Mercado audiovisual cresce, mas ainda falta profissionalismo

26 fev 2014 - 07h00
(atualizado em 28/2/2014 às 11h25)

O mercado do audiovisual no Brasil está aquecido. Nos últimos anos, uma combinação de iniciativas governamentais e aumento do interesse de distribuidoras e canais de televisão pela produção nacional injetou mais dinheiro na área e fez aumentar a quantidade de séries, animações e filmes feitos no país. Tudo isso tem gerado boas oportunidades de negócios, mas as empresas do setor ainda esbarram na falta de profissionalismo.

A área de animação é um bom exemplo disso. O Brasil tem muitas ideias boas e o setor se aprimorou nos últimos cinco anos, mas ainda falta amadurecimento e conhecimento por parte de alguns empresários, afirma Daniela Vieira, diretora de conteúdo do Cartoon Network. “Falta visão de negócios. Somente colocar (o produto audiovisual) no ar não é retorno de investimento”, analisa.

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O boom do setor audiovisual se deve, em grande parte, a três fatores: a criação, em 2006, do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), por meio do qual o governo federal passou a investir diretamente no fomento da cadeia produtiva do setor; a entrada em vigor, em 2011, da Lei 12.485 – popularmente conhecida como Lei da TV Paga –, que obrigou os canais de televisão por assinatura a colocar, gradativamente até 2014, pelo menos três horas e 30 minutos de programação nacional; e o interesse crescente de distribuidoras e canais de TV por assinatura em investir em produções nacionais para aumentar sua identificação com o público brasileiro.

Espaço garantido

De acordo com a assessoria de comunicação da Agência Nacional do Cinema (Ancine), um dos principais objetivos da Lei da TV Paga é aumentar a produção e a circulação de conteúdo audiovisual brasileiro, diversificado e de qualidade, gerando emprego, renda, royalties, mais profissionalismo e o fortalecimento da cultura nacional. Pouco mais de dois anos após a promulgação da lei, os números mostram que as metas foram alcançadas.

Segundo a Ancine, a arrecadação de recursos para investimento na área cresceu 17 vezes entre 2012 e 2013 e o número de produções nacionais pulou de 1.926 em 2011 para 3.298 em 2013, de acordo com o registro de Certificados de Produto Brasileiro (CPB) emitidos pela agência. Tudo isso faz com que o Brasil ocupe hoje o 12º lugar na lista das maiores economias do setor audiovisual. Mas o governo almeja o quinto lugar e está dando incentivos à área.

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“O espectador já percebe a presença de novos conteúdos na programação dos canais. Hoje, os assinantes ligam a TV no horário nobre e encontram diversas alternativas de conteúdo nacional, e houve um movimento de estruturação de novos canais brasileiros nos pacotes ofertados”, informa o diretor-presidente da Ancine, Manoel Rangel.

“Hoje nossas produções são veiculadas no Cartoon Network, Boomerang, Tooncast América Latina, TNT, TV Rá Tim Bum e TV Cultura. Sem a lei, provavelmente estaríamos em apenas um, no máximo dois canais”, explica Mariana Caltabiano, roteirista e proprietária de um estúdio que leva seu nome.

Investimento público

Outra ferramenta que tem ajudado as pequenas e médias produtoras é o Fundo Setorial do Audiovisual, destinado ao desenvolvimento articulado de toda a cadeia produtiva da atividade audiovisual no Brasil. Ele é gerido pela Ancine e operado pelo Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE). No final de dezembro, foi anunciado um investimento de R$ 400 milhões no mercado. “Neste ano, o investimento do FSA representa três vezes mais do que os valores captados por meio das leis de incentivo fiscal no ano de 2013 (127 milhões de reais)”, informa Rangel, da Ancine.  

O Fundo Setorial tem viabilizado projetos de produtoras como a 44 Toons, especializada em produções para o público infanto-juvenil. “Estamos trabalhando com o Fundo Setorial desde 2010. Já apresentamos vários projetos”, conta Melina Manasseh, produtora executiva de audiovisual da 44 Toons. Melina acredita que toda a “burocracia” do sistema serve para que os recursos do fundo sejam destinados para empresas sérias. “Há laudos de especialistas para saber quais são os pontos fortes e fracos dos projetos”, que, para ela, ajudam na melhora destes.

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Não é todo mundo, no entanto, que recorre ao Fundo Setorial. Mariana Caltabiano, por exemplo, prefere trabalhar com recursos da iniciativa privada: “Trabalho com a 1A (1º artigo) da Lei do Audiovisual” – que permite captar recursos incentivados para a produção de obras audiovisuais brasileiras.

Interesse crescente

Por fim, além das iniciativas governamentais, há o interesse crescente de distribuidoras e canais de TV paga pela produção nacional. O Cartoon Network, por exemplo, já investia em animações nacionais antes da exigência do governo. “Já era uma questão estratégica para nós. Do ponto de vista da lei, nada mudou. Somente mudamos alguns horários na programação para atender a cota”, explica Daniela Vieira.

E é justamente por trabalhar com as produtoras nacionais que Daniela aponta o que ainda falta para as empresas desse mercado. Além de um maior amadurecimento de sua gestão, ela diz que os empreendedores do setor precisam abrir janelas no mercado internacional. “A produtora tem de pensar: meu projeto viaja internacionalmente?”, aconselha.

Outro ponto relevante levantado pela executiva do Cartoon Network é o grande gap na área de financiamento. Uma série de animação de 13 episódios demora 24 meses para ficar pronta. Para entrar no catálogo do mercado internacional, a temporada tem de ter entre 26 e 52 episódios. O problema é que algumas produtoras conseguem fazer a primeira temporada, mas, demoram a obter recursos para a segunda e até fazê-la são no mínimo mais dois anos. “Aí será preciso retrabalhar a marca”, explica a diretora de conteúdo do Cartoon Network. Daniela diz ainda que o canal sempre está buscando boas histórias. “Temos muito orgulho de representarmos (as animações) o Sítio do Pica Pau Amarelo e a Turma da Mônica”, completa.

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A Turner International  busca também aumentar a presença de seus outros canais (TNT, Warner Channel, Space, TCM e TBS muitodivertido) no mercado nacional investindo em uma programação com foco no público brasileiro. Para isso, o grupo anunciou este mês o novo vice-presidente e gerente dos Canais de Filmes e Séries no Brasil, Rogério Gallo, que tem o desafio de consolidar os canais de filmes e séries focando o público nacional.

A ampliação do mercado para os filmes brasileiros, aliás, é uma das metas da Ancine. Para isso, a agência tanto financia produções  com propostas de linguagem inovadora e relevância artística, como foca na linha de filmes de baixo e médio orçamento de produção – que receberão recursos para que sejam lançados em pelo menos dez salas de cinema. “Nós aportaremos um recurso rápido e direto que será pleiteado via produtor e contratado com o distribuidor. Isso reforça a lógica de que nós teremos toda a cinematografia nas telas”, explica Rangel. Ele acrescenta que o objetivo do governo é que cada filme brasileiro produzido chegue às telas das salas de cinema, das televisões aberta e por assinatura, do vídeo por demanda, do DVD e de todos os outros formatos e serviços que venham a surgir.

Fonte: PrimaPagina
Fonte: Terra
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