No início do século passado, um marceneiro ficou encantado com a capacidade que uma tribo de índios tinha de criar instrumentos de sopro que reproduziam cantos de pássaros. Ele resolveu aprender mais sobre a técnica e acabou por transformá-la em um negócio na cidade de Cachoeiro do Itapemirim (ES). Nascia assim, em 1903, a Fábrica de Pios Maurílio Coelho, que hoje produz 40 tipos de pios – nome dado a esses instrumentos que imitam sons de aves.
Como uma pequena empresa pode atrair e reter talentos?
“Meu bisavô, que dá nome à empresa, aprendeu com os índios puris, que usavam os pios para caça. Como ele era marceneiro e um entusiasta da caça esportiva, passou a fazer suas próprias peças em madeira e a melhorar a qualidade sonora dos instrumentos”, diz Fábio Coelho Marins, atual proprietário da fábrica.
Em pouco tempo o negócio cresceu e Maurílio passou a se dedicar apenas a ele. Chefe de uma família com 10 filhos, ele passou a ensiná-los o ofício, de modo que a nova geração desse continuidade ao negócio familiar. “Hoje represento a quarta geração da família no comando da fábrica”, revela Fábio.
Artesanato erudito
O empresário diz que teve os primeiros contatos com os pios ainda na infância, quando a empresa ainda era administrada por seu avô. “No fim de semana eu ia visitá-lo e brincava no pátio da fábrica. Por osmose a gente ouvia aquela sinfonia dos pios. Depois, enveredei pelo caminho da música no Rio de Janeiro, me tornei técnico em canto erudito, e quando voltei a Cachoeiro acabei assumindo os negócios”.
Há sete anos no comando da empresa, Fábio explica que os conhecimentos na área de música ajudam bastante na hora de encontrar a afinação dos instrumentos ou de criar modelos novos. “Sempre fui muito questionador. Quando tomei a frente dos negócios, quis conhecer cada etapa e entender por que era feito daquela maneira. Em alguns casos quebrei a cara, mas em outros consegui implantar mudanças que agilizaram ou aperfeiçoaram o processo”, afirma.
Atualmente, a fábrica produz 40 modelos de pios, que são vendidos como souvenires, brinquedos educativos, instrumentos musicais ou para auxiliar observadores de pássaros. “Fazemos muitas vendas por encomendas via site ou Facebook. Já recebemos pedidos de Estados Unidos, Alemanha e Dinamarca. Agora, estamos estudando trabalhar com representantes em outras localidades”.
O estabelecimento produz de 600 a mil instrumentos por mês e conta com oito funcionários, além de receber jovens infratores em regime de liberdade assistida. “Funcionamos com muita dificuldade, pois artesanato não é uma atividade muito valorizada no Brasil. Mas é algo que traz muito orgulho, pois é um legado da família que representa o nosso estado”, conclui Fábio.