Aos 20 anos de idade, mas já com quatro anos de experiência pilotando aeronaves, Rolim Adolfo Amaro atravessava os ares da Amazônia. Entre uma viagem e outra, transportando produtos agrícolas, material de construção e até animais a partir da fazenda Musiá-Missu, contraiu malária sete vezes. Por três anos, a partir de 1962, ele voou sozinho, por conta própria, e ainda cuidou da manutenção das aeronaves. Seu cliente, Orlando Ometto, seria determinante na história pessoal de Rolim e na trajetória da aviação comercial do Brasil.
Anos depois, Orlando compraria 51% das ações da TAM – Táxi Aéreo Marília S.A. –, uma empresa fundada em 1961 por uma cooperativa de pilotos que prestavam serviços aos produtores agrícolas na região de Marília, no interior de São Paulo. Na década seguinte, Amaro assumiria o controle da empresa. Nas mãos do comandante Rolim, a TAM deixaria de ser uma empresa de táxi aéreo de alcance estritamente regional e se tornaria uma companhia de transporte de passageiros de nível nacional.
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Não foi só o crescimento exponencial que marcou a gestão de Rolim. Com ele, a empresa se tornou uma referência no atendimento ao consumidor. Aeromoças gentis, treinadas para dar atenção redobrada aos clientes, se tornaram uma marca da companhia. Desde 1989, ficaram famosos o tapete vermelho à porta de aviões e a presença de Rolim na entrada de aeronaves e na linha telefônica batizada, de maneira autoexplicativa e literal, “Fale com o Presidente”. “O cliente nunca interrompe o nosso trabalho, nós trabalhamos para ele”, costumava dizer.
Casa de sapé
Nada na infância do comandante, porém, indicava que ele se tornaria tamanha referência, um dos empresários mais importantes do setor nos últimos 40 anos. Para imaginar que o menino pobre e sem recursos iria longe, seria preciso olhar além da pobreza de sua família, que vivia em Pereira Barreto, uma cidade pequena do interior de São Paulo. O espírito empreendedor e a paixão pelos aviões se manifestaram logo cedo.
Nascido em 15 de setembro de 1942, Rolim só estudou até a sétima série. Ele morava com os pais, Adolfo e Etelvina, e os quatro irmãos, todos mais novos do que ele, em uma casa feita de sapé, que não tinha luz elétrica nem banheiro. A partir de 1957, com apenas 15 anos, ele deixou os estudos para procurar bicos. A partir deste momento, tudo aconteceu muito rápido na vida do jovem.
Ele trabalhou como ajudante de caminhoneiro, cortador de madeira, aprendiz de escrevente e assistente de mecânico, até se mudar para a capital paulista, onde se tornou office-boy vestindo o primeiro terno, que comprou com seu próprio esforço. Com o dinheiro que conseguiu juntar em São Paulo, comprou uma lambreta e voltou para Pereira Barreto. Ali, vendeu a motocicleta para pagar o curso do aeroclube de Catanduva. Tudo isso em questão de poucos meses.
Já no ano seguinte, com 16 anos, Rolim terminou o curso de piloto. Mas faltava dinheiro para fazer a avaliação final – para conseguir os recursos, vendeu o pouco que tinha, de um relógio a discos. Com o brevê em mãos, viajou para Londrina à procura de uma vaga na empresa Táxi Aéreo Star. Não foi tão fácil. Num primeiro momento, ele se limitava a fazer a limpeza dos aviões. Dormia no próprio hangar e se alimentava com os restos dos lanches dos passageiros. Só podia entrar em uma aeronave como copiloto, e de vez em quando. O primeiro modelo que ele pilotou sozinho, depois de muita insistência, foi um Cessna 140 de dois lugares.
De piloto a dono
O ano de 1959 encontrou Rolim de volta ao interior de São Paulo. Em São José do Rio Preto, que na época recebia projetos agrícolas e industriais de grande porte, Rolim passou a pilotar um Cessna 170 pela Táxi Aéreo Riopretense. Dois anos depois, em 1961, mudou de emprego mais uma vez: tornou-se aviador da TAM. Foi como piloto da empresa que ele foi destacado para atender a Orlando Ometto na região Norte até 1965.
Casado com Noemy Amaro, em 1966, depois de uma rápida passagem pela Vasp, aceitou o desafio de voltar para a Amazônia e morar em uma casa simples em São Felix do Araguaia (MT), para trabalhar para o Banco de Crédito Nacional. Com o dinheiro, comprou seu primeiro avião, um modelo Cessna 170. Mas sofria crises de malária constantes, muitas vezes em pleno voo. Fundou sua própria empresa, a Araguaia Transportes Aéreos, que alcançou uma frota de 15 aviões em dois anos, maior do que a própria TAM, que naquele momento tinha apenas duas aeronaves e, focada no transporte de cargas, levava menos de 3 mil passageiros por ano.
Até que, em 1971, a convite do novo proprietário da TAM, Orlando Ometto, retornou à empresa como sócio minoritário. Logo no ano seguinte, fez uma proposta ao sócio e assumiu o controle da empresa. Imediatamente, comprou dez Cessnas 402, os primeiros aviões do país que tinham radar. Em 1981, a TAM alcançou a marca de um milhão de passageiros transportados.
Morte no ar
O primeiro cartão fidelidade de empresas aéreas brasileiras foi lançado pela TAM em 1993, quando a estratégia de dedicação total ao cliente já estava bem implementada. Em 1996, a empresa liderou a formação de um consórcio com outras duas empresas, LAN Chile e TACA, para negociar a compra de 150 aeronaves da Airbus – um acordo comercial inédito em terras sul-americanas, que dava maior poder às empresas e iniciava uma tentativa de integração regional. Em 2001, ano marcado pela inauguração de rotas para Buenos Aires e Frankfurt e também pela luta intensa do comandante para ver criada a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a TAM assumiria a liderança do mercado brasileiro.
Rolim, no entanto, teve pouco tempo para celebrar, algo que ele gostava de fazer em viagens de aventura com suas duas motos BMW e uma Harley-Davidson. Em 8 de julho, o helicóptero Robinson-44 em que ele estava caiu na região de Ponta Porã (MS). A área havia ficado famosa na história da empresa em 1982, com a inauguração de uma rota internacional, ligando Campo Grande a Assunção. Aos 58 anos, Rolim morreu como gostava de viver: voando.