Até meados dos anos 1980, o engenheiro agrícola Mário Calheiros de Lima entendia mesmo era de cana-de-açúcar, cultura predominante em seu estado, Alagoas. Só quando fez um projeto de recuperação ambiental é que teve de se aprofundar num assunto que não lhe era especialmente familiar: abelhas. Começou então um namoro que virou casamento. Como frutos da união, não apenas montou uma apícola como se tornou um dos pioneiros no investimento da própolis vermelha – uma substância que, de acordo com estudos iniciais, ajuda no combate ou na prevenção a alguns tipos de fungo, bactéria, vírus e câncer.
Seu trabalho com a própolis rendeu à empresa, no fim de março, um prêmio de competitividade concedido pelo Sebrae, pelo Movimento Brasil Competitivo e pelo Grupo Gerdau. Venceu na categoria Inovação, por transformar o produto das abelhas “em uma referência nutritiva e farmacêutica”.
Lima contava com seis anos de formado quando foi chamado, em 1987, para trabalhar com reflorestamento num projeto de uma indústria química. Como era um campo que não dominava, conversou com especialistas. “Vi que era possível desenvolver um trabalho com as abelhas para polinizar esses locais. Isso fez com que eu me aprofundasse bastante no tema, e eu acabei me tornando uma referência local em apicultura”, afirma.
O engenheiro logo notou que havia carência de produtos do setor em Alagoas. Criou, então, em 1997, a apícola Fernão Velho. Num primeiro momento, apenas produzia e vendia mel. Mas, numa viagem ao Quebec (Canadá), conheceu uma empresa de hidromel, bebida alcoólica feita a partir da fermentação de mel e água. Lima voltou ao Brasil e procurou pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas para fazer o produto por aqui.
A ideia deu certo, e Mário logo passou a pesquisar outros itens feitos a partir das abelhas. Foi assim que chegou até o vinagre de mel, obtido por meio da fermentação acética do hidromel. “É bastante usado na alta gastronomia, e praticamente desconhecido no Brasil. A partir dele nós investimos cerca de R$ 300 mil para criar uma unidade de produção gourmet, e já contamos com distribuidores em Brasília, Curitiba e Campinas”, relata.
Tesouro vermelho
Em meio aos constantes testes que Lima fazia com seus produtos em laboratórios e universidades, os pesquisadores começaram a notar propriedades incomuns nas própolis que saíam da apícola Fernão Velho. Havia indícios de que tem efeito antibiótico, antifúngico e antivírus, e ajudam a prevenir alguns tipos de câncer.
Os estudos da Universidade Federal de Alagoas detectaram que esse tipo incomum de própolis era produzido por conta das condições climáticas incomuns encontradas nos mangues alagoanos – embora mais pesquisas já tenham encontrado a substância em outras áreas do Nordeste. De qualquer maneira, há sinais de que seja um produto que não existe em qualquer região além dessa, nem no exterior.
Os achados iniciais levaram Lima a participar de um processo para obter a denominação de origem da própolis vermelha, uma certificação que designa itens cujas características se devem essencialmente aos fatores naturais ou humanos do meio geográfico onde são produzidos – como ocorre com o champanhe francês.
Após um investimento de mais de R$ 1 milhão, a apícola Fernão Velho já vende a própolis vermelha no Brasil, e agora pretende propagá-la no exterior, por meio de participação em feiras internacionais. A meta é iniciar as exportações no segundo semestre.
“Além disso, estamos trabalhando junto a laboratórios para lançar uma linha em pó desse própolis, para que ele possa ser usado na fabricação de medicamentos e cosméticos”, diz Lima. Com todos estes planos, a empresa, que faturou R$ 500 mil no último ano, espera crescer até 20% em 2015.