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O que a França pode fazer para barrar o acordo entre União Europeia e Mercosul?

Única forma de país barrar de fato o acordo no bloco seria conseguindo angariar apoio de outras nações no Conselho e Parlamento europeus; especialistas dizem que chances de isso ocorrer é remota

5 dez 2024 - 00h00
(atualizado às 08h29)
Reunião do Conselho do Mercado Comum do MERCOSUL, no Museu do Amanhã, zona portuária do Rio
Reunião do Conselho do Mercado Comum do MERCOSUL, no Museu do Amanhã, zona portuária do Rio
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia pode dar um passo significativo nesta semana. O secretário de Assuntos Econômicos do Ministério das Relações Exteriores, Maurício Lyrio, disse na segunda-feira, 2, que as pendências do acordo foram submetidas aos líderes dos dois blocos depois de mais uma rodada de negociações em Brasília. A declaração foi dada em conversa com jornalistas para explicar a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a Cúpula do Mercosul, no Uruguai. O evento ocorrerá nestas quinta-feira, 5, e sexta-feira, 6, em Montevidéu.

Um dos assuntos que devem ser tema de conversa na cúpula deve ser a posição contrária da França ao acordo, que engloba desde agricultores até o presidente Emmanuel Macron. Em resposta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse recentemente que a França "não apita nada". Em termos gerais, o texto prevê uma área de livre comércio entre os dois blocos, em uma situação em que o Brasil teria mais espaço para exportar mais commodities (tais como os produtos agropecuários), e, por sua vez, os europeus teriam a oportunidade de exportar mais produtos manufaturados e industrializados.

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Pressão política

Na avaliação de Rodrigo Cezar, professor do curso de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), juridicamente a França tem poucas chances de conseguir barrar o acordo entre o Mercosul e a União Europeia. Porém, ele não minimiza a pressão política que está sendo exercida pelos franceses, que pode, em última instância, impactar as decisões do Conselho da União Europeia e o Parlamento Europeu.

"Existe um grande processo de negociação antes de ir para o Conselho e Parlamento. Se, eventualmente, a pressão que vier a ser exercida comprometer a votação, o item não é apresentado. Se fosse para votação e fosse barrado, teria um custo reputacional muito grande. Porém, a União Europeia de forma geral está otimista em relação ao acordo", diz Cezar.

Uma outra possibilidade, segundo o especialista, é o acordo ser aprovado de forma mista. No acordo misto, o parlamento de cada país vai apreciar o acordo, e é aí que a França pode não aprová-lo internamente. Se isso ocorrer, o acordo pode ser implementado de forma provisória nos aspectos exclusivos de competência da União Europeia, porém, sem aquilo que é de competência de cada país.

O especialista lembra que essa não é a primeira vez que a França se mostra contrária a um acordo comercial. O mesmo já ocorreu com o Acordo Econômico e Comercial Global entre a União Europeia e o Canadá (Ceta), e o Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP), com os Estados Unidos.

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No caso da Ceta, por exemplo, as restrições da França foram em relação às provisões de proteção de investimentos "A França não ratificou o Ceta, e, por isso, ele é um acordo misto. Mesmo assim, o acordo existe e ele está em implementação provisória. Isso significa que mais ou menos 90% do conteúdo do acordo está sendo implementado, apesar da chamada implementação provisória", explica Cézar.

O que é o acordo?

As negociações de livre comércio entre os dois continentes tiveram início há 25 anos, em 1999. Em resumo, ela prevê zerar as tarifas de importação sobre cerca de 90% do comércio bilateral num prazo de 15 anos. Os dois blocos representam juntos cerca de 25% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, num mercado de 780 milhões de pessoas. Seria um dos maiores acordos comerciais do mundo.

Assim como já ocorre com outros países, tais como a China, o Brasil poderia exportar mais commodities para a França, como carne, laranja, frutas e café, entre outros, que poderão ser comprados pelos europeus com preços mais baixos do que eles pagam hoje. Por outro lado, a França teria uma entrada facilitada no mercado brasileiro de itens manufaturados e industrializados, tais como queijos, vinhos e máquinas, sem as tarifas de importação existentes atualmente.

"Além de ser uma oportunidade de aumentar as exportações dos países, o acordo também aumenta a competição, já que é baseado na reciprocidade", explica a professora Fernanda Brandão, da Mackenzie Rio.

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