Oferecimento

'Não há dinheiro nem alternativa ao ajuste': 5 frases do primeiro discurso de Milei como presidente da Argentina

Com a faixa presidencial albiceleste sobre o corpo, Javier Milei fez seu primeiro discurso como presidente da Argentina neste domingo (10/12). Na fala, ele anunciou ajustes 'dolorosos' e prometeu uma 'luz no fim do túnel'.

10 dez 2023 - 18h58
(atualizado em 11/12/2023 às 09h18)
Javier Milei assumiu o cargo neste domingo
Javier Milei assumiu o cargo neste domingo
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Com a faixa presidencial albiceleste sobre o corpo, Javier Milei fez seu primeiro discurso como presidente da Argentina neste domingo (10/12). Em sua posse como chefe de Estado, ele anunciou ajustes "dolorosos" e prometeu uma "luz no fim do túnel".

A mensagem de Milei contrasta com a de seus antecessores nos últimos 40 anos de democracia argentina até nos símbolos: em vez de se dirigir à Assembleia Legislativa, ele falou aos seus seguidores nas escadas do Congresso.

Publicidade

Foi mais uma forma pela qual o economista de 53 anos, eleito em novembro com um discurso antissistema e anarcocapitalista, se distanciou de uma classe política que ele acusou de corrupção e que ele costuma definir como "casta", embora tenha evitado usar esse termo depois de ter sido eleito.

Milei não anunciou medidas concretas, mas, em seu discurso de quase meia hora, ele alertou seus adversários que será "firme" para promover reformas que, em sua opinião, vão criar um "novo contrato social" no país.

Abaixo, a BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC, reuniu cinco frases importantes do primeiro discurso de Milei como presidente da Argentina.

A cerimônia foi testemunhada in loco por chefes de estado e representantes de outros países, embora possa ficar marcada pela ausência notáveis, como a do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Publicidade

1. 'Não há dinheiro'

Milei deixou claro que vai evitar medidas graduais para aplicar um ajuste fiscal de cinco pontos do Produto Interno Bruto (PIB).

Segundo ele, "ao contrário do passado, o ajuste recairá quase inteiramente sobre o Estado e não sobre o setor privado".

"Não há alternativa possível ao ajuste, nem há espaço para discussão entre choque e gradualismo", afirmou, defendendo que todos os programas que se inclinaram para a última opção no país "terminaram mal".

Milhares de seguidores de Milei se reuniram em frente ao Congresso Nacional, em Buenos Aires.
Foto: Reuters / BBC News Brasil

"Para fazer o gradualismo é preciso haver financiamento e, infelizmente, volto a dizer, não há dinheiro", disse.

A sua definição de que o ajuste financeiro vai recair prioritariamente sobre o Estado marca uma grande mudança conforme Milei sempre disse em sua campanha, quando prometeu que as mudanças seriam pagas pela "casta" política em particular.

2. 'A situação vai piorar'

Milei também antecipou que "as decisões difíceis" que ele planeja tomar nas próximas semanas terão um custo significativo, mas ele apresentou essas medidas como inevitáveis.

Publicidade

Em particular, disse que o seu ajuste fiscal "terá um impacto negativo no nível de atividade (econômica), no emprego, nos salários reais e no número de pessoas pobres e indigentes."

"Haverá estagflação", afirmou, referindo-se a uma situação especial da economia em que a estagnação e inflação ao mesmo tempo.

No entanto, afirmou que a situação "não é algo muito diferente do que aconteceu nos últimos 12 anos" na Argentina, onde "o PIB per capita caiu 15%".

Em outro momento de seu discurso, Milei citou uma frase de Julio Argentino Roca, governante do país entre o final do século 19 "e o início do século 20, que falava de "esforços supremos e sacrifícios dolorosos.

Embora tenha evitado dar detalhes, as reformas que Milei promete promover, seja por meio de um decreto de emergência ou de uma "lei omnibus" com diversas medidas, deverão incluir cortes em empresas estatais, desregulamentação econômica, alterações fiscais e privatizações.

Publicidade

"Esta é a última bebida ruim para iniciar a reconstrução da Argentina", prometeu. "Há luz no fim do túnel."

O presidente argentino, com sua irmã, Karina Milei, após a cerimônia de posse.
Foto: Reuters / BBC News Brasil

3. 'Nenhum governo recebeu uma herança pior do que a que estamos recebendo'

O novo presidente argentino dedicou boa parte do seu discurso de posse a descrever a atual situação do país como "sombria."

Por exemplo, ele afirmou que o kirchnerismo, setor do peronismo liderado pela agora ex-vice-presidente Cristina Fernández de Kirchner, deixou um excedente fiscal e externo equivalente a 17% do PIB.

Em relação à política monetária, Milei indicou que pretende acabar com a emissão de dinheiro, mas alertou que "os custos do caos monetário do governo anterior" vão permanecer por 18 ou até 24 meses.

A Argentina tem mais de 40% da população vivendo na pobreza. A inflação chegou a 140%, segundo dados oficiais. Mas Milei alertou que há riscos de que esses números piorem.

Publicidade

"O governo anterior nos deixou a hiperinflação, e é nossa principal prioridade fazer todos os esforços possíveis para evitar tal catástrofe, que levaria a uma pobreza acima de 90% (da população)", disse ele.

Em outra parte de seu discurso, o presidente afirmou que "a piegas proposta progressista, cuja única fonte de financiamento é a emissão de dinheiro" colocaria o país "em uma espiral decadente que nos vai equiparar às trevas da Venezuela de Chávez e de Maduro".

Mas algo surpreendente é que Milei evitou se referir à dolarização da economia argentina e ao fechamento do Banco Central, promessas centrais de sua campanha eleitoral.

Para muitos argentinos, este domingo foi um dia de festa.
Foto: EPA / BBC News Brasil

4. 'Encontrarão um presidente com convicções inabaláveis'

Diante do que vários analistas antecipam como forte oposição que o novo governo terá no Congresso e nas ruas, Milei prometeu "firmeza" e disse que "vai utilizar todos os recursos do Estado para avançar as mudanças".

Publicidade

"Não vamos tolerar a hipocrisia, a desonestidade ou a ambição de poder para interferir na mudança que nós, argentinos, escolhemos", disse.

À certa altura, ele aludiu em particular aos "piqueteros", grupos de protesto que costumam bloquear estradas ou ruas para fazer reivindicações.

Milei afirmou que, a partir de agora, "quem bloqueia as ruas violando os direitos dos seus concidadãos não recebe assistência da sociedade. Ou seja: quem bloqueia não recebe."

"Para aqueles que querem usar a violência ou a extorsão para obstruir a mudança, dizemos que encontrarão um presidente com convicções inabaláveis", disse.

Mas o presidente também afirmou que vai acolher "de braços abertos todos os líderes políticos, sindicais e empresariais que queiram aderir à nova Argentina".

Publicidade

"Quanto à classe política argentina, quero lhes dizer que não viemos para perseguir ninguém, não viemos para resolver velhas vinganças ou para discutir espaços de poder", indicou.

Ele também pareceu aludir à falta de maioria no Congresso, onde seu partido La Libertad Avanza terá apenas 38 deputados em uma câmara de 257 membros, além dos oito senadores em um total de 72. Essa minoria faz aumentar a incerteza sobre como Milei vai conseguir aprovar seus projetos.

Ele lembrou que, quando entrou no Congresso como deputado há dois anos junto com sua atual vice-presidente, Victoria Villarruel, disseram a ele que não podiam fazer nada. Ele disse ter respondido com uma citação do livro Macabeus: "Vitória na batalha não depende do número de soldados, mas das forças que vêm do céu."

Muitos seguidores de Milei gritaram: 'Viva a liberdade'
Foto: Reuters / BBC News Brasil

5. 'Hoje começa uma nova era na Argentina'

Milei procurou mostrar a sua chegada ao poder como um ponto de virada para a Argentina, que, em sua opinião, vai encerrar "uma longa história de decadência" e iniciará uma era de "reconstrução".

Publicidade

"Tal como a queda do Muro de Berlim marcou o fim de uma era trágica para o mundo, essas eleições marcaram o ponto de virada da nossa história", disse.

Essa frase foi seguida por gritos de "liberdade" de seus apoiadores reunidos em frente ao Congresso.

"Este novo contrato social", disse em outro momento, "propõe um país diferente, um país onde o Estado não dirige as nossas vidas, mas antes salvaguarda os nossos direitos. Um país onde se faz e se paga".

BBC News Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da BBC News Brasil.
Fique por dentro das principais notícias
Ativar notificações