Quem vai ao supermercado tem de parar na frente das prateleiras. Não dá para simplesmente pegar o produto e seguir com o carrinho de compras. É preciso comparar preços (qual óleo está mais em conta?), escolher marcas (este detergente funcionou melhor da última vez), ler embalagens (este iogurte é muito calórico, aquele pão de forma está para vencer). Só não é assim na seção de hortifrutigranjeiros: toda cenoura custa a mesma coisa, mal se sabe de onde vieram as laranjas, os ovos têm quase todos a mesma aparência. O máximo que se faz é selecionar os itens mais bonitos.
Food trucks: mobilidade atrai jovens empreendedores
Uma empresa do Ceará está tentando mudar isso. Com sede em Fortaleza, fundada há mais de 30 anos (1983), a Itaueira tem investido em qualidade. Criou a fruta de marca: cara própria, embalagem, nome da mercadoria exposto – e preço maior. Adotou a estratégia com vários frutos. O caso de maior êxito, até agora, foi o Melão Rei, também conhecido como “melão da redinha”.
A tática foi bem estudada. “Desde a fundação, foram cinco anos sem produzir nada, apenas estudando o mercado. Decidimos produzir caju, que chegava com qualidade muito ruim ao Sudeste”, conta a gerente de marketing, Adriana Prado.
O plano foi adotar uma variedade selecionada pela Embrapa, usar sempre cajus da mesma cor e do mesmo formato, transportá-los em cumbucas de plástico, embalados em PVC. “Começamos a chegar ao mercado em 1989 e logo fizemos sucesso nos Ceasas brasileiros: as frutas tinham uma vida na prateleira muito maior do que as da concorrência”, diz.
Depois de alguns anos de grande faturamento, surgiu um obstáculo não previsto: propriedades do próprio Sudeste lançaram-se no cultivo de caju de qualidade. Mais próximas dos grandes centros, tinham custos bem inferiores de transporte.
O jeito era mudar de ramo. “Foram nossos próprios distribuidores que sugeriram o melão, que antes chegava ao Sudeste amontoado em carrocerias de madeira, sem refrigeração. A produção nacional era toda voltada para exportação. O que era vendido em nossos mercados era refugo e quase não tinha sabor”, afirma Adriana.
Assim, em 1999 a Itaueira deu início ao plantio de melão no interior do Ceará. O diferencial era monitorar constantemente a plantação e colher as frutas apenas quando estivessem maduras – os concorrentes quase sempre colhiam todas de uma vez, para reduzir custos.
“Além disso, usamos sementes desenvolvidas junto com laboratórios, de modo a ter a variedade da fruta que apresentasse mais sabor para determinado tipo de solo. Também contamos com irrigação automatizada para não faltar água em nenhum momento”, explica a gerente de marketing.
Marca registrada
Numa estratégia tão bem planejada, curiosamente um dos pontos mais destacados surgiu por acaso. Após dois anos plantando melão, conta Adriana, as frutas passaram a ficar menores – característica, na época, associada pelos consumidores a sabor insosso. “Tivemos, então, a ideia de embalar dois melões pequenos com uma redinha, adicionando um selo que dizia ‘sou saboroso’. Isso venceu o preconceito do consumidor e hoje se tornou uma marca registrada da nossa qualidade.”
Atualmente, a Itaueira vende 75 mil toneladas de melão por ano. “Temos plantações em Ceará, Bahia e Piauí, que possuem estações de chuvas diferentes. Como o melão cresce no período de seca, ele possibilita trabalho para os produtores locais na época em que suas plantações não produzem. Quando a chuva volta, eles passam a trabalhar na própria terra”, diz Adriana.
O sucesso com os melões levou a empresa a diversificar. Desde 2012, vende melancias adotando o mesmo modelo. Agora, estuda se dedicar também a uvas. “Desde o começo nós sempre apostamos em vender satisfação, e tivemos um ótimo retorno. As pessoas estão dispostas a pagar mais por qualidade. O que elas não querem é pagar pouco e ter que jogar a fruta fora porque não tem sabor.”