Com recuo de 0,3% da indústria de transformação, o Brasil continuou a se desindustrializar em 2022, como se estivesse revertendo cerca de um século de desenvolvimento. Sem ter ingressado na fase pós-industrial, onde já operam as economias mais avançadas, o País assiste ao encolhimento de um setor associado, tradicionalmente, à modernização tecnológica e à geração de empregos produtivos e regulados pelos melhores padrões. A produção total da indústria cresceu 1,6% no ano passado, mas esse crescimento foi puxado pela construção (+6,9%) e pelo segmento produtor e distribuidor de eletricidade, gás e água (+10,1%). A atividade extrativa também diminuiu, tendo produzido 1,7% menos que em 2021.
O setor de transformação é o mais diversificado, com produtos como roupas, alimentos, equipamentos eletrônicos, metais, aviões, tratores, veículos de passageiros, máquinas industriais, alimentos e enorme número de bens de consumo. A expansão e a diversificação de suas atividades marcaram a modernização do País, a urbanização, a evolução do comércio exterior e a transformação gradual do estilo e das condições de vida dos brasileiros.
Depois de avançar durante décadas, a indústria tem perdido peso na economia brasileira. Entre 2005 e 2011, a produção geral da indústria oscilou entre 28,5% e 27,2% do valor do Produto Interno Bruto (PIB). No ano passado essa participação ficou em 23,9%. Entre 2005 e 2022 o peso da indústria de transformação diminuiu de 17,4% para 12,9%.
Não se explica essa mudança apenas com base no desenvolvimento da agropecuária e dos serviços. O retrocesso industrial fica indisfarçável quando se observa a perda de participação do setor na indústria global. Em 2005, a produção brasileira correspondeu a 2,20% do valor adicionado da indústria mundial. Depois de uma queda continuada, essa participação equivaleu, em 2021, a 1,28%. Vários países avançados também perderam participação, enquanto a China, a Índia, a Coreia do Sul e Taiwan aumentaram sua peso. O Brasil seguiu o caminho contrário ao dos emergentes mais dinâmicos, segundo os números da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido).
A perda de vigor da indústria brasileira se tornou mais evidente a partir do período da presidente Dilma Rousseff, mas as sementes da crise foram plantadas anteriormente. Protecionismo excessivo, escolha de campeões nacionais, financiamento mal dirigido, tributação inadequada e pouco estímulo à modernização corroeram o dinamismo industrial.
A produção industrial do Brasil manteve algum poder de competição na vizinhança, especialmente no Mercosul, mas também na região a atuação brasileira tem sido ameaçada pela China e por outros competidores. Novidades positivas são o reconhecimento do problema pelo governo e a promessa do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, de trabalhar pela reindustrialização. Mas falta ao investidor privado uma visão mais clara dos planos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.