Trace objetivos claros, identifique seus pontos fortes e fracos, planeje suas ações com precisão, e, ao entrar em uma competição, prepare-se para destruir seu rival. Todos esses conselhos parecem ter sido tirados de um manual de administração contemporâneo, mas não foram.
As três primeiras orientações saíram de um livro escrito há cerca de 2.500 anos pelo estrategista chinês Sun Tzu, que deu à sua obra o título de “A Arte da Guerra”. A quarta é uma adaptação de uma das várias recomendações que o pensador italiano Nicolau Maquiavel faz ao governante que quer se manter no poder em sua sua obra-prima “O Príncipe”, publicada originalmente em 1532.
Quem aponta a atualidade dos ensinamentos desses pensadores é o escritor Fernando César Gregório, autor dos livros “Aplicando Maquiavel no dia a dia” e “Aplicando a Arte da Guerra no dia a dia”, ambos publicados pela editora Madras. Formado em engenharia, direito e filosofia, Gregório trabalhou por muito tempo na administração pública, e aproveitou essa experiência nos “dois lados do balcão” para traduzir as lições de dois livros clássicos para o mundo empresarial.
Esses livros se mantêm atuais, segundo Gregório, pois analisam as relações humanas tomando como ponto de partida o princípio da dialética, segundo o qual todas as relações se baseiam em oposições de interesses conflitantes, e por isso o raciocínio contido nessas obras pode ser aplicado a qualquer situação da vida cotidiana. “De Sun Tzu para cá houve uma extraordinária evolução tecnológica e cultural, mas a essência humana não mudou. As grandes lições antigas de que o ser humano é vontade e as relações entre eles são uma dialética entre tese e antítese se prestam nos dias de hoje para pensar não só relações entre países, como entre empresas, famílias, pessoas, etc”, afirma Gregório.
Ao identificar esse princípio fundamental que rege as relações humanas, Sun Tzu e Maquiavel elaboram ensinamentos para atingir e manter o poder, afirma Gregório. Assim, de acordo com o escritor, Sun Tzu diz que para triunfar é preciso traçar objetivos claros, avaliar cuidadosamente os problemas envolvidos em uma operação, analisar as forças do inimigo, prevenir-se contra as ações deste, planejar bem suas ações, ter coragem para pôr os planos em prática, ser disciplinado e persistente, e, acima de tudo, avaliar bem tanto seus pontos fortes quanto seus pontos fracos. “Sun Tzu tratava os pontos fracos como os pontos frágeis das muralhas de um castelo, por onde o inimigo vai atacar”, conta Gregório.
Se o estrategista chinês se concentrou em como chegar ao poder, o pensador italiano se preocupou mais em como mantê-lo. “É interessante que Maquiavel diz que atingir o poder não é fácil, mas muitas vezes é mais difícil manter essa posição do que chegar lá. Quantas pessoas chegam lá e não conseguem manter o poder?”, comenta Gregório. Por isso, na maior parte de “O Príncipe”, Maquiavel diz o que um governante deve fazer para manter sua posição e evitar ser derrotado por seus inimigos.
De acordo com Gregório, o pensador italiano buscou inspiracão no pragmatismo dos dirigentes do Império Romano para formular as estratégias de sobrevivência que ele recomenda ao príncipe. Um exemplo é a tática da terra arrasada, empregada pelos antigos romanos. “Se você tiver um inimigo e for atacá-lo, não deixe ele sobreviver, porque ele vai te pegar depois. Transpondo isso para a área empresarial, se você entrar em uma competição com um concorrente, tem que ir para destruí-lo. É uma coisa bem cruel, mas é a realidade dessa dialética humana”, afirma Gregório.
Serviço:
"Aplicando Maquiavel no dia a dia". Fernando César Gregório. Editora Madras, 2008, 128 págs., R$ 14,90.
"Aplicando A Arte da Guerra no dia a dia". Fernando César Gregório. Editora Madras, 2013, 128 págs., R$ 14,90.