Como alguém que desde 2017 não possui uma residência fixa e viaja o mundo enquanto trabalha de forma remota, estou sempre a procura de bases nômades adequadas, ou seja, cidades que tenham uma boa infraestrutura para o trabalho remoto e opções de lazer variadas.
Escolher uma cidade ao redor do globo (ou chapa, caso você seja terraplanista) para viver como nômade digital não é uma ciência exata. Às vezes acerto, às vezes quebro a cara.
Geralmente utilizo o Nomad List e/ou Numbeo para ter uma ideia do custo de vida de cada cidade e conferir relatos de outros viajantes. Ao selecionar uma base nômade, um lugar para morar e trabalhar por pelo menos 1 mês, baseio minhas escolhas através dos seguintes critérios:
- • Custo de vida
Meu orçamento mensal de viagem hoje é R$ 8 mil (não necessariamente gasto esse valor sempre) – sendo R$ 3 mil para acomodações (sim, dá para viajar gastando bem menos, mas detesto ficar em hostels e dou preferência para Airbnbs completos).
Dependendo do destino às vezes gasto um pouco mais, às vezes um pouco menos. Desde 2017 tenho sentido no bolso meu poder de compra em real despencar, por isso, tenho buscado países com a moeda desvalorizada e um bom custo-benefício – um dos motivos de eu ter voltado para o Sudeste Asiático.
- • Internet
Esse é um dos pontos principais. Eu adoraria ter a experiência de viver em uma cabana isolada em uma montanha no Sri Lanka, mas e a conexão de internet? Como não sou um turista tradicional em férias, preciso ter garantias de uma boa conexão de internet ao escolher um novo destino.
- • Opções de lazer
O que eu mais gosto em ser um nômade digital é a possibilidade de conhecer novas culturas. Portanto, sempre procuro por cidades que me ofereçam opções de lazer variadas – natureza, cafés, bares, museus etc.
- • Mobilidade
Uma coisa que sempre me irritou (e ainda irrita) no Brasil, principalmente em Santa Catarina, onde nasci, é que na maioria das cidades você precisa de um carro próprio (ou alugado) para se locomover. Por isso, exceto em ilhas, como em Koh Phangan, onde posso ir pra cima e pra baixo de motinho, dou preferência para cidades onde o transporte público é eficiente.
- • Segurança
Quando digo que “carrego meu escritório na mochila”, significa que viajo com meus equipamentos caros por aí. Dependo deles para trabalhar, portanto, preciso me sentir seguro quando fecho a porta do meu Airbnb e saio para dar um rolê. O Nomad List, mais uma vez, é um bom guia nessas horas, já que é possível conferir o índice de segurança de cada cidade.
Esses critérios, obviamente, são pessoais. Nenhuma cidade é perfeita, todas têm seus prós e contras.
Baseado nisso, listei as 10 cidades que mais gostei de viver como nômade digital. Elas não são, necessariamente, as que mais gostei de viajar como turista – também não são as mais baratas –, são cidades que tive a oportunidade de viver como um local de acordo com meus critérios pessoais.
1. Koh Phangan, Tailândia
Em meados de 2020 desembarquei no pier de Thong Sala, em Koh Phangan (ou Ko Pha Ngan), para umas miniférias de 1 semana. Fiquei 2 meses.
Eu adoro grandes capitais e, geralmente, elas são minha primeira opção. Porém, em Koh Phangan tive pela primeira vez a experiência genuína de viver uma vida simples numa ilha paradisíaca.
Todos os dias eu subia em minha motinho e cruzava belas paisagens para encontrar os vários amigos que fiz na ilha e tomar um café ou ver o pôr do sol de Zen Beach – um dos meus favoritos no mundo.
E o trabalho? A ilha, que fica no sudeste da Tailândia, tem sinal de internet melhor do que muitos apartamentos que já fiquei em São Paulo.
2. Canggu, Bali, Indonésia
Bali, um dos destinos queridinhos dos nômades digitais, está na moda há um bom tempo. Praias paradisíacas, coworkings moderninhos, internet boa, cafés hipsters, Airbnbs com piscinas de borda infinitas e toda uma cena tilelê de meditação, ioga e surf.
Bali, principalmente na região de Canggu, é um ótimo exemplo de cidade onde é possível encontrar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
3. Lisboa, Portugal
Quando se trata de destinos europeus para nômades digitais, poucas cidades podem competir com Lisboa. A capital portuguesa oferece uma combinação ideal de charme histórico, mobilidade e conforto.
A gastronomia é maravilhosa, há uma forte cultura de cafés e opções de lazer. Além disso, sua ótima localização permite que seja fácil se locomover para regiões litorâneas como Algarve e Ericeira.
O ponto fraco, atualmente, é o custo das hospedagens. Na última vez que estive na cidade, em 2019, o custo da maioria dos Airbnbs estava acima do meu orçamento da época e optei por me hospedar num… barco! Foi horrível. Ainda assim, a cidade segue sendo minha base favorita na Europa.
4. Cidade do Cabo, África do Sul
A Cidade do Cabo só não está em primeiro neste ranking porque o custo de vida não é lá tããão barato assim – porém, se o seu padrão é São Paulo, saiba que os custos das duas cidades são parecidos; com a diferença de que a qualidade de vida na cidade sul-africana é muito melhor.
Cosmopolita, vibrante, artística e abençoada com uma natureza exuberante, a Cidade do Cabo é, de longe, a cidade mais bonita que conheci.
5. Cidade do México, México
Se você conversar com qualquer nômade digital que viveu na Cidade do México, ouvirá opinões extremas: ou você ama ou você odeia a capital mexicana. Alguns adoram suas ruas caóticas e a riqueza cultural, outros reclamam da sensação de insegurança e dos congestionamentos.
Como você notou, a Cidade do México está no meu top 5 de cidades favoritas para viver como nômade digital. Particularmente, não me senti inseguro durante minha estadia – me hospedei no bairro de La Roma. Quando andava pelo centro, as medidas de segurança eram as mesmas de quando estou em São Paulo, por exemplo – pertences sempre nos bolsos dianteiros e nada de ficar no celular.
Dito isso, é uma das cidades mais vibrantes que já vivi. O povo mexicano é maravilhoso, a gastronomia nem se fala e a capital respira cultura.
6. Da Nang, Vietnã
Se você gosta de cidades como Florianópolis, Cidade do Cabo e Tel Aviv, vai gostar de Nang. A vibe é a mesma – só que muito mais barato. Cidade cosmopolita de praia com ótimos cafés, restaurantes e opções de lazer.
Além disso, Da Nang possui uma ótima localização para quem deseja conhecer outras partes do Vietnã – além de ter um aeroporto, está localizada entre as cidades histórias de Huế e Hoi An.
7. Belgrado, Sérvia
Nos últimos anos a antiga capital da Iugoslávia se tornou uma das queridinhas dos nômades digitais. Atraídos pelo baixo custo de vida, pela grande variedade de cafés e por seus belos parques, viajantes de todo o mundo tem escolhido Belgrado como base.
Além dos atrativos da cidade, há voos diretos e baratos de Belgrado para Croácia e Montenegro, países vizinhos com belas praias.
8. Bangkok, Tailândia
Assim como a Cidade do México, Bangkok divide opiniões. A primeira vez que estive na cidade, em 2017, odiei o caos e o calor fumegante da capital tailandesa. Três anos depois voltei com calma e… me apaixonei pela cidade!
Muitos nômades digitais preferem Chiang Mai, no norte do país, do que Bangkok. Porém, depois que você aprende o ritmo da cidade e, principalmente, aprende a se locomover fugindo dos grandes congestionamentos, Bangkok se mostra uma capital que une as tradições tailandesas com o que há de melhor em outras capitais asiáticas como Seul ou Tóquio – e pela metade do preço.
9. Buenos Aires, Argentina
A proximidade com o Brasil faz de Buenos Aires uma alternativa interessante para quem quer ter sua primeira experiência internacional sem ter que ir para muito longe.
Com menos de R$ 3 mil por mês é possível viver confortavelmente na cosmopolita capital argentina e ainda se dar uns luxos – como um Airbnb chique em Palermo, o bairro mais cool de Buenos Aires.
10. Istambul, Turquia
Fui parar em Istambul por acaso – meu voo da Rússia para a Geórgia foi cancelado após os países cortarem relações em 2019 – e me apaixonei pela diversidade da cidade turca.
Situada em dois continentes, Istambul é o ponto de encontro entre Oriente e Ocidente há séculos. Quando se trata de nomadismo digital, sua cultura de cafés, sua população jovem e o baixo custo de vida são vantagens substanciais.
A cidade é o lar de uma grande variedade de atrações culturais e culinárias – de mesquitas imponentes à áreas de bares da moda e bazares tradicionais. Em suma, você pode encontrar de tudo em Istambul.
(*) Matheus de Souza é escritor, educador e TEDx Speaker. Autor de "Nômade Digital", livro finalista do Prêmio Jabuti.