Washington Olivetto foi o principal rosto e o ego principal de gerações de profissionais que tornaram nas últimas décadas a publicidade brasileira uma das mais criativas e premiadas do mundo. Hiperbólico, era uma dessas pessoas inesquecíveis. Bastava estar com ele poucos minutos para, fosse qual fosse o tema, ser bombardeado por frases ferinas, comentários espirituosos, histórias variadas.
Se o tema fosse Corinthians, então, a conversa podia beirar o interminável. Inesquecível, como muitas das campanhas que criou, como "O primeiro sutiã (ninguém esquece)", para a Valisère. Olivetto foi um dos 100 maiores publicitários de todos os tempos, conforme escolha da revista Advertising Age.
O publicitário, que tinha 73 anos, ficou quase cinco meses internado no hospital Copa Star, no Rio. "O Hospital Copa Star lamenta a morte do paciente Washington Olivetto na tarde deste domingo, 13, e se solidariza com a família e amigos por essa irreparável perda. O hospital também informa que não tem autorização da família para divulgar mais detalhes", divulgou o Copa Star, em nota.
Tinha 50 anos quando foi vítima de um sequestro, no final de 2001, que durou quase 2 meses. No dia 11 de dezembro daquele ano, uma terça-feira, o carro que no início da noite o levava para casa, em Higienópolis, foi parado numa falsa blitz da Polícia Federal. Era um grupo formado por ex-guerrilheiros chilenos e argentinos. O motorista foi agredido e OIivetto transferido para outro carro e levado para um imóvel no Brooklin, na zona sul paulistana. Ali ele ficou por 53 dias, num cômodo de 1 metro de largura por 2,5 metros de comprimento, sem janela, construído na casa para o cativeiro. Passou todo o tempo no quartinho com a luz acesa e música alta.
No início de fevereiro de 2002, uma investigação da inteligência da PF chegou ao líder do sequestro, o chileno Maurício Narambuena, que estava morando numa chácara em Serra Negra, no interior paulista, com parte do grupo. Os que tomavam conta do cativeiro abandonaram o local, deixando Olivetto preso no quartinho. Olivetto desconfiou que estava sozinho e começou a gritar. A vizinha, uma médica, começou a ouvir um barulho estranho e com um estetoscópio ouviu os gritos de socorro. A polícia foi avisada e o publicitário libertado.
Numa reportagem do caderno Aliás, do Estadão, que comentava a parceria, "Quero ser Washington Olivetto", o repórter Christian Carvalho Cruz escrevia: "Tem uma coisa que você não deveria ter, se fosse ele: pudor de repetir e repetir as suas tiradas, que são boas mesmo - minha ambição é fazer propaganda que entre para a cultura popular, porque aí o consumidor vira mídia... e mais uma profusão de etcs". Olivetto realmente conseguiu e nunca teve pudor de falar disso.
Olivetto deixa boa parte de sua vida contada em livros. Como "Corinthians: é preto no branco" e "Só os patetas jantam mal na Disney". "Direto de Washington - W. Olivetto por ele mesmo", de 2018, é o que melhor conta sua vida e obra. Uma sinopse do livro feita, pela Livraria Florence, dá a dimensão do livro, que é o de sua vida e obra. "Neste livro ele conta algumas histórias que ajudam a compreender como o grande publicitário criou o seu melhor personagem: ele próprio. Washington Olivetto é o publicitário que não quis ser apenas um grande publicitário. Resolveu ser um homem de negócios que se transformou num pop star. Ganhou o primeiro Leão de Ouro do Brasil em Cannes, conquistou todos os prêmios da publicidade mundial, entrou para o Guinness Book of Records, inspirou personagem de novela, virou letra de músicas de sucesso, nome de pratos em restaurantes famosos, selo do correio do seu país, vice-presidente do seu time de futebol, cidadão carioca sendo paulista, commendatore italiano sendo brasileiro. Washington Olivetto está no Lifetime Achievement do Clio e foi o primeiro não anglo-saxão a entrar para o Hall of Fame do One Club de Nova York."
Quando fez 70 anos, em 2021, recebeu uma curta, mas bela homenagem, de quem, para muitos do meio, dividiu com Olivetto a coroa da propaganda brasileira. O baiano Nizan Guanaes, em uma pequena nota citada pelo jornal Correio da Bahia, dizia: "Washington Olivetto estava predestinado a ser o maior publicitário de todos os tempos: nasceu no dia 29 de setembro, dia de São Gabriel, o anjo da Anunciação. Além de ser o melhor, Washington foi o patrão mais generoso, divertido e inspirador que eu já tive".
Por esta época, num depoimento ao Museu da Pessoa, fez uma reflexão, que pode ser um excelente conselho a quem aceita conselhos: "Tem uma coisa que eu recomendaria pra qualquer garoto. Acho que uma coisa que fez um bem danado pra minha vida foi o fato de que eu, intuitivamente primeiro, e organizadamente depois, ter quando muito novo sempre convivido com gente mais velha e depois de mais velho, sempre convivido com gente mais nova. Acho que é isso que faz a minha vida. Assim como sempre que fui empregado me comportei como se fosse o dono e quando eu passei a ser o dono, passei a me comportar como se fosse empregado, o que chega primeiro, é mais cordial. São pequenos truques que vão fazendo as coisas."
Numa de suas últimas entrevistas, para Michelle Trombelli e Roberto Nonato na rádio Novabrasil, em janeiro de 2024, Olivetto falou do que considerava a falta de brilho da publicidade brasileira atual, atribuindo o fato a uma briga entre a publicidade online e offline que surgiu a partir do crescimento da mídia digital. "Não está com o brilho que havia na publicidade brasileira particularmente até os anos 90. São poucas as campanhas que tive o privilégio de fazer, como o Garoto Bombril, o cachorrinho da Cofap, a menina do primeiro sutiã e outras que não tive o privilégio de fazer, mas que admiro como 'Skol desce redondo' ou 'Não é uma Brastemp'. Neste momento a publicidade está sem este brilho." Brilho pelo qual foi um dos principais responsáveis. Para o ego de W, certamente o principal.