O tomate não é o vilão; entenda a flutuação de preços

21 mai 2013 - 07h01
(atualizado às 07h31)

Eles fazem bem à saúde e são itens tradicionais do cardápio dos brasileiros. No entanto, alimentos como tomate e batata, que parecem inofensivos e jazem inertes em bancas de feiras, setores de hortifruti de supermercados, e até mesmo nas sacolas de compras e despensas de inocentes donas de casa, são considerados por muitos os vilões da inflação nos últimos meses. O mais famoso é o tomate, que foi capa de revistas, motivo de piadas na internet e usado até mesmo como “joia” por uma apresentadora de televisão.

A fruta teve aumento de preço de quase 150% em 12 meses, segundo dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) relativos a abril. Na última semana de março, quando atingiu o pico, a caixa de 22 quilos de produto chegou a ser vendida a R$ 108,75 no atacado em São Paulo, conforme o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Cepea/Esalq-USP). Além do tomate, a batata também teve um aumento significativo de preço. De acordo com o IPCA, foi o alimento com maior alta no mês de abril: 16,16% - e 123,42% nos últimos 12 meses.

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No entanto, para o pesquisador do Cepea João Paulo Deleo, a afirmação de que o tomate é o vilão da inflação é um mito que precisa ser descartado. Segundo ele, o peso do produto na composição da inflação é muito pequeno - dados do IPCA indicam que correspondeu a 0,02% em março. Ainda de acordo com Deleo, esta não é a primeira vez que um vegetal é utilizado como bode expiatório para justificar um aumento da inflação. Ele exemplifica com o caso da “inflação do chuchu”. Em 1977, o ministro da Fazenda, Mario Henrique Simonsen, utilizou a valorização do chuchu para justificar o aumento dos índices de preços daquele ano. “Na verdade, tratava-se de uma tentativa de mascarar um processo de total descontrole inflacionário que ficaria evidente nos anos seguintes - naquele período, a inflação já se encontrava na casa dos 40% ao ano”, esclarece o pesquisador.

Segundo o professor do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da USP (FEARP-USP) Maurício Jorge Pinto de Souza, é comum esse aumento de preços nos primeiros meses do ano, principalmente em função do calor e da intensidade das chuvas. No caso de verduras e legumes, as chuvas deixam a terra muito molhada, o que dificulta o plantio e a colheita. De acordo com o professor, no período de chuvas, ainda há o problema da alta incidência de fungos e bactérias nas plantações, o que diminui a oferta. A elevação do preço dos combustíveis que ocorreu nos últimos meses também impacta o preço do frete e acaba sendo transferida para a produção agrícola.

O caso do tomate

Sobre o caso do tomate, especificamente, Deleo explica que o primeiro fator a ser considerado é a diminuição na produção da fruta. Isso aconteceu porque a área cultivada diminuiu nos dois últimos anos. No ano passado, a redução foi de 3%, mas a produtividade foi muito boa, resultando até mesmo em excesso de oferta que derrubou os preços. O produtor - descapitalizado - reduziu novamente a área neste ano. No entanto, o clima não foi tão favorável quanto em 2012, ano em que a produtividade foi elevada devido ao tempo seco. O pico de aumento do preço ocorreu na Semana Santa, quando houve também acréscimo da demanda.

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Devido à diminuição da produção, os altos preços do tomate não representaram mais dinheiro no bolso dos produtores. Segundo Deleo, o tomate, assim como outras hortaliças, é uma cultura que costuma ter variações acentuadas de preços em curto período. Isso pode ser atestado pelo resultado da medição de inflação da primeira quadrissemana de maio, realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), que mede a inflação na cidade de São Paulo: o preço do tomate teve retração de 7,24%, e já não representa mais um peso para o consumidor.

Para Souza, é dificil prever quem substituirá o tomate no posto de vilão da inflação nos próximos meses - principalmente por se tratar de preços de produtos agrícolas. Segundo ele, no entanto, a lógica é que, em períodos de entresafra e de restrição de oferta, os preços tendem a ficar mais altos.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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