A loja norte-americana Nasty Gal Vintage, com patrimônio líquido estimado em US$ 100 milhões, poderia ser apenas mais uma rede de sucesso que vende roupas femininas pela internet. Mas, capitaneada por uma jovem de 30 anos com uma vida pregressa que faz jus ao nome do e-commerce (algo como garota retrô indecente), virou referência em moda. Sophia Amoruso, fundadora e CEO, é o que no mundo fashion se chama de “it-girl”: uma mulher que cria tendências.
Pouco mais de uma década atrás, quase nada indicaria essa trajetória surpreendente. Sophia fugiu da casa dos pais aos 17. Trabalhava como porteira de uma escola de artes (conferindo a identidade dos alunos que entravam). Após maldigerir livros anarquistas, resolveu que furtar produtos não era algo especialmente grave. Em sua biografia, conta que surrupiava de tudo: vinhos caros, roupas, livros... Parte disso ela revendia depois, em lojas on-line... Até que, em 2003, foi pega tentando levar um George Foreman Grill. Não chegou a ser presa, mas levou um baque.
Foi para São Francisco, Califórnia, e decidiu que tudo deveria vir com esforço. Em 2006, enquanto cuidava de um problema de hérnia, leu um livro de autoajuda empresarial sobre como montar um negócio no site de leilões eBay. Foi nessa plataforma que abriu a Nasty Gal Vintage, loja de roupas e acessórios de visual antigo. O nome é inspirado numa canção que se tornou conhecida na voz da cantora de jazz Betty Davis, ex-mulher do trompetista Miles Davis.
Sophia vasculhava lojas para encontrar peças para o site de leilão. Produzia as fotos dos produtos e escrevia as legendas. Pinçou itens tão descolados que não era raro serem disputados em guerras de lances – algumas vezes entre consumidores de países bem distantes, como Reino Unido e Austrália. Após brigar com vendedores rivais, saiu da plataforma.
Comprou o domínio NastyGalVintage.com – então propriedade de uma empresa pornô – para abrir sua loja on-line. Mas em seu livro de memória ela diz que a experiência no eBay foi essencial para entender os clientes e a necessidade de estar em constante diálogo com eles. Não por acaso, Sophia foi uma das pioneiras em usar as mídias sociais para fazer negócios. No Facebook, desafiava os seguidores a propor títulos melhores aos produtos e os premiava com vales-compra. Usava modelos com cara de pessoas comuns – muitas vezes, suas amigas.
Sophia tem como mantra “vender somente coisas que compraria”. Foi uma das primeiras a misturar, num mesmo look, roupas caras e baratas, velhas e novas. Assim, criou um estilo e virou referência para um público voraz por moda e extremamente identificado com a marca.
Em 2008, contratou uma assistente de compras e passou a adquirir peças diretamente de fabricantes. O site começou a atrair a atenção de companhias de capitais de risco em 2010. Mas Sophia demorou a tomar uma decisão a respeito das propostas que recebia. Em 2011, mudou a sede da empresa para Los Angeles para estar mais próxima dos fornecedores.
Em 2012, o investidor Danny Rimer, da Index Ventures, colocou quase R$ 20 milhões na Nasty Gal, mas Sophia ainda mantém a maior parte da empresa. Por muito tempo, ela resistiu à entrada de investimento externo – algo incomum nas empresas de tecnologia. A explicação pode estar nas dicas que ela gosta de dar a empreendedores. Do mesmo modo como verifica se as pessoas que contrata acreditam na filosofia do negócio, acha que os investidores devem “ser alguém com quem gostaria de trabalhar”.