Oferecimento

O papel do conselho divide CEOs e conselheiros, aponta estudo em 400 empresas brasileiras

Pesquisa da Fundação Dom Cabral e da Neo Executive Search explica diferenças na percepção sobre a importância do órgão e aponta importância de setor de compliance

12 dez 2024 - 17h11
(atualizado às 17h37)

A existência de um conselho na empresa é vista como importante para aumentar a governança e o valor de uma companhia, aponta uma pesquisa realizada pela Fundação Dom Cabral e pela Neo Executive Search. Mas, enquanto CEOs e conselheiros concordam neste ponto, discordam sobre o tamanho do impacto da existência do órgão e sobre como ele deve funcionar.

De acordo com o levantamento, que ouviu CEOs, sócios e conselheiros de 400 empresas, divididas igualmente entre as de capital aberto e de capital fechado, 76% dos respondentes acreditam que a existência de um conselho e de estruturas de governança robusta aumenta o valor da empresa como um todo.

Publicidade

Contudo, segundo Mônica Rocha de Carvalho, professora associada da Fundação Dom Cabral, em outras perguntas foi possível captar uma diferença: os CEOs e presidentes sentem um certo estranhamento. Para eles, o conselho deveria assessorar na formulação da estratégia, mas por não estar presente no dia a dia da empresa perde flexibilidade. "A percepção do lado do CEO de que há uma burocratização, e isso mexe com o trabalho dele. Você está fazendo a coisa do seu jeito e do nada aparece alguém para supervisionar", explica a professora.

Do lado dos conselheiros, o trabalho é obviamente mais valorizado e visto como fundamental para a empresa, e destacam a importância de receberem todas as informações necessárias por parte do CEO e demais diretores da companhia. "O CEO naturalmente detém toda a informação e pode filtrar o que chega ao conselho, se não houver outras instâncias como auditoria. Existem conflitos de interesse, apesar dos dois quererem a sustentabilidade da empresa no longo prazo", avalia Carvalho.

Governança corporativa deve ser prioridade, e medidas como criar códigos de conduta não são caras ou proibitivas para pequenas empresas
Governança corporativa deve ser prioridade, e medidas como criar códigos de conduta não são caras ou proibitivas para pequenas empresas
Foto: Tiago Queiroz/Estadão / Estadão

Ou seja, basicamente, cada um tende valorizar seu próprio lado. "Todo conselho pensa que contribui muito, o CEO pensa que talvez já estivessem fazendo certo", resume a especialista. A partir de um bom entendimento entre as partes, a empresa pode decidir que tipo de conselho ter, quais outras instâncias de governança podem ser instaladas e outras medidas para avançar no tópico.

Administrativo ou consultivo?

No Brasil, as empresas de capital aberto devem ter conselhos administrativos, com responsabilidades fiduciárias. As limitadas e familiares, de capital fechado, podem ter conselhos consultivos, ou seja, indicar caminhos que não necessariamente precisam ser seguidos pelo CEO e demais líderes.

Publicidade

A pesquisa aponta que, dentre as empresas familiares, 52% têm conselhos consultivos e 48%, conselhos administrativos. Entre as de capital fechado não familiares, 74% tem conselhos administrativos. Outra diferença importante é vista entre o tamanho das empresas e a existência de estruturas de governança.

Entre as maiores empresas (com faturamento acima de R$ 500 milhões e mais de mil funcionários), pelo menos 50% já têm Conselhos há mais de cinco anos. Além disso, apenas 20% das maiores empresas não têm outros órgãos de Governança, como Conselhos de Sócios, de Família e Fiscal.

Para Mônica, a importância do conselho, seja consultivo, seja administrativo, é introduzir um degrau de racionalização. "Chama atenção a ênfase no processo de melhoria de tomada de decisão, reforçado em todos os níveis. Entre as familiares, 49% das que faturam mais de 500 milhões apontam o planejamento da sucessão como grande benefício", cita.

Quem está nos conselhos?

Um dado importante da pesquisa é que empresas menores e familiares tendem a ter mais mulheres nos conselhos. Nessas empresas, as mulheres normalmente são sócias, acionistas ou membros da família proprietária.

Publicidade

O "conselho típico" das empresas de capital fechado no Brasil é formado por 5,4 membros, sendo 4,6 homens e 1,5 mulheres. Dentre estes, 1,9 são membros independentes e 2,9 membros de família empresária. No caso das empresas de sociedade aberta, com faturamento acima de R$500 milhões e mais de 1.000 colaboradores, o número de conselheiros sobe para 5,7, sendo 4,6 homens, 1,1 mulheres, 1,5 independentes e os mesmos 2,9 membros de família.

Ao mesmo tempo, na busca por conselheiros independentes, o perfil mais desejado é de indivíduos que são ou já foram executivos, possuem boa reputação, têm formação específica para a função de Conselheiro, experiência na posição e conhecimento do segmento econômico da empresa. A existência desses pré-requisitos pode limitar a quantidade de candidatos a poucos nomes, reduzindo a diversidade. "Existe uma certa insegurança, as organizações sentem mais confiança em quem tenha experiência executiva e como conselheiros. É a realidade, mas é meio decepcionante, precisa de diversidade", ressalta Carvalho.

Estruturas

O conselho é importante, mas não é a única estrutura de governança que conta, principalmente para pequenas e médias empresas. A professora ressalta que auditorias externas podem ser contratadas por até R$ 100 mil, e elaborar um código de conduta que aborde diversas situações não é difícil e pode servir como primeiro passo para ter um sistema de compliance.

A pesquisa apontou que 76% das respondentes possuem algum tipo de auditoria, seja interna ou externa. Entre as empresas com faturamento acima de R$ 500 milhões anuais, 98% são auditadas; já entre as de menor porte, 29% possuem apenas auditoria externa. Carvalho classifica a auditoria como "um atestado de que as coisas estão sendo feitas corretamente para fora, e para dentro é um instrumento para monitoramento, tomada de decisão e captação de recursos".

Publicidade

Conforme o estudo, 56% das respondentes tem um sistema de compliance estruturado, número que inclui principalmente as grandes companhias. Mas não é necessário ser grande para começar a caminhar nessa direção. "O compliance se faz estipulando políticas claras para compras, viagens, processos internos. No momento que tem isso desenhado pode começar a cobrar das pessoas, como se falasse 'estou dizendo como as coisas tem que ser feitas, espero que você faça'", afirma.

A pesquisa também demonstra que 29% das empresas que contam com conselho administrativo reportam maiores benefícios em ter compliance estruturado, além de uma melhor gestão de crises. "Ter um código de conduta não tem a ver com porte, tem a ver com decisão de querer fazer bem feito", conclui a pesquisadora.

TAGS
Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se