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O paradoxo da volatilidade do Bitcoin: é mesmo um problema?

28 set 2024 - 06h17
Resumo
O Bitcoin é um ativo que se consolida como o primeiro dinheiro nativo da internet e oferece soberania e liberdade em relação às moedas governamentais.
Foto: Freepik

Não é raro ouvir, em conversas de bar ou nas redes sociais, a frase: “Bitcoin? Nem pensar! É muito volátil”. A crítica, previsível e recorrente, geralmente parte de quem ainda enxerga a moeda digital com desconfiança. Mas será que a volatilidade do Bitcoin é, de fato, o problema que pintam?

Pela primeira vez na história, estamos diante de um ativo que se consolida como o primeiro dinheiro nativo da internet, com características superiores às do ouro, o que o torna um potencial novo lastro financeiro. Além de ser escasso, com emissão limitada a 21 milhões de unidades, o Bitcoin é divisível, portátil e impossível de falsificar — qualidades que o ouro não pode replicar no ambiente digital. 

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Diferente de metais preciosos, ele é imune à manipulação de governos ou bancos centrais e, por ser digital, pode ser transferido instantaneamente para qualquer lugar do mundo, sem intermediários. E, naturalmente, sua volatilidade tende a ser exacerbada à medida que o processo de monetização se desenrola — em curvas parabólicas, diga-se de passagem. O que estamos testemunhando é uma revolução em tempo real, transmitida ao vivo e acessível na palma da mão.

Por outro lado, as moedas controladas por governos, historicamente, enfrentam desafios que limitam seu valor ao longo do tempo. A inflação, causada pela capacidade ilimitada de emissão de dinheiro por parte dos bancos centrais, é o principal vilão. Desde o século 20, com a abolição do padrão-ouro, o valor das moedas nacionais tem sido corroído pela constante expansão da base monetária, o que leva à desvalorização da poupança e à perda do poder de compra das pessoas. 

Enquanto o Bitcoin tem um suprimento fixo e previsível, moedas tradicionais estão sujeitas à manipulação conforme os interesses políticos e econômicos do momento. Além disso, o sistema financeiro internacional enfrenta a complexidade dos pagamentos entre fronteiras, onde a troca entre diferentes moedas exige o uso de uma moeda global intermediária, como o dólar americano, que está sujeito às flutuações de poder e à hegemonia econômica dos Estados Unidos. Isso cria um ciclo de dependência, em que países menores e suas economias ficam à mercê de decisões tomadas por uma potência estrangeira.

Os bancos centrais, por sua vez, acrescentam uma camada de incerteza. As políticas monetárias podem mudar drasticamente de acordo com quem está no comando, ou conforme o cenário político. Governos frequentemente recorrem à impressão de dinheiro para financiar déficits, o que gera mais inflação e instabilidade econômica. Em muitos países, essa prática tem levado a crises de confiança na moeda, como vimos nos casos extremos da Venezuela e do Zimbábue. O controle estatal sobre o dinheiro gera um cenário onde os cidadãos estão sujeitos a ciclos de incerteza econômica, provocados por medidas tomadas para salvar governos, bancos e empresas, às custas do valor de suas economias pessoais.

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Enquanto isso, o Bitcoin permanece à margem desse sistema centralizado, oferecendo uma alternativa cuja volatilidade é, muitas vezes, o preço de se possuir um ativo imune à intervenção externa. Contudo, as críticas à volatilidade do Bitcoin parecem ignorar os problemas profundamente enraizados nas moedas governamentais, cuja desvalorização, inflação e instabilidade são encaradas como normais.

O controle sobre o Bitcoin é completamente seu: é seu dinheiro, seu Bitcoin — sem bancos ou intermediários. E talvez aí resida o verdadeiro desconforto. Para uma população habituada a delegar responsabilidades, assumir o controle direto sobre o próprio patrimônio gera insegurança. “E se eu perder tudo?”, pergunta o cidadão, pronto para entregar as chaves da sua riqueza a uma entidade estatal ou a terceiros “de confiança”.

O que é verdadeiramente intrigante, no entanto, é a cegueira deliberada, e talvez alimentada por anos de estatismo, em relação ao outro lado da equação. Enquanto o Bitcoin oferece soberania e liberdade, governos e instituições tradicionais apresentam a subserviência e a miséria como a única alternativa.

É desolador observar o desserviço global que os governos vêm prestando, e o Brasil não é exceção. Ao redor do mundo, vemos uma classe política preocupada apenas consigo mesma, agindo de forma incoerente com os discursos que a colocaram no poder. Bancos centrais transformaram-se em autênticas máquinas de imprimir dinheiro, inundando as economias com notas que valem cada vez menos.

Essa enxurrada de papel-moeda está corroendo a capacidade de poupança e inflacionando as economias a uma velocidade alarmante. De camarote, a população global assiste ao que parece ser um experimento de poder: medidas inflacionárias e políticas questionáveis que só ampliam o caos econômico e social. Empresas, países e cidadãos se afundam em dívidas impagáveis, enquanto os líderes se mantêm inabaláveis.

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Como já disse um personagem famoso de série: “O caos é uma escada”. E, de fato, muitos têm subido por ela, aproveitando-se da volatilidade e da incerteza que eles próprios ajudam a criar.

Mas e o Bitcoin? Ah, sim, ele continua sendo o vilão por sua volatilidade...

(*) Eduardo Meyer é COO da FMI, empresa que se destaca no ramo de mineração de Bitcoin.

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