A palavra “crise” vem do grego “krisis”, que significa momento de tomada de decisão que leva a mudanças. Apesar da carga pejorativa que tem em português, a crise pode ter um lado positivo, pois é um período que abre portas para inovações e saltos de qualidade. A própria história econômica nacional mostra isso. Foram crises que abriram caminho para o surgimento das grandes fazendas de café – que ainda fazem do país o maior produtor e exportador mundial do grão – ou para o início da industrialização pesada, que deu ao Brasil um papel de destaque entre as nações em desenvolvimento. Por isso, diante da crise atual o empreendedor não deve baixar a cabeça, pois em meio às dificuldades podem surgir grandes oportunidades para quem conseguir identificá-las. Confira a seguir uma lista das grandes crises econômicas pelas quais o Brasil passou desde a Independência e o que elas ensinaram ao país.
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Crise da Independência: A dificuldade de um é a oportunidade do outro
Quando D. Pedro I proclamou a Independência do Brasil (acima), em 1822, o país vivia uma profunda crise econômica. Na década de 1820, as exportações de açúcar – que haviam feito a fortuna dos fazendeiros do Nordeste por séculos – estavam em baixa, e o governo foi obrigado a tomar altos empréstimos na Inglaterra para indenizar Portugal pela Independência e financiar a Guerra da Cisplatina (1825-1828). A situação só começou a mudar na década de 1840, quando fazendeiros do Sudeste aproveitaram as oportunidades criadas pelo mercado internacional para transformar a exportação de café no novo motor da economia nacional.
Crise do Encilhamento: Cuidado com as bolhas especulativas
Quando o marechal Deodoro da Fonseca proclamou a república, em 1889, ele pretendia inaugurar uma nova era na economia ao autorizar vários bancos a emitirem dinheiro e fazerem empréstimos livremente para a população. A intenção do plano, capitaneado pelo ministro Ruy Barbosa (acima), era estimular os negócios e a industrialização, mas o resultado foi uma grande alta da inflação e uma enorme bolha especulativa que estourou em 1891. Uma série de falências e a inflação fora de controle afundaram a economia brasileira em uma crise que só foi superada no começo da década seguinte, quando o governo Campos Salles (1898-1902) realizou um duro ajuste fiscal para colocar as contas do país em ordem novamente.
Crise de 1929: Quando tudo parece estar contra, arrisque
A quebra da bolsa de Nova York, em 1929, teve graves consequências para a economia brasileira. A crise nos principais países compradores do café brasileiro derrubaram as vendas do produto e colocaram os fazendeiros locais em apuros. Na década de 1930, o governo de Getúlio Vargas (acima) chegou a comprar sacas de café e queimá-las, só para ajudar os produtores nacionais. Mas, mesmo diante de tantas dificuldades, Vargas fez uma aposta arriscada e começou a investir na criação da infraestrutura para o desenvolvimento da indústria pesada no Brasil. A aposta deu certo e abriu caminho para a industrialização do país ao longo das décadas de 1940 e 50.
Crise da dívida e hiperinflação: A prosperidade não é para sempre
O processo de industrialização abriu caminho para o “Milagre Econômico” brasileiro, quando o PIB cresceu a uma média de mais de 10% ao ano entre 1968 e 1973. Empolgado com a prosperidade, o governo do general Ernesto Geisel (1974-1979) tomou vários empréstimos nos Estados Unidos, mas em 1979 o governo norte-americano aumentou significativamente a taxa de juros, elevando muito o valor da dívida brasileira. Na mesma época, a inflação disparou. As dificuldades para pagar a dívida externa e a inflação galopante deram início à pior crise econômica da história do Brasil, que se arrastou por toda a década de 1980, apesar dos vários planos econômicos lançados durante o governo de José Sarney (acima). O cenário só foi revertido em 1994, quando o Plano Real finalmente conseguiu estabilizar a economia.
Crise da desvalorização do real: Aposte no mercado interno
O Plano Real estabilizou a economia, mas a um custo muito alto. Para manter o real valorizado e garantir os pagamentos dos juros da dívida externa, o governo de Fernando Henrique Cardoso (acima) aumentou muito os juros e privatizou várias empresas públicas, o que enfraqueceu a indústria nacional e deixou a economia brasileira muito vulnerável a turbulências externas. Em janeiro de 1999, a economia nacional não conseguiu mais resistir aos efeitos das crises asiática e russa, e o Banco Central promoveu uma grande desvalorização do real, o que provocou a quebra de bancos e um período de estagnação econômica que só foi revertido a partir de 2004, quando o governo de Luís Inácio Lula da Silva deu início a um processo de fortalecimento do mercado interno que abriu um novo ciclo de crescimento interrompido pela crise atual.