O que poderiam ter em comum o presunto italiano de Parma, o champanhe francês e a cajuína do Piauí? São todos produtos com o registro internacional de Indicação Geográfica (IG), o que certifica suas qualidades únicas e lhes agrega valor de mercado. Mas apenas a bebida brasileira feita 100% com caju teve o privilégio de ser cantada por Caetano Veloso, que a levou a ouvidos de todo o Brasil. Agora, o suco piauiense quer superar as fronteiras de seu estado e chegar aos copos de consumidores cada vez mais preocupados em ingerir alimentos saudáveis.
Como as pequenas empresas se comportam na crise?
“Todo estado que produz caju também produz alguma variação da cajuína, e a Coca-Cola chegou a lançar um refrigerante chamado Crush Cajuína, mas a IG garante que o produto do Piauí foi elaborado sob determinados controles de qualidade que garantem a bebida do estado como única”, explica José Ribamar Rodrigues, presidente da União das Associações, Cooperativas e Produtores de Cajuína do Estado do Piauí (Procajuína), uma das organizações que pleitearam e conseguiram junto ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi) a indicação de origem.
Além de atestar a originalidade do produto e agregar valor, a IG é um passo fundamental para que o processo de industrialização da cajuína ocorra sem perda da qualidade. “O reconhecimento do Inpi caminha junto com essa ideia de uma produção mais industrial, até porque antes o caju, por exemplo, era prensado no braço, e hoje se utilizam máquinas”, continua Rodrigues.
Além das fronteiras
No momento, cerca de 80% do suco produzido no Piauí é consumido no próprio estado. O objetivo, no entanto, é conquistar o resto do país, aproveitando as qualidades saudáveis da bebida. “As pessoas estão buscando cada vez mais produtos que fazem bem à saúde, trocando, por exemplo, o refrigerante por outras bebidas, como o suco de uva. Apostamos no fato de a cajuína ser 100% natural para crescer no resto do país”, afirma Bruna de Alencar, proprietária da Cajuína Brasucos.
Interesse pela bebida existe. Ela já pode ser encontrada em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. A cajuína também fez sucesso durante a feira Hortifruti & Foods Brasil Show, que ocorreu entre o final de junho e começo de julho, em Curitiba. “Houve muita degustação e ótimo retorno do público, estou até conversando com alguns clientes interessados em levar o produto para o Paraná”, anima-se Josenilto Lacerda, sócio-proprietário da Cajuína Crystal
Moderando o próprio entusiasmo, Lacerda aponta, no entanto, algumas dificuldades para que a bebida típica do Piauí ultrapasse as fronteiras do estado: “Ainda temos um problema na escala de produção, pois não engarrafamos o suficiente para abastecer grandes mercados”.
Bruna também vê com otimismo o futuro, e planeja crescer 60% em 2016. No entanto, como Lacerda, ela também aponta gargalos para voos mais ousados: “Um dos problemas é a entrega, pois, apesar do interesse em vários lugares, é preciso que seja uma venda grande para tornar viável o envio da cajuína para outros estados”.
O otimismo de ambos apoia-se na perspectiva de uma boa safra em 2015, depois de um período de seca que afetou as plantações de caju.
Além disso, produtores, representantes do setor e o Sebrae-PI têm trabalhado em conjunto para intensificar a presença da cajuína no resto do Brasil. Até porquê, além de ingerir algo saudável, quem a toma também consome história. O suco, descrito por Caetano como cristalino, foi reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Cultural Brasileiro.