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