Com mais de 50 anos de história no setor de cosméticos e autocuidado, a Natura está aumentando seus esforços para levar inovação para seu ecossistema. Depois de criar o programa Natura Startups em 2016 para conectar empreendedores aos desafios de negócio da companhia, a multinacional está fortalecendo suas ações de open innovation por meio de aportes, projetos e parcerias comerciais.
O processo de transformação digital da empresa começou em 2012, junto com o surgimento do e-commerce da marca. Mas a virada de chave para trabalhar com startups veio quatro anos depois, quando a companhia abriu as portas para o ecossistema e começou a se relacionar de forma mais estruturada com os empreendedores. A partir de 2017, a mentalidade de criar metodologias ágeis em inovação digital já estava presente em todas as áreas da organização.
"O Natura Startups tem um time focado em conectar o lado de dentro e de fora da empresa, como se fosse uma consultoria interna de inovação com diversas verticais", explica Marina Almeida, gerente sênior do laboratório de inovação da Natura. Na prateleira, estão serviços como prospecção de startups, correalização de testes com as áreas internas da empresa e intraempreendedorismo, com a abertura para colaboradores traçarem oportunidades de negócios.
A proposta é capilarizar a inovação aberta nas empresas do Grupo em todos os países latinos onde ele atua, incluindo Argentina, Bolívia, Chile, México, Peru e Colômbia, além do Brasil. As startups têm a oportunidade de se conectar ao time de especialistas da Natura e às mais de 2 milhões consultoras de beleza da rede, além dos multicanais, geografias e marcas para testes e ganho de escala. Até hoje, cerca de 5.600 empresas foram avaliadas pela multinacional, que testou 136 soluções e estabeleceu pelo menos 53 parcerias comerciais. Atualmente, 54 startups têm relacionamento ativo com a empresa.
Criando conexões
Embora atue com bem-estar, cosméticos e autocuidado, a Natura olha para uma tese mais abrangente de inovação aberta, apostando em áreas que não necessariamente estejam no core business, mas impactam os negócios do grupo como um todo. "A Natura&Co é um grande ecossistema de diversos atores: as marcas, os parceiros e as consultoras. A geração de valor pode estar em startups de beleza, mas também logística, sustentabilidade, impacto positivo, entre outros", pontua Marina.
Exemplo disso é o Natura Pay, plataforma de serviços financeiros para consultoras e revendedoras lançada em 2020. A fintech oferece conta digital para receber e realizar pagamentos, transferências, consultar saldo, extrato e gerenciar as finanças. Em parceria com o Natura Pay, Instituto Natura e Natura Startups, a gigante de cosméticos está em etapa de seleção de startups que atuam com educação financeira, com o intuito de desenvolver soluções que apoiem as consultoras em temas de endividamento e gestão dos recursos.
Além disso, o Natura Startups tem um braço de corporate venture builder (CVB) para a criação de novos negócios. O projeto mais recente é o Innovation Challenge Bem-Estar, chamada feita em parceria com a consultoria The Bakery para fomentar a criação e o lançamento de 3 startups que promovam melhoria na saúde física e mental das mulheres.
A expectativa é que os empreendedores tenham suas ideias estruturadas e prontas para ir ao mercado, podendo receber até R$ 150 mil como suporte para a realização do MVP (mínimo produto viável). Depois, os negócios poderão levantar um aporte seed de até R$ 1,5 milhão para a aceleração da startup. A princípio, as empresas serão totalmente apartadas da Natura, mas a multinacional não descarta oportunidades de aquisição no futuro.
Na América Latina, a Natura&Co ainda não tem um fundo próprio de corporate venture capital, mas faz investimentos pontuais como no caso da Singu, plataforma digital de serviços de beleza criada por Tallis Gomes, empresário que fundou o Easy Taxi. Em 2020, a Singu recebeu um aporte de valor não divulgado e um ano depois já registrava crescimento de 250% no volume de pedidos. "Temos várias conversas sobre fazer um fundo de CVC, mas hoje não há um compromisso para lançar no curtíssimo prazo. Por ora, a estratégia é investir diretamente do balanço", afirma Marina.
Já na Europa, a empresa opera com o Fable Investments, fundo dedicado a startups de beleza e bem-estar. No ano passado, o veículo investiu na Perfumer H, marca de perfumes britânica com produção artesanal feita a partir de materiais reutilizáveis, mas o valor do cheque não foi divulgado. Meses depois, o fundo injetou 2 milhões de libras (cerca de US$ 2 milhões) na Stratia, marca de cuidados com a pele com sede em Los Angeles.
Em 2023, o objetivo é expandir o Natura Startups para as outras empresas e geografias do Grupo. "Levamos em conta o nível de maturidade do ecossistema empreendedor em cada país, então Chile, México e Colômbia provavelmente serão o foco. Ao mesmo tempo, o Peru tem puxado muitas inovações para o grupo Natura&Co. Apesar de o ecossistema não ser tão desenvolvido, o ambiente da organização é muito favorável por lá, então pode estar no roadmap". O desafio é expandir sem duplicar os times, mantendo a estrutura atual.
Cases estratégicos
Entre as ações de destaque do Natura Startups está a adoção do uso de drones para a realização de entregas de produtos da marca, a fim de otimizar a logística e reduzir emissões líquidas de gases de efeito estufa. O projeto foi feito em parceria com a Speedbird Aero, startup autorizada pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) a realizar entregas comerciais com aeronaves não-tripuladas no Brasil.
A gigante de cosméticos também tem o apoio da Audima, healthtech que converte textos para áudios e permite que os conteúdos digitais das empresas sejam ouvidos por seus clientes e colaboradores. Com a parceria, a Natura fomenta suas tecnologias de impacto positivo com serviços de áudio para sites web, viabilizando a inclusão digital de pessoas com deficiência visual. Para turbinar a força de vendas, a companhia conta com a ajuda da adtech Squid, que disponibiliza uma plataforma de métricas focada em projetos feitos entre a Natura e sua rede de Consultoras Influenciadoras e Treinadoras.
Junto ao time de sustentabilidade, o Natura Startups está realizando um piloto com as consultoras da rede, com o objetivo de incluir as parceiras na malha de logística reserva da companhia, engajando-as e as recompensando com benefícios financeiros quando participam descartando suas embalagens vazias. O teste está acontecendo nas cidades de Campinas e Sorocaba com a startup WasteBan, cleantech que conecta consultoras a um ecossistema de recicladores, sucateiros e pontos de coleta disponíveis e as recompensando com benefícios quando os descartes são feitos da forma correta.