Na reunião que antecedeu o calote técnico da Argentina, na última quinta-feira, todas as lentes miravam os olhos verdes de Axel Kicillof. De camisa justa, largas costeletas e cabelos lisos cuidadosamente despenteados, o ministro da Economia criticava a recusa dos credores às propostas feitas pelo governo Kirchner.
Enquanto economistas quebram a cabeça para avaliar as consequências da negociação, o passe do economista de 41 anos se valorizava nas redes sociais. O ministro é uma das figuras mais comentadas pelos argentinos no Twitter. Em um mês, seu marcante sobrenome foi citado 100 mil vezes - apaixonada e raivosamente.
"Muita gente o vê como um símbolo, o cara que está defendendo a pátria", explica Márcia Carmo, correspondente da BBC Brasil em Buenos Aires. "Ao mesmo tempo, é apontado pelos críticos como o responsável pela dívida ter chegado onde chegou. É isso: ele está na berlinda."
Disputa
A comoção é tamanha que defensores e detratores frequentemente embarcam em brigas em seu nome.
"Invejável a capacidade e habilidade de oratória do ministro da Economia. Nesta tarde eu não conseguia acreditar...", disse @sil_176 pelo Twitter. "Não sabe ser ministro, não pode estar à frente de nada, é arrogante e mal educado", respondeu @IrenePol72.
"Kici", como também é chamado pelos argentinos na internet, aparece quase todos os dias na imprensa local. Na sexta-feira, por exemplo, o jornal Clarín publicou reportagem sobre os "memes" que envolvem o ministro - boa parte deles se referem à sua atratividade física.
Também não são raras as declarações de amor - vindas de homens, mulheres, jovens e idosos. "Me apaixonei pelo ministro da Economia", escreveu a jovem Isabella Pirchio na rede social. "Agora também temos o ministro da economia mais lindo", completou o usuário Luc Cifuentes.
Sofi Dubin, também pela rede, foi além: "Kicillof, te amo como ministro da Economia e te amo porque te amo, deixe tudo e case comigo".
'Brilhante'
Sucesso e polêmica, entretanto, vão além dos olhos verdes. Casado, pai de dois filhos, doutor em economia e professor da Universidade de Buenos Aires, o político costuma ser apresentado pela imprensa local como "aluno brilhante", graças ao "diploma com honras" que recebeu em sua formatura.
Ex-diretor da Aerolíneas Argentinas, Kicillof representa um setor político chamado La Cámpora, formado principalmente por jovens que apoiam o governo Kirchner. Em 2012, foi nomeado administrador da petroleira YPF, então recém-estatizada por Cristina Kirchner - razão pela qual costuma ser tachado de "comunista" pelo eleitorado mais conservador.
Ministro da Economia desde dezembro do ano passado, Kicillof é criticado, principalmente, pela "arrogância" e pelo palavreado informal que adota. O exemplo mais recente ocorreu na última quinta-feira, em reunião oficial, quando disparou: "Es una pavada atómica decir que hoy entramos en default" ["É uma estupidez atômica dizer que estamos a partir de hoje em calote"].
O termo pavada é visto como informal e pejorativo por parte dos argentinos.
Nas redes, a reação foi imediata: "Temos como ministro da economia um adolescente que diz 'estupidez atômica'... temos o que merecemos", escreveu Loli AP. "Um ministro graduado com honras dizer 'estupidez atômica' me dá vontade de fechar a Universidade de Buenos Aires", atacou a jovem Jess Pasteles.
Trapalhadas
Ainda que a economia costume ficar em segundo plano nas menções a Kiciloff, o "fã-clube" das redes o classifica como "defensor dos interesses do país".
"Um ministro que fala claro e direto, e sobretudo defende os argentinos", comentou Leandro Esperante, logo após o "calote técnico" contra os fundos especulativos. "Nos defende com unhas e dentes", disse Denise Magali, na mesma ocasião.
Por outro lado, o imbróglio no pagamento da dívida argentina também é classificado por muitos de "trapalhada". "Que castigo ter esse homem como ministro", escreveu Marcela Muza. "Kicillof, acha que nós somos ignorantes?", desafiou o usuário Guillote.
A presidente Cristina Kirchner, claro, está na ala dos elogiosos. "Muitos o tinham como jovem e inexperiente", disse, em maio deste ano. "Mas o problema de qualificados e não-qualificados é um eufemismo. Se você olhar para o que os especialistas fizeram neste país... melhor não se lembrar", completou.
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