Nota assinada por diversas entidades pedindo pacificação política terá sua publicação adiada, informou nesta segunda-feira a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que está capitaneando a investida, alegando interesse demonstrado por outras associações de também participar da iniciativa.
A nota, que pede pacificação política e estabilidade institucional, contava com o apoio da Febraban, associação que reúne os bancos no país. Mas Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, controlados pela União, ameaçaram sair da entidade caso ela fosse publicada, pela avaliação de que marcava um posicionamento político contra o governo Jair Bolsonaro, disseram duas fontes com conhecimento direto do assunto.
A decisão de adiar a divulgação foi tomada pelo presidente da Fiesp, Paulo Skaf, afirmou a assessoria de imprensa da entidade. Skaf havia estabelecido o prazo de adesão até a última sexta-feira, mas decidiu alongá-lo para ao longo desta semana. Não há previsão de nova data para publicação da nota, que anteriormente era esperada para esta semana, acrescentou a assessoria.
Nesta segunda-feira, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a informação que recebeu é que teria sido uma sugestão da Febraban transformar o que seria um texto de defesa da democracia em um ataque ao governo. "Aí a própria Fiesp teria dito 'então eu não vou fazer esse manifesto', e o manifesto parece que está até suspenso por causa disso, não estão chegando a um acordo", disse Guedes.
Segundo a assessoria da Fiesp, a nota foi debatida entre o presidente da entidade, Paulo Skaf, e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
Em condição de anonimato, duas fontes da equipe econômica disseram que o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, ficou especialmente incomodado com a nota e entrou em contato com Bolsonaro para expressar sua contrariedade.
A partir da conversa, o tema foi debatido dentro do governo no fim de semana e ficou acordado que tanto a Caixa quanto o Banco do Brasil sairiam da Febraban caso o manifesto fosse publicado com a assinatura da entidade.
Uma das fontes da equipe econômica afirmou que, em função da discordância, o governo queria que cada banco assinasse por si.
O Ministério da Economia acabou avaliando, internamente, que o tema acabou ganhando mais importância do que deveria, acrescentou a fonte, já que o tom da nota não era direcionado ao Executivo em particular, e com a polêmica tendo sido suficiente para suscitar, em agentes de mercado, a leitura de ingerência política nas instituições a partir da ameaça dos bancos públicos de sair da Febraban.
Procurada, a Febraban não se manifestou.