O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou, nesta sexta-feira, 6, logo após o anúncio do acordo firmado entre o Mercosul e a União Europeia, durante encontro da cúpula do bloco latino-americano em Montevidéu, no Uruguai. Apesar de ter adotado um tom agregador, o petista falou especificamente sobre as carnes brasileiras, que foram alvo de críticas nas últimas semanas por parte de parlamentares franceses contrários à aliança entre os dois blocos.
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"Nossa pujança agrícola e pecuária nos torna garantida a segurança alimentar de vários países do mundo, atendendo a rigorosos padrões sanitários e ambientais. Não aceitaremos que tentem difamar a reconhecida qualidade e segurança dos nossos produtos. O Mercosul é um exemplo de que é possível conciliar desenvolvimento econômico com responsabilidade ambiental", disse o presidente.
A questão da responsabilidade climática era um dos pontos de questionamento feitos pela França sobre a qualidade das carnes brasileiras. Em resposta, Lula listou uma série de medidas de cunho ambiental que o Brasil deverá propor para o Mercosul com relação ao agronegócio.
"O Brasil vai propor o lançamento de um programa de cooperação para agricultura de baixo carbono e promoção de exportações agrícolas sustentáveis do Mercosul verde. Nosso bloco tem uma oportunidade histórica de liderar a transição energética e enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas", afirmou.
A questão ambiental, inclusive, tomou parte considerável do discurso do presidente brasileiro no que se referia ao acordo entre Mercosul e UE. Ao encerrar o tópico, Lula convidou os países membros do Mercosul e da União Europeia a apresentarem Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC) "ambiciosas".
Assinatura do acordo Mercosul-UE
O Mercosul e a União Europeia anunciaram nesta sexta-feira, 6, um acordo entre os dois blocos, que é negociado há 25 anos e pode criar um mercado de mais de 700 milhões de pessoas.
"Esse é um dia histórico, um marco. Trata-se de um acordo equilibrado e ambicioso", afirmou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que viajou a Montevidéu, no Uruguai, para o anúncio.
Muito além de uma relação estritamente comercial, o acordo entre Mercosul e União Europeia abrange também questões políticas e sociais. Porém, pelo viés econômico, as trocas comerciais entre os países do bloco são o que acabam chamando mais a atenção.
Na prática, o acordo pode criar o “maior mercado do mundo”, segundo explica o economista e doutor em Relações Internacionais, Igor Lucena.
O professor de Relações Internacionais da ESPM, Roberto Uebel, acrescenta que anualmente são transacionados bilhões de dólares entre os 27 países da UE. Esse seria, então, o “maior acordo entre blocos do mundo”.
Ele resume a parte comercial do acordo como um “livre acesso”. “Com diminuição de barreiras, isenção de tarifas para a circulação de produtos primários entre os países dos dois blocos, a concessão de licenças exclusivas para os produtores dos dois blocos e também o acesso facilitado aos mercados”, afirma.
Para começar a ser implementado, porém, o acordo ainda precisa ser ratificado pelos parlamentos dos Estados-membros da União Europeia. É nesse momento que é esperada uma ação coordenada da França e de outros países opositores para tentar barrar o avanço do acordo, ao menos nos moldes atuais.