Após febre, paleterias diversificam produtos para sobreviver

Depois do boom dos picolés de inspiração mexicana no verão de 2014, empresas passam a vender fondue de chocolate, milk-shake e churros

11 nov 2015 - 07h00
(atualizado às 20h23)

“Nem só de paleta vive o homem.” A frase parecia não fazer sentido no verão de 2014, quando os sorvetes de inspiração mexicana caíram no gosto do público e começou a aparecer uma loja atrás da outra vendendo a iguaria. Mas não era preciso pensar muito para ver que o fim do tempo quente também impactaria negativamente no consumo do picolé. Depois da bonança e do refluxo, muita gente saiu do mercado. E quem ficou apostou na diversificação da oferta de produtos e sabores.

Empreendedorismo e franchising na contramão da crise

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João Amaury, o autor da frase, é sócio da Paleteria Paulista, no bairro do Tatuapé, em São Paulo. Ele foi um dos que surfaram na onda da paleta. "Achamos o negócio interessante, abrimos em dezembro de 2014 e tivemos fila logo no começo", conta o empresário. 

Depois do boom no verão de 2014, as paleterias tiveram de se virar para sobreviver em um mercado com muito mais competidores. A diversificação foi uma das saídas
Depois do boom no verão de 2014, as paleterias tiveram de se virar para sobreviver em um mercado com muito mais competidores. A diversificação foi uma das saídas
Foto: Divulgação

Sua loja, no entanto, não era a única paleteria do bairro. Nem mesmo da rua, na qual havia outras quatro. "Para oferecer algo diferente, nós começamos a fazer desenhos e a escrever nas paletas com cobertura de chocolate", lembra João. E a estratégia agradou os clientes, que postam até hoje fotos dos picolés decorados na página da loja no Facebook, que tem quase 200 mil seguidores.

Da mesma forma que percebeu que teria de oferecer um produto com algo mais, João também viu que a moda das paletas sofreria com o inverno e o excesso de competição. Passado o verão, a Paleteria Paulista diversificou a oferta, vendendo fondue de chocolate, milk-shake, chocolate quente e churros. "Colocamos produtos cuja base já era feita por nós em nossa fábrica de paletas", afirma o empresário, cujas paletas correspondem hoje a apenas 25% do faturamento.

Outro exemplo, a rede MexicasFest surgiu um ano antes do boom, em 2013. Como conta seu dono, Ricardo Santos, "o ano seguinte foi o da ascensão, foi excelente". Mas o empresário também sentiu os efeitos do refluxo do mercado. "Em 2015 não vendemos nem 30% do que tínhamos vendido no ano passado. Minha fábrica, que chegou a ter 14 funcionários, hoje funciona com três", diz Ricardo.

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A MexicasFest, que antes trabalhava em um sistema de franquia, passou a licenciar a marca, dando, assim, mais liberdade para quem decidisse adotá-la. "Com isso, nós demos opções aos nossos licenciados de venderem outros alimentos. Oferecemos um leque de produtos, como minichurros, comida mexicana e milk-shakes", afirma Ricardo, que diz ainda ter recomendado a diversificação aos lojistas: "Se ficassem só nas paletas, no inverno parariam de vender".

O empresário percebeu ainda que precisava reduzir custos, mas continuando a escoar a produção. "Muitas lojas fecharam neste ano, mas, em compensação, abrimos 50 pontos de venda, e hoje temos freezers com as paletas em 115 lugares", afirma o proprietário da MexicasFest.

Novos sabores

A Los Paleteros, por sua vez, aposta na qualidade de seus sorvetes, na oferta de novos sabores e no atendimento diferenciado para se manter no mercado.

"Quando o boom chegou, já éramos líderes do mercado – atingimos em torno de 1,1% do market share de venda de sorvetes em 2014, quando nosso faturamento cresceu 20%", diz Gean Chu, um dos fundadores e diretor-executivo da Los Paleteros, que tem 110 lojas em 13 estados.

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Percebendo que muitos dos novos atores do mercado apostavam em um produto de qualidade inferior, a estratégia da Los Paleteros foi manter a qualidade e lançar constantemente novos sabores. "Nós bolamos uma estratégia de apresentar ao menos uma nova paleta por mês, fizemos campanhas nacionais de TV e fomos um dos patrocinadores do Rock in Rio deste ano", conta Gean.

Com a experiência que tem, o diretor da Los Paleteros acha que o mercado de paletas agora está mais maduro: "Depois da crise, só sobreviveu quem trabalhou com profissionalismo e planejamento. Os pequenos aventureiros sofreram mais".

Gean vislumbra resultados melhores no verão, que as previsões indicam vir muito quente. “Já estamos com vários novos sabores preparados para lançamento, e achamos que teremos uns bons meses", afirma Gean.

João, por sua vez, acha que o próximo verão será a prova de fogo para a sua Paleteria Paulista. "Vamos trabalhar bem a marca e o produto, pois estamos pensando em começar a franquear." Na direção contrária – e também já escolado na montanha-russa das paletas –, Ricardo se mostra mais pessimista: "Acredito que 2016 vai ser pior, pois creio que a crise vai bater forte no próximo ano no bolso do consumidor".

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Fonte: PrimaPagina
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