Queijo típico vira produto de exportação da Ilha de Marajó

Com regulamentação da produção, pequenos produtores aumentam sua renda e planejam vender para o Brasil e para o mundo

25 jun 2014 - 08h00
A técnica de fabricação do queijo da Ilha de Marajó é uma tradição passada de pai para filho há 200 anos
A técnica de fabricação do queijo da Ilha de Marajó é uma tradição passada de pai para filho há 200 anos
Foto: Thiago Araujo/ Divulgação

O queijo de leite de búfala é um patrimônio cultural da Ilha de Marajó, no Pará. Produzido há 200 anos seguindo uma técnica tradicional passada de geração a geração, é conhecido e apreciado em todo o estado como um produto artesanal de alta qualidade, mas até o ano passado não podia ser vendido fora da ilha por causa de restrições impostas pela legislação sanitária brasileira. Essa situação começou a mudar em 2013, quando a comercialização no estado do Pará foi liberada, e agora as centenárias queijarias da Ilha de Marajó querem conquistar o Brasil e o mundo. 

Como é feito com leite não pasteurizado, o queijo do Marajó tem que passar por uma rigorosa fiscalização sanitária para poder ser comercializado fora de sua área de produção, o que impedia as queijarias locais de venderem para fora da ilha. Para contornar essa situação, uma força-tarefa formada por produtores, pelo Sebrae, pela Secretaria de Estado de Agricultura do Pará (Sagri-PA) e pela Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará) elaborou o  Protocolo de Boas Práticas para os Queijos de Búfala do Marajó.

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O documento estabelece critérios mínimos de boas práticas na produção do leite e do queijo da Ilha de Marajó, o que inclui ordenha das búfalas e produção, armazenamento e transporte do produto. A partir desse protocolo e da lei nº 7565/2011, que trata dos produtos artesanais no Pará, a Adepará lançou, em março do ano passado, a portaria 418/2013, que regulamenta a produção e comercialização no estado do Pará do queijo do Marajó, como o produto é popularmente conhecido.

A abertura do mercado estadual já está tendo impacto na economia da ilha. “Tem queijarias que produziam 25 kg por dia e agora já produzem 60 kg/ dia”, afirma Péricles Diniz Ferreira de Carvalho, analista técnico da unidade de agronegócio do Sebrae Pará. Antes da regulamentação, o preço do quilo ficava em torno de R$ 24 para o consumidor, sendo que o produtor vendia para o atravessador por R$ 20/kg e seu custo de produção girava em torno de R$ 13/kg. “Hoje, o produtor negocia direto com os clientes, em sua maioria restaurantes, padarias e hotéis, e o preço chega a R$ 32/kg, o que representa um lucro melhor para o produtor, já que o valor do custo de produção continua semelhante”, conta Haroldo Palheta, presidente da Associação dos Produtores de Leite e Queijo do Marajó, que aprendeu seu ofício diretamente com o bisavô.

A regulamentação, aliás teve impacto tanto econômico quanto motivacional. “Além do fator emocional e o orgulho do produtor em ver o seu queijo legalizado, o produtor sente que agora existe a possibilidade real de aumentar sua renda com a legalização do queijo”, afirma Palheta.

De olho no futuro

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De acordo com números do Sebrae, hoje seis produtores já estão registrados para produzir o queijo de maneira regular. Ainda é pouco, tendo em conta que existem 60 queijarias na Ilha de Marajó. O plano é que com o tempo a regularização aumente, já que ela é mais vantajosa para o produtor, que lucra mais com a venda do produto, lida com o consumidor final e pode aumentar a empresa, contratar mais gente e aumentar a produção. “Agora os produtores conseguem financiamento porque o negócio é legal. A economia gira mais forte com a regularização do queijo”, defende Carvalho.

Agora, os produtores marajoaras querem conquistar o mercado nacional e, quem sabe, o internacional. O primeiro passo já foi dado, com o envio ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de um pedido de regularização do queijo em todo o Brasil. “Com a obtenção da autorização para comércio nacional, o produto passa a ser passível de exportação. Na realidade, os critérios de exportação são impostos pelos países importadores, então o tem que ser analisado conforme o caso”, esclarece Marcia Batista Penna, médica veterinária e gerente de Padronização, Certificação e Fiscalização de Produtos Artesanais da Adepará.

Animados com a possibilidade de vender para o exterior, os queijeiros marajoaras já solicitaram ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) o registro de denominação de origem. Com isso, o queijo do Marajó seria reconhecido como um produto único da ilha, garantindo a preservação das técnicas que fizeram sua fama.

Fonte: PrimaPagina
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