O dólar à vista encerrou a sessão de quarta-feira, 14, em baixa de 1,14%, cotado a R$ 4,80 - no menor valor de fechamento desde 6 de junho de 2022 (R$ 4,79). O enfraquecimento da moeda está relacionado com os efeitos dos pacotes de estímulos na China, a manutenção da taxa de juros nos Estados Unidos e uma valorização do mercado brasileiro.
No início da tarde desta quinta-feira, 15, a moeda apresenta volatilidade e opera sob pressão externa. Porém, o dólar passou a cair lá fora perante o euro e a libra e várias divisas emergentes diante de novos estímulos na China, que induzem demanda por commodities e moedas de países exportadores de produtos básicos, como o real.
Mudança na nota de crédito
O dólar enfraqueceu após a S&P Global ter anunciado, na quarta-feira, 14, mudança da perspectiva da nota de crédito BB- do Brasil de estável para positivo, com elogios ao novo arcabouço fiscal. Em seu comunicado, a S&P afirma que essa alteração reflete uma certeza maior de que a política monetária e fiscal possa beneficiar as projeções para o PIB brasileiro, que ainda são baixas.
A combinação de crescimento continuado da economia com o novo arcabouço fiscal pode levar a um endividamento menor que o esperado, segundo a agência de classificação de risco.
Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, disse que a alteração na perspectiva da nota brasileira representa uma validação das políticas adotadas pela pasta.
Após o anúncio da S&P, a moeda no mercado à vista, que já vinha em queda firme, renovou sucessivas mínimas. "O Brasil está super bem posicionado entre emergentes. E a decisão da S&P vai nessa linha. O real tende a se valorizar mais", afirma o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, lembrando que a moeda brasileira ainda está depreciada em termos reais na comparação com outros emergentes.
Oliveira observa que as medidas de risco do país já estavam melhorando. O CDS (Credit Default Swap) de 5 anos do Brasil, espécie de seguro contra calote da dívida, havia caído abaixo de 200 pontos, algo não visto desde o segundo semestre de 2021. Houve também uma queda expressiva da volatilidade implícita do real, que atingiu nesta semana o menor nível desde 2019.
"Devemos ter aumento do fluxo nos próximos meses, seja comercial ou financeiro. Mesmo com a provável queda da Selic, o juro real ainda vai ser alto. E o Brasil oferece oportunidade para investimento direto, já que vai crescer mais do que se esperava", afirma o economista-chefe do Pine.
Juros nos EUA
A onda de enfraquecimento da moeda americana no exterior também está ligada à decisão do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, de manter a taxa de juros inalterada, junto com a sinalização amena do presidente da instituição, Jerome Powell.
Como esperado, o BC americano interrompeu o processo de aperto, anunciando manutenção da taxa básica na faixa entre 5% e 5,25% ao ano, e manteve a porta aberta para uma alta em julho.
Houve desconforto, contudo, com o aumento das projeções do Fed para a taxa de juros neste e nos próximos dois anos. Na contramão da expectativa do mercado, a maioria dos integrantes do BC americano projeta taxa básica 50 pontos-base acima do nível atual no fim do ano.
China
A China está planejando grandes medidas para reanimar a economia do país, incluindo a possibilidade de injetar bilhões de dólares com gastos em infraestrutura e flexibilizar regras para encorajar os investidores imobiliários a comprar mais casas, segundo a Dow Jones Newswires.
Segundo Lucas Serra, analista da Toro Investimentos, o incentivo do governo chinês ao crescimento da economia local é favorável às commodities e às exportações de produtos básicos por parte do Brasil, principalmente minério de ferro, limitando a correção de alta do dólar ante o real.
Além disso, o Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) anunciou na quarta-feira, 14, o corte dos juros da linha de empréstimo de médio prazo (MLF) para 1 ano de 2,75% para 2,65%.
O PBoC injetou 237 bilhões de yuans (US$ 33,08 bilhões) de liquidez por meio da linha de crédito de médio prazo de 1 ano, a uma taxa de juros de 2,65%. Também injetou 2 bilhões de yuans por meio de seu acordo de recompra reversa de sete dias, a uma taxa de juros mantida em 1,9%.