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O que torna alguém bilionário: oportunidade, sorte ou talento?

Os bilionários são bons ou ruins para a sociedade — ou simplesmente muito, muito ricos? Simon Jack, da BBC, investiga.

4 ago 2024 - 12h08
(atualizado às 12h46)
Estrela pop Taylor Swift entrou recentemente para lista das pessoas mais ricas do mundo
Estrela pop Taylor Swift entrou recentemente para lista das pessoas mais ricas do mundo
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O que uma mímica comunista, uma criança com talento para o golfe e um comediante que faz piadas sobre qualquer coisa têm em comum?

Todos eles se tornaram membros de um clube global muito seleto.

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Miuccia Prada, Tiger Woods e Jerry Seinfeld estão entre cerca de 2.781 bilionários (em dólares americanos) no planeta.

Mas a lista de super-ricos é bem internacional.

Segundo a revista americana Forbes, que monitora as fortunas dos mais ricos do mundo, os Estados Unidos têm 813 bilionários, a China (incluindo Hong Kong) aparece em segundo lugar, com 473, e a Índia em terceiro, com 200. Já o Brasil, 69.

O tamanho dessas fortunas pode ser difícil de compreender. Um bilhão é um número enorme — para dar uma ideia de escala, um milhão de segundos são 11 dias, mas um bilhão são 32 anos.

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E para alguns, a própria existência de bilionários é obscena.

Oitenta e uma das pessoas mais ricas do mundo — ou um ônibus lotado — têm mais riqueza combinada do que os quatro bilhões de pessoas mais pobres do mundo.

Em um relatório de 2023 sobre desigualdade, a ONG britânica Oxfam concluiu: "Todo bilionário é um erro de políticas. A própria existência de bilionários em expansão e lucros recordes, enquanto a maioria das pessoas enfrenta austeridade, pobreza crescente e uma crise de custo de vida, é evidência de um sistema econômico que falha em entregar à humanidade."

Essa desigualdade levou a pedidos em muitos países por impostos sobre a riqueza absoluta em vez de sobre a renda.

Nos EUA, a senadora do Partido Democrata Elizabeth Warren propôs um imposto de 2% sobre ativos acima de US$ 50 milhões (R$ 290 milhões) e 3% sobre ativos acima de US$ 1 bilhão (R$ 5,75 bilhões).

Senadora Elizabeth Warren propôs, nos Estados Unidos, Lei de Impostos para Ultramilionários
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Mas outros argumentam que a perspectiva de grande riqueza inspira criação e inovação que melhoram a vida de milhões de pessoas.

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O economista americano Michael Strain argumenta que precisamos de mais bilionários, não menos, e cita o ganhador do prêmio Nobel William Nordhaus, que descobriu que cerca de 2% dos retornos da inovação tecnológica vão para os fundadores e inventores. O restante vai para a sociedade.

Strain chama os bilionários de "em grande parte inovadores que se fizeram sozinhos e mudaram a maneira como vivemos".

Ele cita como exemplo Bill Gates e Steve Ballmer, que revolucionaram a computação pessoal, o lendário investidor Warren Buffett, Jeff Bezos, que revolucionou o varejo, e Elon Musk, que revolucionou a indústria automotiva e o comércio espacial.

"Nenhum deles é 'fracasso de políticas'", conclui. "Em vez de desejar que eles não existissem, deveríamos ficar felizes que existam."

Warren Buffett e Bill Gates prometeram doar metade da fortuna individual deles
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Muitos bilionários também doam grandes somas. Gates e Buffett desenvolveram "The Giving Pledge" — um compromisso de doar mais da metade da riqueza individual ao longo da vida.

O rapper, magnata dos negócios e bilionário Jay-Z, embora não tenha se comprometido com a promessa, argumenta: "Não posso ajudar os pobres se eu for um deles. Então, fiquei rico e retribuí. Para mim, isso é o ganha-ganha."

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Bilionários não enriquecem no vácuo. O sucesso deles também nos diz algo sobre nós mesmos.

É difícil ficar muito, muito rico a menos que você esteja fornecendo algo que as pessoas precisam, querem ou gostam.

Seja o estilo minimalista da Prada, os filmes Star Wars ou o TikTok, os bilionários que discutimos no podcast mudaram o mundo em maior ou menor grau — e as histórias sobre como eles fizeram isso são convincentes.

Por exemplo, os fundadores do Google tentaram vender uma versão inicial de sua ferramenta de busca por US$ 1 milhão, mas não houve interessados.

Hoje, o Google vale US$ 2,3 trilhões e o cofundador Sergey Brin vale pessoalmente US$ 135 bilhões — aproximadamente o PIB do Marrocos.

Designer italiana Miuccia Prada está por trás das marcas de moda Prada e Miu Miu
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Maria Bianchi era uma comunista de carteirinha na Itália dos anos 1960 que estudava mímica na escola de teatro antes de mudar seu nome para Miuccia Prada.

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A primeira mulher bilionária que fez fortuna na Índia, Kiran Mazumdar-Shaw, começou fabricando cerveja antes de sofrer preconceito de gênero e mudar para o mercado de produtos farmacêuticos, tornando-se a maior produtora de insulina da Ásia.

Os pais de Jerry Seinfeld eram ambos órfãos e seu pai nunca o abraçou. Talvez uma das razões pelas quais ele e Larry David tinham uma regra para os personagens de sua comédia de sucesso Seinfeld: "Sem abraços e sem aprendizado".

Kiran Mazumdar-Shaw é primeira mulher na Índia a se tornar bilionária por conta própria
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O sucesso individual desses bilionários também costuma contar uma história de tendências históricas, políticas ou tecnológicas mais amplas.

O empreendedor de tecnologia Jack Ma, cofundador do grupo Alibaba, foi beneficiário de duas forças poderosas e simultâneas: o nascimento do varejo online e o crescente poder econômico e a riqueza em massa da China.

Chuck Feeney, o homem que inventou as compras duty-free (e doou toda a sua fortuna) surfou na onda do turismo externo japonês após a Segunda Guerra Mundial.

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Jack Ma deixou grupo Alibaba após acumular fortuna de US$ 14 bilhões
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Há histórias em que a sorte desempenhou um papel.

O fundador da Microsoft, Bill Gates, frequentou uma das poucas escolas dos EUA que, no final dos anos 1960, tinha um computador. Já a cantora e empresária Rihanna foi descoberta graças a uma audição casual com um produtor musical que estava de férias em Barbados, sua terra-natal.

E os pais também têm papel importante.

Toda a família de Taylor Swift se mudou da Pensilvânia para Nashville para promover a carreira de adolescente, enquanto a mãe de Michael Jordan sugeriu que ele ouvisse " o que a Nike tem a dizer" antes de assinar um contrato com a Adidas ou a Converse — ,abrindo caminho para o acordo de patrocínio esportivo mais lucrativo da história.

Há alguns momentos-chave que, olhando para trás, mudaram as vidas e as fortunas desses bilionários.

Mas quando as portas se abrem, você tem que passar por elas.

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E se há um denominador comum é a energia, o ímpeto e o comprometimento que essas pessoas trouxeram para suas respectivas áreas. Além do desejo de seguir em frente, quando muitos teriam desistido há tempos.

Eu e a jornalista Zing Tsjeng, que apresenta comigo o podcast Good Bad Billionaire na BBC, sempre brincamos que se um dia tivermos US$ 10 milhões, não seremos mais vistos no trabalho — eu estarei pescando e ela, num festival de música.

Acho que pessoas como nós nunca ficaremos ricos, mas ficamos fascinados, encantados, comovidos, chocados e aterrorizados por aqueles que conseguiram.

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