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Mercado eleva para 10,25% projeção para a taxa Selic ao final de 2024

Movimento reflete deterioração das expectativas de inflação e declarações mais duras proferidas por membros do Copom

23 mai 2024 - 17h08
(atualizado às 19h07)
Banco Central deve diminuir ritmo dos cortes na taxa de juros
Banco Central deve diminuir ritmo dos cortes na taxa de juros
Foto: André Dusek/Estadão / Estadão

Os cenários com a Selic em dois dígitos ao fim de 2024 se alastraram pelo mercado nas duas últimas semanas e, agora, são maioria. Segundo o Estadão/Broadcast, a mediana do mercado financeiro para a taxa básica de juros no fim deste ano subiu mais uma vez, desta vez para 10,25%, ante 10% em levantamento de 14 de maio. A mediana para 2025, por outro lado, permaneceu em 9%.

O movimento refletiu a deterioração das expectativas de inflação, registrada pelo boletim Focus, e declarações mais duras proferidas por membros do Comitê de Política Monetária (Copom) — incluindo a entrevista do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao Estadão/Broadcast, e falas do diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, em evento com investidores.

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"O que nós observamos foi uma série de manifestações verbais dos membros do Banco Central bem mais hawkish do que estávamos antecipando", afirma o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Daniel Xavier. "Se o BC for entregar o que está sugerindo, a tendência é pausar o ciclo no nível atual."

Entre 34 casas consultadas no levantamento, 23 preveem um novo corte de 0,25 ponto da Selic em junho. Outras 11, porém, já esperam que o comitê opte pela estabilidade da taxa, em 10,50%.

Xavier elevou a projeção de Selic em 9,75% no fim do atual ciclo de cortes para 10,50%. Ele avalia que ao declarar em entrevista que não poderia adiantar novos cortes, Campos Neto sugeriu que está propenso a votar por uma Selic estável em junho.

Outro vetor que corrobora a mudança na estimativa, acrescenta, foi a piora das expectativas de inflação no Focus. Na edição de segunda-feira, 20, a mediana do mercado para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2024 subiu a 3,80%, ante 3,73% há um mês, e a de 2025 alcançou 3,74%, ante 3,60% — em ambos os casos, as estimativas estão acima do centro da meta de inflação, de 3%.

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O ajuste de Xavier no cenário é similar em magnitude ao realizado pela ASA Investments, que também espera agora que o comitê opte pela estabilidade da Selic, em 10,50%, em junho. O aumento das expectativas de inflação de longo prazo foi determinante para a alteração, afirma o economista Leonardo Costa.

O economista salienta que a divisão na decisão de maio do Copom também reforçou a possibilidade de maior leniência do colegiado com a inflação a partir do próximo ano, o que corrobora o aumento das expectativas de longo prazo.

Costa reconhece que Galípolo, um dos principais cotados para assumir a presidência do BC em 2025, tem sido um pouco mais duro em declarações recentes, mas diz que ainda há dúvidas no mercado se esse discurso irá se materializar em ações.

O economista-chefe da EQI Asset, Stephan Kautz, também revisou a projeção para Selic no fim de 2024, mas de 9,75% para 10,25%. Ele atribui o aumento da taxa terminal à desancoragem das expectativas de inflação e à incerteza na dinâmica fiscal doméstica. Kautz pondera, no entanto, que uma pequena melhora no cenário internacional, com desaceleração da atividade e da inflação nos Estados Unidos, abre espaço para mais um corte de 0,25 ponto porcentual da Selic.

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O Santander Brasil também elevou a projeção para a Selic no fim de 2024 recentemente, mas manteve a taxa em um dígito. A estimativa passou de 9% para 9,75%. O cenário do banco, porém, tem uma peculiaridade.

O Santander avalia que o Copom deve realizar um novo corte de 0,25 ponto em junho, levando a Selic a 10,25%, e realizar uma pausa na sequência, mas somente até novembro. "(É) quando consideramos o começo dos cortes pelo Fed. Isso abriria espaço para mais dois cortes de 0,25 ponto em 2024?, escreve, em relatório.

A continuidade do ciclo de flexibilização, pondera, depende muito das expectativas de inflação não piorarem muito mais adiante. Portanto, diz, há riscos altistas para a estimativa.

Projeções

Após iniciar o ano em 9%, a mediana para Selic no fim de 2024 subiu para 9,25% em meados de março. O aumento ocorreu após surpresas para cima na inflação de serviços e mudança do forward guidance do Copom — que retirou o plural da sinalização à frente, mas manteve a indicação de manutenção do ritmo de cortes, na época de 0,50 ponto porcentual.

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A mediana voltou a subir no dia 18 de abril, para 9,50%, após declarações de Campos Neto colocarem o guidance em cheque. As falas ocorreram em um momento de deterioração da situação fiscal doméstica, com a mudança das metas de resultado primário, e do cenário externo, diante da percepção de que o Federal Reserve (Fed) demoraria mais para cortar os juros nos Estados Unidos, o que gerou pressão sobre o câmbio.

O aumento da mediana ganhou novo fôlego após a reunião de maio do Copom, encerrada no último dia 8, e atingiu 10% no último dia 14. Na comunicação do encontro, que foi marcado por divisão dos membros na votação, o comitê frisou a necessidade de cautela na condução da política monetária, diante das conjunturas local e internacional incertas. Não houve sinalização do plano de voo.

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