Caso Nego Di: vítima revela que perdeu R$ 30 mil após cair em golpe

Homem fez empréstimo para comprar itens com o intuito de revender e pagar um tratamento médico; situação quase o fez tirar a própria vida

15 jul 2024 - 22h06
(atualizado às 22h10)
Nego Di foi participante do Big Brother Brasil de 2021 (BBB21)
Nego Di foi participante do Big Brother Brasil de 2021 (BBB21)
Foto: Globo

Para Carlos*, Dilson Alvez da Silva Neto, o Nego Di, parecia confiável. Ao ver o influenciador, agora preso por estelionato, anunciando aparelhos de ar-condicionado abaixo do preço de mercado, viu um negócio em potencial. Isso porque ele precisava de dinheiro para pagar um tratamento médico e, revendendo os itens, conseguiria levantar essa grana. Carlos*, então, fez um empréstimo de cerca de R$ 30 mil para comprar os produtos, mas nunca os recebeu. Ele também não teve o valor reembolsado.

Carlos, nome fictício da vítima que não quis ter sua identidade revelada, é uma entre as 370 pessoas que denunciaram Nego Di por golpe em 2022. Segundo as investigações da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, o influenciador vendia produtos da loja virtual 'Tadizuera', em esquema que teria Anderson Boneti como autor intelectual. A fraude alcançou receita de mais de R$ 5 milhões na conta da empresa.

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Ao Terra, a vítima contou ter chegado a um "nível de depressão grande" quando não sabia mais o que fazer e sua dívida de empréstimo já estava vencida. Por estar desempregado, com filhos dependendo da sua renda, chegou a cogitar tirar a própria vida.

"No entanto, fui amparado pela minha família e amigos para não proceder dessa forma", diz. "Minha história chegou ao Nego Di, que me contatou via WhatsApp, prometendo meu reembolso, e que o tal Anderson faria o pagamento. Falei com o Anderson e ele me enrolou por mais e mais tempo... e nunca mais recuperei meu dinheiro, muito menos os produtos. Obviamente, já tinha feito um B.O. [boletim de ocorrência] na polícia e estava na expectativa de o caso ser investigado e chegar a um desfecho".

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Desculpa após desculpa

A loja 'Tadizuera', segundo a Polícia Civil, começou a operar no dia 18 de março de 2022. Também foi nesse mês que também começou o caso de Carlos, que se deparou com publicações de Nego Di anunciando a venda de aparelhos de ar-condicionado nas redes sociais.

Quando os prazos de entrega se esgotaram e Carlos questionava a empresa, era Anderson que respondia em nome da loja e, segundo a vítima, dava desculpa atrás de desculpa. "Porém, o Nego Di voltava à sua rede social e pedia que tivéssemos tranquilidade, que não era golpe, que a loja era dele e que podíamos confiar", explica.

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Com os novos prazos estourados, Carlos e outras vítimas se uniram e criaram grupos no WhatsApp para pressionar Nego Di. 

"Ele sumiu por um tempo e depois apareceu dizendo que foi vítima de golpe também, mas que ressarciria as pessoas para não deixar ninguém 'na mão' e não prejudicar as pessoas. Ele ressarciu algumas pessoas, [com] valores pequenos, os mais barulhentos, que estavam liderando protestos, para tentar calar o povo e acalmar as coisas", acredita Carlos.

Em prints aos quais a reportagem teve acesso, Carlos aparece cobrando Nego Di pelo WhatsApp a partir do dia 7 de julho de 2022, há dois anos. No dia 11 daquele mesmo mês, Carlos reforça seus pedidos: "Bom dia, Di. Novidades sobre meu estorno? Hoje vence meu empréstimo, não tenho de onde tirar $ [dinheiro]. Preciso de ajuda!". Ele ficou sem resposta.

Nos dias seguintes, como no dia 12, o influenciador dá esperança a Carlos: "Cara. Estou correndo aqui. Acho que vai sair teu estorno hoje! Fica tranquilo". Na sequência, Nego Di encaminha o contato de Anderson e pede para que a vítima entre em contato com ele para receber o valor que investiu.

Carlos seguiu a orientação do humorista e no mesmo dia chamou Anderson e enviou seus dados, mas continuou sem receber o prometido via Pix – o mesmo método usado para a compra dos itens.

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Mais um contato com Nego Di

Três dias depois, Carlos chamou o Nego Di mais uma vez: "Bom dia, Dilson. Cara, mais um dia se passou. E nada do meu estorno. To vendo que não vou receber nunca essa grana. Me afundei com essa, não tenho como sair desse buraco!". Mais uma vez, Nego Di deu esperanças, mas não resolveu a situação.

A última conversa com um dos representantes da 'Tadizuera' que Carlos compartilhou com o Terra é referente a novembro de 2022, quase oito meses após ele ter investido cerca de R$ 30 mil nos produtos da loja. O diálogo, dessa vez, foi com Anderson:

Carlos: Cara, sinceramente, tu conversa só comigo ou com mais alguma vítima? Tu tá me empurrando mês a mês cara….

Anderson: Somente com vc

Carlos: Então irmão. Me ajuda cara!

Anderson: Assim que o valor tiver disponível farei seu pix. Com relação às pessoas [outras vítimas] quem vai acertar é o ministério público. Será feito um acordo lá para devolução de todos os valores pagos. Como esses acordos demoram vou mandar o seu e colocar no acordo que vc já recebeu e bola pra frente

Como reforçou ao Terra nesta segunda-feira, 15, mais de dois anos após o ocorrido, Carlos seguiu sem receber nenhum real. "Não conheci ninguém [das vítimas] que recebeu", complementou.

Conforme apurado pela reportagem, por mais que Nego Di afirmasse que a loja virtual fosse de sua propriedade, apenas Anderson Boneti aparece como responsável no cadastro da microempresa. Além disso, segundo o Regularize, portal digital de serviços da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), a empresa cadastrada como uma varejista de artigos de vestuário conta com dívida ativa de R$ 24 mil.

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Prisão de Nego Di

Nego Di foi preso no último domingo, 14, no bairro de Jurerê Internacional, região nobre de Florianópolis (SC). A prisão aconteceu dois dias após ele se tornar alvo, junto a sua esposa, Gabriela Sousa, de uma operação deflagrada pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul. O casal é suspeito de lavagem de cerca de R$ 2 milhões e fraude. Gabriela Sousa chegou a ser presa durante operação por porte de arma de uso restrito e sem registro, mas pagou fiança de R$ 14 mil e foi liberada.

A defesa do Nego Di, em nota, esclarece que está tomando "todas as medidas legais cabíveis" e reivindica a presunção de inocência, assegurado pela legislação brasileira. "Princípio constitucional da presunção de inocência assegura a todo cidadão o direito de ser considerado inocente até prova em contrário", diz.  

Já Anderson Bonetti, também suspeito de estelionato, teve um mandado de prisão preventiva expedido, mas segue foragido. A reportagem não identificou a defesa de Anderson Bonetti, mas o espaço segue aberto para manifestações.

Fonte: Redação Terra
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