Comecei a trabalhar com permacultura em 2010, em uma ecovila em Tamera, cidade no sul de Portugal. Portanto, meu contato inicial com a plantação foi em área rural. Quando comecei a trazer os conceitos que aprendi para a “quebrada”, onde atuo hoje com o projeto Periferia Sustentável, do Instituto Favela da Paz, logo vi que era possível resgatar o hábito de plantar na comunidade, praticando a chamada agricultura urbana.
Não foi algo simples de implantar. Ao contrário: foi preciso convencer as pessoas que era possível sim. Muitas reclamavam que não tinham tempo para cuidar de plantas; outras, da falta de espaço para o cultivo… entre outras desculpas que ouvi. Para cada uma delas, havia uma solução possível: se falta espaço, dá pra verticalizar a plantação; se falta tempo, a tecnologia pode ajudar. Afinal, o alimento de qualidade precisa ser acessível a todos.
Muito do que faço hoje no projeto é o que chamo de permatech, ou seja, desenvolvo novas tecnologias para automatizar as hortas verticais, com sensores de umidade e irrigação programada, por exemplo.
Além disso, o projeto tem o viés cultural de resgatar o contato com a natureza e, principalmente, de trazer de volta a essência do plantio entre a comunidade, para que produzam aquilo que comem.
E espero que, no futuro, mais pessoas tenham acesso à tecnologia para que resgatem o hábito de plantar o próprio alimento. Só assim vão poder comer de forma mais saudável, sabendo que aquele item foi cultivado organicamente e está cheio de nutrientes.
A agricultura urbana na cidade de São Paulo
Todo o nosso propósito por aqui é criar um ciclo energético da agricultura urbana, com soluções que usam tecnologia de baixo custo para expandir o acesso e ajudar até mesmo outros projetos dentro da comunidade.
Hoje, a agricultura urbana está em pleno desenvolvimento na cidade de São Paulo, com outros coletivos, assim como o nosso, incentivando as hortas comunitárias e a permacultura em pequenos ambientes que antes estavam ociosos. Isso incentiva a produção local de alimentos orgânicos e o comércio de itens excedentes diretamente do produtor, sem mais a figura de atravessadores. Isso gera renda e fomenta a economia do bairro – e eu, particularmente, acredito nesse futuro para São Paulo inteira, não só para a “quebrada”.
(*) Fábio Miranda é músico, permacultor e gestor de projetos em tecnologias sustentáveis do Instituto Favela da Paz, onde desenvolveu múltiplos sistemas de energias sustentáveis. Criou o projeto Periferia Sustentável, com foco na implementação de sistemas de energias renováveis e funcionais em comunidades periféricas da cidade de São Paulo e em todo Brasil.