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Análise: Países sul-americanos competem para integrar o Brics

22 out 2024 - 13h26
(atualizado às 14h18)

Interesse em filiar-se ao grupo das economias emergentes cresceu após a ampliação. Entre os atuais 34 candidatos, três países da América Latina se destacam, com abordagens diversas: Venezuela, Bolívia e Colômbia.Na última cúpula do Brics, em agosto de 2023, em Joanesburgo, África do Sul, o grupo dos países emergentes ganhou novos membros, convertendo-se no Brics+ com a inclusão de Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes, Etiópia e Irã. Desde então, o interesse em participar da aliança cresceu consideravelmente, com 34 países manifestando interesse.

Sob a égide de Putin: cúpula do Brics em Kazan
Sob a égide de Putin: cúpula do Brics em Kazan
Foto: DW / Deutsche Welle

Destes, 20 apresentaram solicitação formal de filiação, entre os quais Argélia, Indonésia, Tailândia, Vietnã, e mesmo a Turquia, já membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Além de benefícios materiais e maior reconhecimento político, todos esperam obter um status internacional que lhes permita desempenhar um papel mais significativo na política mundial.

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Na atual cúpula, a realizar-se de 22 a 24 de outubro de 2024, sob presidência russa em Kazan, o anfitrião Vladimir Putin se esforçará para mostrar que, apesar dos esforços do Ocidente para isolá-la, a Rússia tem muitos amigos por todo o mundo.

A reunião dos "amigos do Brics" em escala mundial pode ser um sinal de que, mais além do núcleo fundador - formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul -, diversos governos esperam do Brics+ um papel formativo na política mundial. Entre suas metas estaria escapar da dinâmica geopolítica, da conflitividade e dos regimes de sanções internacionais.

América Latina no Brics

Até agora o Brasil tem desempenhado um papel-chave ao conferir peso político ao Brics a partir da América Latina. Na cúpula de 2023, também a Argentina foi convidada a participar, porém o novo governo de Javier Milei declinou da oferta. Assim, uma vaga originalmente destinada à região está em aberto.

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Três países competem para se incorporar como membro de pleno direito: Bolívia, Colômbia e Venezuela. Chama a atenção a diferença nas formas como os respectivos governos abordaram seu desejo de adesão.

Assim como a Venezuela, para promover suas aspirações a Bolívia escolheu a via direta da cooperação com a Rússia e a China. O presidente Luis Arce aposta em matérias primas como o lítio, sobre as quais já existe uma cooperação com ambas as potências: segundo ele, isso demonstraria as vantagens da ordem mundial multipolar perante a bipolaridade.

Atualmente a Bolívia tem sérias dificuldades em dispor de dólares, razão por que considera necessário afastar-se o máximo possível da "hegemonia americana". No entanto, essa aspiração está além das possibilidades que atualmente oferece o quadro da cooperação no Brics.

Em agosto de 2023, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, anunciou que seu país solicitara formalmente o ingresso no Brics. Ele agora tenta utilizar essa perspectiva de filiação como arma na batalha para defender sua controvertida vitória nas eleições de junho de 2024.

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Assim, ameaça os Estados Unidos e "seus associados no mundo" com a entrega aos aliados do Brics dos blocos petroleiros e gasíferos em funcionamento na Venezuela, caso as autoridades americanas cometam "o erro de sua vida" de declarar como vencedor das presidenciais o candidato da oposição, Edmundo González Urrutia.

"Brics & Friends" é alternativa?

Desse modo, Maduro trata de valorizar suas reservas - as maiores petrolíferas do mundo e a quarta maior de gás natural - como recursos importantes para participar da agenda energética global e reforçar a posição internacional da Venezuela. Ele também se refere a seus recursos estratégicos no Arco Mineiro do Orinoco, necessários ao desenvolvimento da indústria tecnológica na "transição energética".

Por sua vez, a Colômbia expressou ao Brasil seu interesse em participar do Brics, esperando contar com o respaldo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em visita de Estado ao país vizinho, em 17 de abril, o mandatário brasileiro apoiou expressamente os planos de adesão do homólogo Gustavo Petro, prometendo empenhar-se para possibilitar o ingresso colombiano no grupo internacional.

Mas, apesar de tudo, as aspirações dos três Estados sul-americanos poderão cair no vazio. Atualmente os membros do Brics+ estão, antes, debatendo a consolidação da aliança ampliada, tratando de definir critérios para futuras rodadas de ampliação. No momento, os aspirantes latino-americanos poderiam assumir um posto num nível associativo mais distante: num grupo chamado "Brics & Friends", que reuniria todos os países que se veem como futuros sócios do clube emergente.

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A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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