Nem todo campeão precisa inaugurar estilos, revolucionar, inventar técnicas. O tenista norte-americano Robert Falkenburg, por exemplo, foi longe sem ser propriamente original. Ganhou três vezes nos mais importantes torneios do mundo – na categoria duplas, o US Open de 1944 e o Wimbledon de 1947, em voo solo, o Wimbledon de 1948. Seu feito mais exótico, porém, tem mais acaso do que método: na primeira final em solo inglês, teria acertado dois smashs que fizeram a bola cair no colo da rainha Elizabeth.
No mundo dos negócios isso também é possível – vencer sem inovar? A resposta pode estar na trajetória do próprio Robert Falkenburg. Sim, porque, se ele conseguiu muito com o tênis, conseguiu ainda mais como empresário. E no Brasil. Robert é o Bob que deu nome à primeira rede de fast food brasileira, o Bob’s.
Blog: As muitas razões para abrir o próprio negócio
Nascido em Nova York, em 1926, filho de um casal de tenistas amadores, ele chegou a viver em São Paulo durante um período da infância, por conta das constantes transferências de emprego de seu pai, engenheiro. De volta aos EUA, começou a jogar tênis aos dez anos de idade e iniciou sua carreira no esporte em 1942.
A evolução foi rápida: dois anos depois já vencia o principal torneio norte-americano (US Open) e logo chamaria a atenção dos ingleses com sua alta estatura (1,91) e um estilo mais comum hoje do que na época: saques muito fortes, voleios impiedosos. Foi com muita surpresa, portanto, que se soube que ele havia recusado um contrato de US$ 100 mil anuais (um dinheirão, na época) após erguer o troféu de simples na grama de Wimbledon.
Mudança de rumos
Dois fatores explicam a recusa – e uma guinada de rumos como raramente se viu no mundo do esporte e dos negócios. Falkenburg se queixava de problemas respiratórios, segundo ele agravados durante partidas muito longas. Além disso, numa visita ao Rio de Janeiro em 1946, para disputar um breve campeonato, ele conheceu uma brasileira, com quem se casaria anos mais tarde.
Nos mesmos dias em que competiu em quadras cariocas, o norte-americano deu uma escapadela em busca de um bom milk shake. Não encontrou. Assim, quando um amigo de Los Angeles, dono de uma cadeia de sorveterias, perguntou se ele não queria ter uma franquia nos Estados Unidos, o tenista respondeu que sim – mas preferia no Brasil. Com US$ 10 mil, comprou os direitos da loja, a fórmula, duas máquinas e um pasteurizador. Em 1951, mudou-se para a então capital brasileira e abriu a Falkenburg Sorveteria. Aos poucos, trocava o tênis pelo empreendedorismo.
Com a loja já funcionando, ele foi introduzindo outros produtos novos no mercado brasileiro, como sundaes, hot-dogs e hambúrgueres – e mudou o nome do empreendimento para Bob’s. A localização da lanchonete (próxima à saída de diversos cinemas) contribuiu para que o sucesso chegasse em pouco tempo.
Naturalizou-se brasileiro (defendeu o Brasil em duas edições da Copa Davis) e começou a expandir os negócios. Em 1956, abriu uma unidade em Ipanema. Depois, no Largo do Machado, na Tijuca e no Largo da Carioca.
O empresário continuou à frente dos negócios até 1972, quando se mudou com a família para Los Angeles. Dois anos depois, vendeu as 13 unidades da rede por US$ 7 milhões. O Bob’s continuou crescendo. Aderiu ao modelo de franquias em 1984 e hoje conta com mais de mil unidades espalhadas por Brasil, Chile e Angola, tendo faturado R$ 1,1 bilhão em 2013.