Aos 16 anos, Beatriz Machnick já estava em seu segundo emprego. Ao chegar à grande sala com centenas de posições de atendimento de call center, olhou aquele mar de gente falando "boa tarde, senhora", "boa tarde, senhor", e avistou de longe o quadro dos melhores funcionários do mês. A primeira coisa que pensou foi: "Como é que eu faço para chegar lá?"
Desenvolveu, então, um método próprio para abordar os clientes e cobrar dívidas. "Eu não precisava dizer para eles que eles estavam devendo, eles já sabiam disso. Então, eu vinha com a ideia de oferecer uma solução para o problema deles", conta Beatriz, hoje com 32 anos, de seu escritório em um prédio de alto padrão no bairro Batel, em Curitiba.
De atendente a empresária em 6 anos
Criada em Colombo, na região metropolitana de Curitiba, Beatriz deu o salto de atendente de telemarketing a microempresária em seis anos. Cursando contabilidade à noite em uma faculdade particular - a Facinter, hoje Uninter -, conseguiu saltar do atendimento ao cliente para o departamento financeiro e, depois, fez estágio em bancos como HSBC e Citi. "Mas nunca passei em processo de trainee, por causa da minha formação e da exigência do inglês", diz.
Foi quando arranjou um emprego em uma consultoria, no entanto, que deu o salto de funcionária para empreendedora. Incentivada pelos ex-chefes, escreveu seu primeiro livro, aos 22 anos, sobre a fórmula que criou para o cálculo da cobrança de honorários advocatícios (desde então lançou outros dois, pela Editora Juruá). "O que acontece é que os grandes escritórios cobram valores milionários, enquanto a maioria dos advogados não tem o que comer. Então, eu resolvi criar uma fórmula. Mostrei para os meus chefes e eles disseram para eu escrever um livro sobre ela. E eu escrevi."
Histórias de empreendedorismo
Os chefes ficaram menos felizes quando, meses depois, Beatriz seguiu o conselho de um cliente e, em vez de trabalhar para os outros, abriu seu próprio negócio. Desde então, ampliou o foco de suas consultorias e de suas palestras, tirando a ênfase apenas do meio jurídico e entrando no discurso motivacional para homens de negócio.
Agora, percebendo que o mundo corporativo é povoado por gente rica, mas infeliz, ela adaptou seu discurso mais uma vez: quer ensinar empresários a atingir seus objetivos, mas com um toque de leveza. "Eu percebi que muita gente chega ao topo deprimida, com o emocional destruído", conta. Como atende a empresários de maior porte, mas também a pessoas que ainda almejam dar o grande salto no mundo dos negócios, ela sabe que precisa modular o discurso. Por isso, um de seus lemas é: "Nunca despreze os pequenos começos."
Voos no exterior
Além da equipe que trabalha na BM em Curitiba - onde tem dez funcionários -, Beatriz resolveu também bater asas no exterior. Alugou um escritório no coração de Manhattan, em Nova York. Não se trata de um investimento que ela e sócio (e também marido) Renan Rabelo fazem com facilidade: afinal, o negócio, embora tenha dobrado de tamanho em pouco tempo, ainda é relativamente pequeno: o faturamento de 2022 deve ficar em R$ 3 milhões. "A gente foi para Nova York no fim do ano passado e decidimos que era a hora", lembra. "Mas é claro que dá um frio na barriga."
O escritório em Nova York acrescenta um toque de marketing ao grupo BM, até porque a maioria dos empreendedores brasileiros com os quais ela tem contato reside na Flórida. Além disso, por enquanto, o espaço passa a maior parte do tempo fechado por enquanto, uma vez que os contratos nos EUA ainda estão começando a ser fechados.
Mas, muito em breve, o escritório de Nova York vai passar por seu primeiro grande teste: Beatriz está fechando uma turma para um treinamento motivacional e de gestão que vai acontecer na sede que ela abriu na Big Apple. Ela está reunindo 40 empreendedores brasileiros para dois dias de treinamento sobre ganhar dinheiro sem perder a leveza. Para garantir que mesmo quem ainda não tenha "chegado lá" se anime em participar, ela está cobrando o treinamento em reais. "São exatos R$ 2.297?, adianta.
Apesar de o preço ser acessível em comparação ao que grandes consultorias costumam cobrar para eventos do tipo, ela garante que o treinamento não ficará restrito a uma sala escura. O evento de dois dias vai incluir uma visita ao "rooftop" (terraço) do edifício do escritório e até um passeio de barco até a Estátua da Liberdade.