O empresário norte-americano John Davison Rockefeller foi um dos responsáveis por criar duas importantes instituições do mundo dos negócios. Uma do bem – a filantropia – e outra nem tanto – os cartéis. Fundador da primeira grande petroleira da história, a Standard Oil, Rockefeller combinou, durante toda a sua vida, duas atitudes aparentemente opostas. Por um lado, sempre contribuiu com a Igreja e outras instituições de caridade; por outro, fez fortuna utilizando práticas antiéticas – como acordos secretos, ameaças e dumping – para exterminar a concorrência.
Nascido em 1839, na pequena cidade de Richford, no estado de Nova York, Rockefeller é o protótipo do empreendedor que construiu um império partindo do zero. Filho de um artesão e de uma dona de casa, começou a ajudar no trabalho doméstico desde pequeno e ganhava um dinheiro extra vendendo batata doce, perus e até emprestando dinheiro aos vizinhos – desde que fosse vantajoso. Aos 16 anos, conseguiu o primeiro emprego como assistente de contador, onde aprendeu o que precisava para administrar um negócio.
Em 1859, abriu seu primeiro negócio. Ao lado do sócio Maurice B. Clark, levantou US$ 4 mil e começou a atuar no comércio de alimentos no atacado. Quatro anos depois, os dois decidiram mudar de ramo e se associaram ao químico Samuel Andrews para construir uma refinaria de petróleo na cidade de Cleveland, que foi inaugurada em 1863. Dois anos depois, Rockefeller comprou a parte de Clark na refinaria por US$ 72.500, o que o colocou em uma posição de comando dentro da empresa
O imperador do petróleo
Rockefeller assumiu o comando da refinaria em um momento estratégico. O óleo de baleia, usado como combustível na época, estava muito caro, o que abriu espaço para a exploração de novas fontes de energia. Com o fim da Guerra Civil Americana, em 1865, o petróleo despontou como um recurso vital para a expansão da economia norte-americana rumo ao Oeste, por meio da construção de ferrovias e de indústrias movidas pelo combustível. O empresário soube aproveitar as oportunidades. Tomando empréstimos e reinvestindo os lucros na empresa, Rockefeller se tornou proprietário da maior refinaria de petróleo do mundo.
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Em junho de 1870, ele abriu uma nova empresa, a Standard Oil, que nos anos seguintes se tornaria a administradora de praticamente todas as refinarias e transportadoras de petróleo dos Estados Unidos. Foi nessa época que Rockefeller passou a adotar práticas mais agressivas para aumentar a participação de sua empresa no mercado e, paulatinamente, eliminar a concorrência.
Ele começou fundando, em parceria com outros produtores de petróleo, a Companhia de Melhoramentos do Sul, empresa ferroviária que visava criar um cartel para controlar os preços dos fretes para o transporte do petróleo. Produtores independentes fizeram protestos e até boicotes para se opor às práticas adotadas pela transportadora, que chegava a dar 50% de desconto para as empresas associadas a Rockefeller. Quando descobriram todo o envolvimento da Standard Oil na ferrovia, o empreendedor recuou.
O impasse com a Companhia de Melhoramentos do Sul, no entanto, não diminuiu o ímpeto de Rockefeller. Ele continuou comprando refinarias concorrentes e pressionando por descontos para o embarque de seu petróleo para ganhar da concorrência. Também fez acordos secretos, até com inimigos declarados, que o beneficiavam.
A empresa crescia incorporando rivais e diversificando os negócios: a Standard Oil produzia desde vaselina até goma de mascar, além de trabalhar com sua própria rede de fornecimento e oleodutos. Assim, no fim da década de 1870 a companhia já era responsável por 90% do petróleo refinado e comercializado nos Estados Unidos. Quando questionado sobre as controversas práticas de sua empresa, respondia: “Em um negócio tão grande como o nosso, algumas coisas passam sem nossa aprovação. Mas as corrigimos logo que chegam ao nosso conhecimento".
A era das megacorporações
Em 1882, os advogados de Rockefeller criaram uma forma inovadora de centralizar o controle das várias empresas que formavam o império do empreendedor: a criação de um truste, grupo que controla diversas empresas de um mesmo setor, estabelecendo um monopólio sobre o ramo, controlando preços e impedindo o desenvolvimento de qualquer tipo de concorrência. A Standard Oil Trust inaugurou a era das megacorporações. Apenas nove pessoas, incluindo Rockefeller, comandavam 41 companhias.
Nos Estados Unidos, o império de Rockefeller incluía 20 mil poços domésticos, 4 mil quilômetros de gasodutos, 5 mil vagões-tanque e mais de cem mil funcionários. Mas a partir da década de 1880, novas descobertas na Rússia e na Ásia começaram a desafiar a proeminência da indústria norte-americana do petróleo. Nesse contexto, Rockefeller, que chegou a refinar 90% do petróleo mundial abriu mão de controlar 100% de todo o óleo disponível no planeta. Mas nem por isso ele abriu mão de começar a atuar na Europa, tornando-se uma das primeiras multinacionais modernas.
Ainda nessa época, o empresário inovou ao tentar influenciar o preço do petróleo bruto, exercendo o controle indireto ao alterar as taxas de armazenagem de petróleo para atender às condições de mercado. Também passou a ordenar a emissão de certificados de petróleo armazenados em seus dutos, que muitas vezes eram alvo de especulação. Na década seguinte, Rockefeller expandiu seus negócios para exploração e transporte de minério de ferro, entrando em rota de colisão com outro magnata: Andrew Carnegie. Em meio à expansão frenética, Rockefeller começou a preparar a sua aposentadoria, que só viria em 1911.
Na fase final de sua vida ele intensificou uma atividade à qual se dedicou desde cedo: a filantropia. Rockefeller financiou diversas universidades, como Yale, Harvard e Columbia, entre outras, além de financiar projetos em várias outras áreas, como educação, saúde e artes. Finalmente, em 1913, ele criou a Fundação Rockefeller, até hoje uma das maiores e mais importantes instituições filantrópicas do mundo.