Com o objetivo de atingir a marca de 2.000 fábricas em dois anos, a Shein, gigante chinesa de e-commerce de moda, já tem 164 fábricas têxteis operando no Brasil. Conhecida mundialmente por sua variedade de produtos e preços acessíveis, a entrada da marca estrangeira no Brasil pode impactar a estrutura do mercado nacional como um todo.
Tendo como modelo de negócio o fast fashion e detendo capacidade de produção em grande escala, a gigante asiática pode, na avaliação de especialistas ouvidos pelo Terra, trazer inúmeros benefícios para o mercado brasileiro, como melhoria dos níveis de serviço, preços acessíveis e uma maior competitividade.
"A Shein está enxergando o potencial do mercado nacional. Os investimentos dela no Brasil vão trazer mais concorrência, vai tirar muita gente da zona de conforto. Acredito que nosso mercado interno vai reagir e melhorar em todos os aspectos", avalia Eduardo Cristian, especialista em mercado têxtil e de confecções.
O Brasil é o primeiro mercado a receber um modelo de produção própria das peças comercializadas pela Shein. Em abril, a empresa divulgou que investirá cerca de R$ 750 milhões no setor têxtil brasileiro, o que pode gerar até 100 mil empregos indiretos no País nos próximos três anos.
Atualmente, a companhia já tem fábricas em 11 Estados do País, entre eles São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Ceará, Pernambuco, Bahia, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Neste mês de julho, uma nova fábrica será inaugurada no Rio Grande do Norte.
"Sempre a chegada de qualquer player é vista com bons olhos pelo mercado, pois a competição é saudável, principalmente quando vem marketplace tão relevante quanto a Shein. É mais um canal de vendas fortíssimo", diz o especialista em marketplaces Alex Moro.
Disputa com varejistas nacionais
Embora exista um temor por parte de grandes varejistas, a chegada da Shein não deve afetar as vendas de gigantes brasileiras do setor têxtil. Eduardo Cristian ressalta que o mercado de moda é diversificado, com diferentes segmentos e nichos de consumidores. "Existem oportunidades e estratégias que podem ser exploradas para manter a relevância no mercado".
Rodrigo Giraldelli, um dos pioneiros na importação de produtos da China para o Brasil, acredita que a disputa com as varejistas nacionais favorece o mercado brasileiro, porque é um grande player e mais uma grande empresa para oxigenar mais o mercado.
"O varejo brasileiro é maduro e se adapta bem. Então, acredito que as empresas mais rápidas, as empresas mais inovadoras vão aproveitar a vinda da Shein para entender essas mudanças de mercado e conseguir também buscar seu lugar ao sol ou continuar com seu lugar ao sol", comenta.
Competição justa
A competição em pé de igualdade com varejistas locais é algo bastante cobrado por empresários do setor quando o assunto é Shein. Recentemente, o governo decidiu isentar as importações de até US$ 50 (R$ 240) e causou uma forte reação, com críticas no varejo de que poderia estar favorecendo a marca.
Antes a isenção era só para produtos enviados por pessoas físicas e, agora, é para todas as compras. Os varejistas argumentam que a marca deve lidar com os mesmos custos operacionais e logísticos enfrentados pelas empresas brasileiras para operar no País.
O presidente do conselho da Shein para América Latina, Marcelo Claure, disse em entrevista recente ao Estadão/Broadcast, no entanto, que não acredita que a companhia tem sido favorecida pelo governo brasileiro. "A indústria varejista começou a falar que o governo está favorecendo (a Shein). O governo não está favorecendo ninguém", afirma.
Para Rodrigo Giraldelli, as regras têm que ser iguais para que a disputa seja justa. "A regra tem que ser a mesma para todos, não pode ter uma regra para a empresa estrangeira, e outra regra para a empresa brasileira. Todo mundo tem que jogar sobre as mesmas regras para ter igualdade nas relações e poder fazer uma disputa honesta."