Na cabeça de muita gente, “Inteligência Artificial” é sinônimo de futuro, enquanto “sindicato” é sinônimo de passado. Uma maneira antiquada, ultrapassada de negociar as relações de trabalho, garantir direitos e deveres, estabelecer regras de conduta para a sociedade. Mas não é bem assim.
A IA é uma questão do presente. E os sindicatos, após um período de baixo prestígio em anos recentes, voltam a ser percebidos como interlocutores necessários.
É um movimento que se vê com clareza na Europa, na postura do governo Biden (até para fortalecer a produção local e se contrapôr à China) e em muitos outros lugares. Até nas empresas líderes em IA.
É o caso da Microsoft, que acaba de anunciar parceria com 60 sindicatos americanos para criar “um diálogo aberto” sobre o impacto da IA no mercado de trabalho, e como criar treinamento formal para os setores de trabalhadores mais atingidos. Com pontos bem detalhados sobre como se dará esta colaboração.
É a primeira iniciativa formal de IA entre um gigante da tecnologia e os sindicatos. Veja aqui todos os detalhes do acordo na comunicação oficial da Microsoft e AFL-CIO, a mais poderosa federação de sindicatos dos EUA.
Segundo a própria Liz Shuler, presidente da AFL-CIO, a parceria é “histórica” e “reconhece o papel crítico que os trabalhadores terão no desenvolvimento, implementação e regulamentação da IA”.
É isso. A IA vai impactar a educação, e tem que envolver os educadores; a saúde, e precisa dialogar com os profissionais de saúde; os metalúrgicos e advogadas e comerciantes. Do chão de fábrica às torres da Faria Lima, dos MEIs aos CEOs e todas as siglas entre uns e outros.
Os sindicatos mais atentos já perceberam e sabem que precisam meter a mão nisso. Serem agentes desta transformação.
A Microsoft foi a primeira líder em IA a assumir isso - e saiu na frente. Especialistas já comentam que este primeiro acordo pode estabelecer padrões para novas regras - e talvez, regulamentações - sobre o uso de IA no mundo do trabalho. É o que diz esta reportagem da Bloomberg.
Agora é ver como este processo avançará, envolvendo outras empresas e organizações sindicais e patronais - pelo mundo afora e também no Brasil.
(*) Alex Winetzki é CEO da Woopi e diretor de P&D do Grupo Stefanini, de soluções digitais.