Com vendas em alta, mas exportações em queda e produção estagnada, a indústria automobilística fechou quase mil postos de trabalho em março, mantendo um quadro de 130 mil funcionários, o menor contingente mensal desde janeiro do ano passado.
Os cortes fazem parte de ajustes promovidos pelas empresas, diz a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Ocorreram no mesmo mês em que a Honda inaugurou em Itirapina (SP) uma fábrica que ficou fechada por três anos, em razão da crise, e não gerou vagas. Os 450 trabalhadores iniciais foram transferidos de outra unidade do grupo em São Paulo e o mesmo deve ocorrer com futuros postos.
A produção de veículos caiu 10% em relação a março de 2018, em parte por causa de o mês ter um dia útil a menos, da paralisação de trabalhadores na Ford de São Bernardo do Campo (SP) em protesto contra o anúncio de fechamento da unidade e inundação, pelas chuvas, na fábrica da Mercedes-Benz na mesma cidade, que afetou as atividades por alguns dias.
No trimestre, a produção está 0,6% abaixo do volume de 2018, com 695,7 mil unidades, enquanto as exportações despencaram 42% no período, para 104,5 mil unidades.
"As exportações do primeiro semestre já estão comprometidas em razão da queda do mercado argentino, de onde as notícias não são boas", diz o presidente da Anfavea, Antonio Megale. O mercado do país caiu à metade em razão da crise cambial, e as exportações brasileiras diminuíram de 136,6 mil unidades no primeiro trimestre de 2018 para 61,7 mil neste ano.
Embora mercados como México e Colômbia tenham apresentado crescimento de encomendas, estão longe de suprir a parcela da Argentina. O país vizinho respondia por 75% das exportações de carros no ano passado, porcentual que hoje está em 60%.
Segundo Megale, é possível que a entidade tenha de rever para baixo sua projeção de exportações para este ano, de 590 mil veículos, volume que já é 6% inferior ao do ano passado.
O México, hoje responsável por 13% das exportações brasileiras, começa a sentir dificuldades em atender o novo índice de conteúdo local de peças nos veículos destinados ao Brasil no sistema de livre comércio entre os dois países, em vigor desde o mês passado. O novo regime também alterou a regra de origem dos componentes. Em razão disso, os governos dos dois países vão se reunir em breve para reavaliar a regra e, segundo Megale, "pode ser mantido ou não o livre comércio".
Montadoras dos dois países preferem a manutenção, por algum tempo, da regra de cotas que, no ano passado, não foi atingida por nenhuma das partes, ficando abaixo do limite do comércio bilateral sem imposto de importação.
Vendas em alta
O mercado interno, por outro lado, segue em recuperação e registrou, até março, crescimento de 11,4% em relação aos três meses de 2018, com 607,6 mil unidades, o melhor trimestre desde 2015. "A base de comparação ainda é baixa (em relação ao período antes da crise), mas os consumidores já se sentem mais seguros para voltar a comprar", diz Megale. Também há um aumento de vendas para serviços de transporte por aplicativos e frotistas.
Dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) mostram que, em março, 48% das vendas de carros e comerciais leves foram diretas, ou seja, das fábricas para pessoas jurídicas ou com necessidades especiais, com altos descontos. No trimestre, a participação está em 43%.
Mesmo com as constantes revisões para baixo do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano, a Anfavea mantém a previsão de aumento de 11,4% nas vendas este ano (para 2,86 milhões de unidades) e de 9% na produção (3,1 milhões).
Megale ressalta que o relatório do Banco Central sobre o biênio 2017-2018 mostra que o setor automobilístico representou um terço do crescimento industrial do País e um quarto do crescimento total do PIB.
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