O Brasil tem tido surpresas positivas no desempenho do mercado de trabalho, mas evidências mostram que esse cenário pode gerar um processo de desinflação mais custoso e lento, disse nesta sexta-feira o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo.
"O Brasil também tem surpresas positivas do ponto de vista de um mercado de trabalho mais aquecido, mensurado por diversas métricas, ainda que, como a gente deixou bem claro na comunicação oficial, não seja possível estabelecer de maneira clara esse 'pass through'...", disse.
"Mas a evidência que sempre se tem com o mercado de trabalho demonstrando estar mais aquecido é que se deve observar um processo de desinflação mais custoso e lento", disse em seminário promovido pela Universidade de Brasília.
Galípolo ponderou que banqueiros centrais têm atuado com uma política monetária muito mais dependente de dados para a tomada de decisões recentemente por conta de "correlações inusitadas" entre variáveis econômicas -- em uma série de países, incluindo o Brasil, o emprego tem mostrado dinamismo mesmo com os juros em nível elevado.
O Brasil registrou uma taxa de desemprego de 7,5% nos três meses encerrados em abril, em um resultado abaixo do esperado que marcou o nível mais baixo de desocupação para esse período em 10 anos. A taxa básica de juros no país está atualmente em 10,50% ao ano, patamar ainda considerado restritivo.
Galípolo voltou a afirmar que o Brasil tem vivido uma dissonância entre dados positivos de inflação corrente acompanhados de expectativas desancoradas para a inflação à frente, o que coloca o país em situação mais delicada que seus pares.
Na apresentação, o diretor afirmou que o consumo das famílias permanece resiliente no Brasil, o que pode ser explicado conjunturalmente pela conjugação de programas de transferência de renda, política de reajuste do salário mínimo e inflação em queda.
No tema da atividade econômica, ele afirmou que o que preocupa mais o Brasil é o nível baixo de investimentos.