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PIB em queda mostra resultado preliminar de ajustes econômicos; leia análise

Balanço de riscos para cenário de desaceleração deve ser pensado à luz de fatores domésticos e globais

2 mar 2023 - 17h26
(atualizado às 17h51)
Setor agrícola deve apresentar forte expansão neste ano
Setor agrícola deve apresentar forte expansão neste ano
Foto: Tiago Queiroz/Estadão / Estadão

A divulgação dos resultados trimestrais do PIB costuma ser uma boa oportunidade para afastar os ruídos e identificar o que os sinais vitais da economia nos contam. Desde meados de 2020, a norma tem sido surpresas positivas. Se, no início de 2021 esperava-se um crescimento de 3,4%, ao fim vimos a economia expandir 5%. Situação semelhante ocorreu em 2022: há um ano as projeções apontavam para uma expansão de 0,3%, mas tivemos uma expansão de 2,9%.

Identificamos uma série de fatores por trás de tais resultados. Primeiro, os efeitos da reabertura foram mais prolongados e intensos do que o esperado, provavelmente devido ao grande volume de poupança acumulada em meio à pandemia. Segundo, o ano passado foi marcado pelas repercussões de um choque positivo sobre os preços de commodities, que se traduziu em um choque de renda para a economia brasileira.

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Terceiro, na esteira de um nível de preços mais elevados, a arrecadação expressiva de impostos encorajou a adoção de uma política fiscal mais expansionista em um ano eleitoral, por meio tanto de aumento de gastos, quanto do corte de impostos.

Por fim, nos deparamos com um mercado de crédito robusto, a despeito de sucessivas elevações da taxa de juros. Por um lado, retrato da manutenção da política monetária em território expansionista por um período prolongado. Por outro, reflexo de importantes mudanças no ambiente regulatório e competitivo para o setor bancário, exemplificado pela crescente importância das chamadas fintechs.

Porém, as perspectivas para 2023 são menos auspiciosas. É bem verdade que o setor agrícola deve apresentar forte expansão neste ano. Mas, ainda que a economia global apresente crescimento robusto, projetamos uma acomodação dos preços de commodities em níveis menores, em particular na segunda metade do ano. Além disso, o aperto financeiro global deve ser mais pronunciado do que era imaginado.

Na economia doméstica, o setor de serviços já apresenta sinais de desaceleração, enquanto os dados do mercado de trabalho mostram sinais de uma virada. O espaço para novos impulsos fiscais positivos se esvaiu e as taxas de juros estão em patamares historicamente elevados em um contexto de endividamento recordes para as famílias. No lado das empresas, eventos recentes já têm contribuído para um aperto adicional das condições de financiamento.

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Embora nunca seja desejável, a desaceleração econômica é necessária. E já começou, como mostra a queda de 0,2% no PIB do quarto trimestre. O balanço de riscos para este cenário de desaceleração deve ser pensado à luz de fatores domésticos e globais. Em relação aos primeiros, é importante lembrar que a inflação continua elevada, especialmente considerando que muito da desinflação do ano passado se deveu a cortes de impostos. Já nos fatores globais, vemos bancos centrais ao redor do mundo ponderando novas elevações da taxa de juros e a manutenção delas em níveis historicamente altos para combater a inflação.

O desempenho da economia brasileira neste e nos próximos anos, portanto, dependerá das decisões de política econômica tomadas nos próximos meses - aqui e lá fora. Uma coordenação entre as políticas fiscais e monetárias para reduzir a inflação brasileira é ideal para reduzir o custo desse ajuste necessário. A promoção de medidas para impulsionar o crescimento de curto prazo pode até evitar uma recessão neste ano, mas - como a história recente do Brasil nos revelou - provavelmente, o faria ao custo de um sacrifício ainda maior no futuro./Economistas para o Brasil do J.P. Morgan

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