O empresário, produtor executivo e roteirista Walt Disney dizia que era divertido fazer o impossível. Olhando para sua trajetória como empreendedor, ele deve ter se divertido muito ao longo da vida. Na primeira metade do século 20, quando a indústria de entretenimento infantil ainda engatinhava, Disney criou uma das maiores empresas do mundo produzindo filmes de animação e criando parques para crianças. Dessa forma, construiu um mundo mágico e extremamente rentável ao aprender desde cedo um dos mandamentos do empreendedorismo contemporâneo: uma marca vale mais do que mil produtos.
Nascido em Chicago, em 1901, e criado em uma fazenda no estado do Missouri, nos Estados Unidos, Walter Elias Disney participou da Primeira Guerra Mundial como voluntário da Cruz Vermelha, pois não tinha idade suficiente para se alistar no exército. Depois de dirigir ambulâncias na França, voltou aos Estados Unidos, onde estudou Arte na Kansas City Arts School. Começou sua carreira em agências publicitárias, fazendo cartazes de propaganda de filmes.
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Pouco tempo depois, com a ajuda de seu irmão, Roy, e o amigo Ub Iwerks, fundou uma pequena produtora chamada Laugh-O-Gram e passou a fazer pequenos desenhos animados, que eram exibidos nos cinemas locais. Em sociedade com seu irmão, abriu, em 1923, a Disney Brothers Cartoon Studio, produtora de desenhos animados baseados em contos de fadas instalada em Hollywood. Neste mesmo ano se casou com Lilian Bounde, que trabalhava colorindo os desenhos. Walt sonhava com os projetos e Roy corria atrás do dinheiro necessário para realizá-los.
Lei Mickey Mouse
Os primeiros trabalhos de sucesso de Disney foram a menina Alice e o coelho Oswald, mas o autor acabou perdendo os direitos de exploração dos personagens para a distribuidora do desenho, a Universal. O golpe foi duro, mas a experiência ensinou a Disney uma lição de ouro para negócios baseados em criatividade: tão importante quanto conceber obras e personagens é transformá-los em marcas devidamente patenteadas e protegidas.
A perda dos direitos sobre o coelho Oswald levou Disney a transformar sua criação seguinte em um ícone da indústria do entretenimento: Mickey Mouse nasceu em 1928 e tornou-se o símbolo da Walt Disney Company. O zelo da empresa com o personagem é tão grande que a levou a pressionar o Congresso norte-americano para mudar a lei de direitos autorais no país.
Segundo a legislação norte-americana, toda obra artística cai em domínio público 70 anos após sua criação. Com isso, em 1998, a Disney perderia os direitos de exploração do camundongo mais famoso da história. Naquele ano, porém, o Congresso dos Estados Unidos aprovou uma lei de prorrogação do copyright que expandiu por 20 anos os direitos autorais de todas as obras norte-americanas que ainda não tivessem caído em domínio público. Assim, o personagem continuou protegido até 18 de novembro de 2018. Devido ao lobby dos estúdios Walt Disney pela aprovação da medida, ela foi apelidada de Lei Mickey Mouse.
A preocupação com Mickey se justifica. No mesmo ano de 1928, Disney produziu um curta-metragem de animação intitulado “Steamboat Willie”, que tinha o camundongo como estrela principal. O desenho foi um sucesso e, com a renda gerada, seu criador começou a produzir animações em série, cada vez mais lucrativas. “Nascido da necessidade, o pequeno companheiro Mickey Mouse literalmente nos liberou de uma preocupação imediata. Ele nos deu os meios para expandir nossa empresa para as dimensões atuais e para estender a mídia do desenho animado rumo a novos níveis de entretenimento. Ele significou a liberação da produção para nós”, declarou certa vez Walt Disney.
O lucro obtido com “Steamboat Willie” financiou o primeiro longa-metragem inteiramente animado da história: “Branca de Neve”. A produção foi um novo sucesso, o que levou Disney a investir em vários projetos. Nessa época, ele fez centenas de curtas-metragens com os personagens Mickey, Donald, Pluto, Pateta, entre outros. Além disso, passou a produzir filmes com atores, como “Se meu Fusca falasse”, e documentários de animais selvagens. A renda gerada por cada produção era utilizada para financiar novos filmes e projetos paralelos da empresa.
Disneylândia
Um desses projetos paralelos se tornaria a segunda grande fonte de renda da Disney: os parques temáticos. A ideia da Disneylândia surgiu quando as filhas de Walt Disney ainda eram pequenas: por que não construir um lugar em que pais e filhos pudessem se divertir juntos? Mas da ideia à realização foi um longo caminho, pois ninguém queria investir no projeto. Tanto que Walt teve de abrir outra empresa, sem o irmão – a W.E.D Enterprises.
A ideia era fazer com que as pessoas participassem do espetáculo criado pelos personagens de Disney e pudessem, assim, “deixar o resto do mundo para trás”. Disney, sem falar com o irmão e sócio Roy, gastou todo seu dinheiro no planejamento do parque e ainda pegou um empréstimo de US$ 100 mil, penhorando até sua apólice de seguro de vida.
A solução encontrada por Disney foi negociar com uma rede de televisão que financiasse o parque em troca de um contrato para um programa. E eles usariam o próprio canal para divulgar em grande escala a Disneylândia.
Em 1955, o parque foi inaugurado na Califórnia em parceira com a rede ABC, que investiu US$ 500 mil e concedeu um empréstimo de US$ 4,5 milhões. O programa de TV tinha o nome do parque e o próprio criador era o apresentador. Fez tanto sucesso que a rede ABC se transformou em uma das mais importantes dos Estados Unidos.
Mas a inauguração foi um caos: muitos falsificaram os ingressos e havia mais pessoas do que o planejado, a comida acabava nos restaurantes, algumas cercas caíram e filas imensas se formavam debaixo do sol. Walt Disney fechou-o por duas semanas e abriu após os ajustes. Inclusive, a partir deste episódio surgiu a Universidade Disney, que não só treinava os funcionários como transmitia a cultura da empresa. O empreendimento fez tanto sucesso que a Walt Disney Productions comprou as ações da ABC no parque.
A Disneyworld, na Flórida, outro sonho acalentado por Disney, foi inaugurada em 1971, alguns anos após da morte do empreendedor, que faleceu em Los Angeles aos 65 anos de idade, em 1966, vítima de câncer.